30/05/2012
Ter Esclerose Múltipla não é impedimento para Liege levar uma vida normal.
A virada do ano de 2008 para 2009 marcou a vida de Liege Freitas. Um surto fez com que ela perdesse a coordenação do lado direito do corpo. De repente, ela já não conseguia mais caminhar sem ajuda.
Assim como o surto veio, ele foi embora e ela ficou sem saber direito o que tinha até julho de 2010, quando finalmente um médico confirmou o diagnóstico de Esclerose Múltipla. Hoje com 24 anos, formada em Jornalismo, a jovem faz campanha entre os amigos para ampliar a conscientização acerca da doença que atinge o sistema nervoso central e afeta 30 mil pessoas no Brasil, principalmente adultos com idade entre 20 e 40 anos.
— Quando o médico disse o que eu tinha, minha mãe começou a chorar. Eu não sabia muito bem o que isso ia mudar na minha vida — conta Liege.
O impacto no cotidiano é uma carga diária de cuidados, estar sempre com a medicação a tiracolo em viagens, ter que explicar o que tem sempre que alguém está com ela na hora da injeção, ficar atenta aos sinais do corpo e às vezes ter que ir ao médico por causa disso. Nem por isso ela abandona seus sonhos nem deixa de fazer o que gosta. Tanto que, em agosto, vai começar um curso de fototgrafia longe de casa, em São Paulo.
— Ter Esclerose Múltipla não me impede de ir à balada, beber com meus amigos, viajar, paquerar e me divertir, mas sempre com bom senso e respeitando meus limites — ensina.
No entanto, de acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem), apenas 5 mil pacientes recebem o tratamento adequado para a doença no país. A superintendente da Abem, Suely Berner, explica que muitas vezes as pessoas não procuram um médico por uma dor de cabeça, formigamento ou tontura:
—Há um descaso com esses sintomas, mas quando se tornam recorrentes, o ideal é procurar um neurologista.
Para reforçar a importância do diagnóstico precoce, é celebrado nesta quarta-feira, 30 de maio, o Dia Mundial da Esclerose Múltipla. A doença é autoimune, degenerativa e de caráter crônico, por isso, quanto antes for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, menor o seu efeito e as sequelas a longo prazo.
Suely explica que cada paciente tem um metabolismo e deve ser medicado de forma diferente conforme a manifestação do problema. Porém, uma crise, mesmo pontual, significa que a doença já atingiu o cérebro há algum tempo e pode causar danos irreversíveis.
Apesar da cura ainda não ter sido descoberta, o paciente deve levar uma vida normal e se manter positivo, praticando exercícios e se alimentando corretamente, o que pode desacelerar o desenvolvimento da doença.
Sobre a doença
A EM é uma doença neurológica crônica, de causa ainda desconhecida, com maior incidência em mulheres e pessoas brancas. Segundo o neurologista brasiliense Éber Castro, o mal atinge mais o continente europeu, onde há uma proporção de 100 pacientes por 100 mil habitantes. No Brasil, essa relação cai para 18 por 100 mil habitantes. A enfermidade leva à destruição das bainhas de mielina, que recobrem e isolam as fibras nervosas (estruturas do cérebro pertencentes ao sistema nervoso central), alterando funções básicas como os movimentos, equilíbrio, fala ou paladar.
Cada paciente pode apresentar um tipo diferente de manifestação da doença, mas os principais sintomas são dor de cabeça constante, formigamentos, alterações na fala, fadiga e transtornos cognitivos, como tontura ou perda de memória.
Embora ainda não haja uma cura para a EM, os diferentes tratamentos buscam reduzir a atividade inflamatória e os surtos, que podem acarretar danos irreversíveis. No entanto, a medicação continuada aliada à consultas periódicas ao neurologista controlam a doença e garantem uma vida praticamente normal ao paciente.
As causas que levam uma pessoa a desenvolver o mal são quase que desconhecidas.Porém, conforme explica a presidente da Sociedade de Esclerose Múltipla de Brasília (SEMB), Elizabeth Tozetti, ainda não se diz que ele possa ser hereditário.