23 abril 2015
Em artigo, especialistas defenderam que a alimentação, e não o exercício, é a chave para combater a obesidade.
A atividade física tem um papel relativamente pequeno no controle do peso e a atenção de políticas públicas contra a obesidade deveria estar na qualidade da alimentação.
É o que defende um artigo assinado por médicos em uma publicação científica britânica.
"A atividade física regular reduz o risco de desenvolver doenças
cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e algumas formas de câncer
em até 30%", escrevem pesquisadores no British Journal of Sports
Medicine.
Eles querem desfazer o que chamam de "mitos" sobre exercício e
obesidade. "A atividade física não promove a perda de peso", argumentam.
O texto, assinado por três especialistas da Grã-Bretanha, Estados
Unidos e África do Sul, põe a culpa do problema da obesidade no alto
consumo de açúcar e carboidratos nas dietas modernas.
E ataca a
indústria alimentícia por incentivar a percepção equivocada de que o
exercício possa compensar os efeitos negativos da má alimentação.
"A Coca-Cola, que gastou US$ 3,3 bilhões em publicidade em 2013,
empurra a mensagem de que 'toda caloria vale'; eles associam seus
produtos com o esporte, sugerindo que é tudo bem consumir suas bebidas
desde que você se exercite", escrevem.
"A ciência nos diz que isto é enganoso e equivocado. O que é crucial é a
origem das calorias. As calorias do açúcar promovem depósitos de
gordura e fome. As calorias da gordura promovem saciedade", afirmam.
Mau hábito
Os cientistas dizem que até 40% dos indivíduos com peso considerado
normal enfrentarão anormalidades metabólicas associadas com a obesidade
por causa de hábitos alimentares inadequados.
Também observam que a
obesidade representa "apenas a ponta do iceberg" dos efeitos adversos da
má alimentação na sociedade.
"Segundo o relatório sobre o peso global
das doenças da (publicação científica) Lancet, uma dieta pobre já gera
mais doenças que a inatividade física, o álcool e o fumo juntos."
Para o cardiologista Aseem Malhotra, da Academy of Medical Royal
Colleges, na Grã-Bretanha – um dos médicos que assinam o artigo – "uma
pessoa obesa não precisa fazer nenhum exercício para perder peso, só
precisa comer menos".
"Minha maior preocupação é que a mensagem que está
sendo transmitida ao público sugere que você pode comer o quanto
quiser, desde que se exercite.
Isto não tem base científica. Você não
pode compensar os efeitos de maus hábitos alimentares fazendo
exercício", disse.
'Pouco científico'
Mas para outros médicos, minimizar a importância do exercícios físico é
arriscado. Mark Baker, do Instituto Nacional de Saúde e Excelência do
Tratamento, recomenda "uma dieta equilibrada em combinação com a
atividade física". Para ele, seria uma "idiotice" abrir mão de uma coisa
ou de outra.
A federação britânica de comidas e bebidas disse que "os benefícios da
atividade física não são uma moda ou conspiração da indústria".
"Um
estilo de vida saudável deve incluir tanto uma dieta equilibrada quanto
exercício físico", afirmou uma porta-voz.
A indústria diz que se compromete com esse objetivo ao incluir
informação nutricional nas embalagens e oferecer alimentos com menor
teor de sal, açúcar e gordura.
"Esse artigo parece questionar a raiz de
recomendações oficiais para o consumidor que se baseiam em fatos",
atacou a porta-voz. "Isso cria confusão."
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