14/04/2015
Testes com ratos conseguiram bloquear
processo em que células do sistema imunológico consomem arginina, por
meio de droga, revertendo a perda de memória...
A doença de Alzheimer pode ter suas causas ligadas a uma anomalia no
sistema imunológico, que originalmente tem a função de proteger o
organismo de invasores externos.
A conclusão é de um novo estudo
realizado por cientistas da Universidade de Duke (Estados Unidos), que
também sugerem uma nova estratégia para o tratamento da doença.
O trabalho, publicado nesta terça-feira, no Journal of Neuroscience,
mostra que, nos indivíduos com Alzheimer, certas células do sistema
imunológico começam a consumir de forma anormal um importante nutriente,
a arginina, diminuindo a sua presença no cérebro e desencadeando a
doença.
A partir de um experimento com camundongos, os pesquisadores
mostraram que é possível bloquear esse processo com uma droga,
revertendo nos animais a perda de memória causada pelo Alzheimer.
Segundo os autores, cada vez mais evidências indicam que o sistema
imunológico tem um papel na doença de Alzheimer, mas a influência exata
ainda permanece um mistério.
No novo estudo, eles conseguiram demonstrar que a falta de arginina, um
aminoácido presente na maior parte das proteínas do organismo, afeta
diretamente a evolução da doença.
— Se o consumo de arginina é tão importante para o processo do
Alzheimer, talvez nós possamos bloquear esse consumo e reverter a doença
— disse uma das autoras do estudo, Carol Colton, da Escola de Medicina
da Universidade de Duke.
Os camundongos utilizados na pesquisa, criados há alguns anos para
permitir o estudo da doença, tiveram alguns genes alterados para que seu
sistema imunológico se tornasse semelhante ao humano. Além disso, os
animais foram desenhados para apresentar as principais características
dos portadores de Alzheimer: perda de neurônios, mudanças de
comportamento e a presença, no cérebro, de placas e emaranhados de
certas proteínas.
Ao longo da vida dos camundongos, a equipe de cientistas procurou por
anomalias imunológicas e constatou que a maior parte dos componentes do
sistema imune não apresentava mudanças quantitativas.
A exceção foi um
tipo de célula imunológica conhecido como micróglias — que geralmente
são as primeiras células a responder à doença de Alzheimer. Isolando
essas células e analisando sua atividade genética, os cientistas
observaram um aumento na expressão dos genes associados à supressão do
sistema imunológico - isto é, que diminuem sua atividade.
— Isso é surpreendente porque a supressão do sistema imune não é o
que pensávamos acontecer na doença de Alzheimer — disse o autor
principal do trabalho, Matthew Kan, pós-doutorando do laboratório de
Colton.
De acordo com ele, antes do estudo os cientistas pensavam que
acontecia justamente o contrário: o cérebro deveria liberar moléculas
envolvidas com a construção do sistema imunológico, que deveria
exacerbar sua ação, danificando o cérebro.
Com a modificação na
micróglia, os pesquisadores verificaram um grande aumento da presença de
arginase — uma enzima que quebra as moléculas de arginina — nas regiões
cerebrais envolvidas com a memória, nas mesmas áreas onde havia morte
de neurônios.
Segundo eles, com a aumento da arginase, a micróglia consome uma
quantidade exagerada de arginina. Os cientistas bloquearam a ação da
arginase usando uma droga conhecida como DFMO, antes da manifestação dos
sintomas nos camundongos. Eles observaram então uma redução das
modificações na micróglia e do desenvolvimento de placas nas proteínas
cerebrais. Além disso, os camundongos se saíram melhor em testes de
memória.
— Tudo isso sugere que se nós conseguirmos bloquear esse processo
local de privação de arginina, podemos proteger — os ratos, pelo menos —
da doença de Alzheimer — disse Kan.
O DFMO foi sintetizado há 20 anos e tem sido estudado em testes
clínicos com humanos para o tratamento de alguns tipos de câncer. Mas a
droga ainda não havia sido testada como potencial terapia para o mal de
Alzheimer.
No estudo, o grupo de Colton administrou a droga antes do
aparecimento dos sintomas. Agora, eles pretendem estudar se o DFMO pode
tratar as consequências do Alzheimer antes que elas apareçam. Segundo
Colton, embora tenha sido constatado que a carência de arginina está
ligada à doença de Alzheimer, a ingestão de suplementos do aminoácido
não é uma alternativa para a prevenção.
De acordo com ele, uma densa malha de células e vasos sanguíneos
determina a quantidade de arginina que entra no cérebro. Assim, mesmo
que um paciente coma mais arginina, nada garante que ela vá se
direcionar aos locais do cérebro que precisam do aminoácido.
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