23 de Fevereiro de 2014
O estresse provoca reações e respostas diferenciadas em vários órgãos
do corpo. São reações com componentes psicológicos, físicos, mentais e
hormonais. Agora imagine se estressar todos os dias, seja no trânsito,
em casa, no trabalho...
No sistema cardiovascular, o estresse, além de poder causar infartos,
provoca o aumento da frequência cardíaca, das contrações do coração e da
pressão arterial. Eleva também os níveis de gordura no sangue —
triglicerídeos e colesterol.
Nas situações estressantes, uma boa
dose de adrenalina é liberada pelo organismo, causando taquicardia e
suor excessivo. Trata-se do hormônio responsável por acelerar o nosso
ritmo corporal.
Ao atingir o sistema neurológico, o hormônio
ACTH gera sensações como ansiedade e fracasso iminente. Já os derivados
do hormônio cortisol têm ação sedativa e causam uma sensação constante
de depressão. Já o excesso dele é capaz de causar distúrbios do sono,
perda da libido e do apetite.
Já o sistema imunológico reage ao
estresse com uma superatividade, o que pode resultar no desencadeamento
de doenças autoimunes — lúpus, psoríase, diabetes tipo 1, esclerose
múltipla, artrite reumatóide, entre outras — ou agravamento delas.
De
acordo com a Associação Internacional do Controle do Estresse (Isma),
estudos científicos comprovam que o nível de estresse e o estilo de vida
determinam 60% das doenças. Mas as principais associadas ao mal são
diabetes, depressão, enxaqueca e dislipidemias.
Muitos dos
nossos órgãos mudam seu estado fisiológico ao perceber os primeiros
sinais de estresse; coração, rins, estômago, sistema reprodutivo, além
dos músculos.
O estômago e o intestino também apresentam reações
em situações estressantes. É aquele velho “frio na barriga”. Afinal,
quem nunca ouviu alguém falar “meu estômago deu um nó” diante de
momentos tensos? Isso acontece porque o trato gastrointestinal possui um
sistema nervoso próprio. Trata-se do Sistema Entérico, formado por
células nervosas e neurônios ligados diretamente ao sistema nervoso
central e ao cérebro.
Terapias complementares
O
médico e professor universitário Jorge Boucinhas comenta fazerem parte
da abordagem terapêutica contra o estresse a psicoterapia, medicamentos
ansiolíticos e antidepressivos. Porém, de acordo com ele, a chamada
Medicina Complementar tem ganhado cada vez mais espaço. A procura por
algumas técnicas tem crescido bastante. Segundo ele, a acupuntura
chinesa, a constitucional e a auriculoterapia oferecem resultados
excelentes para equilibrar o indivíduo psiquicamente, sem apresentar
efeitos colaterais, como a redução dos reflexos. “O que é algo bem
importante quando se trata de dirigir em trânsito pesado, que exige
muito reações rápidas.”
Boucinhas ressalta também os bons resultados obtidos no uso de
homeopatia e florais. “Lastimavelmente na Fitoterapia o uso de plantas
medicinais tranquilizantes pode ajudar a reduzir as tensões emocionais,
mas pode reduzir os reflexos quase tanto quanto os remédios
alopáticos.”
Marcando território
Jorge Boucinhas faz
uma análise entre a tensão no trânsito e a noção de “espaço corporal”,
traçando um paralelo entre as reações nos engarrafamento e o
demarcamento territorial, característico de muitos animais.
“Os
indivíduos que vivem em aglomerações urbanas têm que aprender a se
acomodar, de forma relativa, a isto. Não obstante, no trânsito, em que
já existe, inerente, um certo grau de risco gerador de estresse, as
reações anti-sociais tornam-se mais difíceis de controlar e os impulsos
agressivos vêm à tona mais facilmente”, comenta o médico, especializado
em terapias complementares.
Em sua análise, algumas pessoas, por
questões de educação mesmo, se alteram com mais facilidade que outras
quando estão ao volante.
E o responsável por as reações mais
agressivas é o hormônio cortisol. Jorge Boucinhas afirma ser fundamental
para a manutenção da vida, na regulação geral do metabolismo, na tensão
arterial e nas respostas imunológicas. “Mas, se produzido em excesso,
leva ao aumento do nível de hostilidade interpessoal e ao desgaste
acelerado das funções corporais.”
Ele observa que praticamente
todos os motoristas consideram o automóvel uma extensão de seu próprio
corpo, e se sentem ameaçados pela proximidade de outros carros, tal qual
animais protegendo seu território. “Dirigir transforma-se em estado
quase permanente de tensão.”
A prática de meditação e ioga, por
trabalharem a respiração e o alongamento corporal, também costumam
apresentar resultados positivos.
DEPOIMENTOS
“Estressa muito. Sinto isso diariamente,
principalmente aqui neste setor (Hermes da Fonseca, próximo ao Hotel
Tirol), neste percusso; porque ele fica engarrafado desde lá da AABB até
a Igreja Universal, todos os dias.”
Nerival F. De Araújo, advogado
“Cara,
isso tá comparado a Recife ou pior. Aqui era mais tranquilo. Venho todo
mês a Natal, trabalhar; mas tinha uma facilidade de mobilidade muito
grande em Natal, principalmente por serem as avenidas muito grandes.
Agora, de um tempo para cá, está muito complicado. E para uma cidade
sede da Copa, eu quero ver como é que vai ficar isso. Gera estresse
demais, ansiedade, você fica mais nervoso e você descarrega isso
justamente no seu trabalho. Só para ter um exemplo, eu estava aqui no
hotel, na segunda quadra, e estou há vinte e cinco minutos para chegar
no Midway; um trajeto de duzentos metros.”
Manoel Antônio, representante comercial
“Por
enquanto está tudo fluindo bem. Por enquanto a gente não recebeu nenhum
estresse não. Mas tem dias bem piores. Gera bastante estresse para a
nossa profissão, bastante.”
Nalmir, agente de trânsito da Semob