CASO PERDIDO,HOMEM SE RECUPERA DE CÂNCER COM CÉLULAS-TRONCO

25 de novembro de 2011

 

Após ser considerado um "caso perdido" pelos médicos, um homem de 36 anos que lutava contra um câncer na traqueia conseguiu a cura e vive uma vida normal graças a um transplante a partir de células-tronco. O método, desenvolvido por cientistas da Suécia que conseguiram criar, pela primeira vez, um órgão a partir de células-tronco, foi publicado na edição de quinta-feira da revista científica The Lancet. As informações são do jornal El País

 O câncer pode desaparecer? Veja curiosidades sobre a doença


 

1 O câncer pode desaparecer por conta própria?

De acordo com o médico José Alexandre Barbuto, pesquisador do Departamento de Imunologia da USP, isso pode acontecer quando o sistema imunológico do indivíduo resolve 'comprar a briga contra a doença'. Segundo ele, a descoberta levou cientistas a desenvolverem o tratamento pelo sistema imunológico, como as vacinas.

O especialista explica que a célula cancerígena sofreu alterações no processo de divisão (crescendo de forma desordenada). Na maioria dos casos, ela é reconhecida como uma célula normal, mas quando o sistema imunológico percebe que houve alguma alteração, ele pode comprar a briga e eliminar a célula. Isso normalmente ocorre quando há um desequilíbrio, como uma infecção na região do tumor, que faz com que o organismo 'enxergue o câncer' e crie mecanismos de autodefesa para combatê-lo.

'Isso não é uma coisa nova, no fim do século 19, William Coley percebeu que alguns pacientes que tinham registro de infecção no local do câncer conseguiam regredir a doença. Ele constatou que o sistema imune percebia o câncer', afirma o pesquisador. Segundo Barbuto, a partir deste estudo, Coley desenvolveu uma toxina (Toxina de Coley) para tratar a doença. Mas ela não curou os outros casos, porque o que ele não previa é que cada organismo reagiria de uma forma à doença. 'O câncer é único, diferente em cada organismo', explica.

Uma pesquisa da Associação Médica Americana com base em dados de pacientes com câncer de mama e de próstata acompanhados por 20 anos apontou que alguns tumores simplesmente desapareceram do organismo. O estudo, divulgado em 2009, mostra que o câncer não é um processo totalmente linear, que a atuação do sistema imunológico pode 'destruir ou abastecer um tumor'. Mas, embora em alguns casos a doença possa desaparecer por conta própria, o professor da USP afirma que isso é muito raro. 'É um fenômeno extremamente difícil de acontecer, ninguém pode parar o tratamento por causa dessa possibilidade mínima', alerta Barbuto.


2 Como o câncer se desenvolve?
O professor da USP explica que, em casos normais, as células se dividem à medida que organismo precisa. 'Falando de forma genérica, o organismo manda um sinal para a célula, pelo fator de crescimento. Quando a célula recebe esse sinal, ela ativa os genes do núcleo que promovem a divisão. No câncer, esse controle da divisão se perde, a célula passa a se multiplicar de forma desordenada'.

Com essa divisão sem controle, as novas células podem assumir características que não têm nada a ver com o lugar do corpo onde estão, ou ainda cometer o erro de invadir outros órgãos durante o processo. Assim nasce o tumor.

De acordo com José Alexandre Barbuto, professor da USP, um tumor pode ser benigno ou maligno. Benigno é quando a célula perdeu o controle de divisão, mas ainda não invadiu outros tecidos - ela cresce no mesmo local de origem e de forma mais lenta. O tumor maligno (câncer) ocorre quando as células se multiplicam de forma mais rápida e adquirem a capacidade de invadir outros tecidos. O médico explica que tumores malignos são mais agressivos, mas é preciso tomar cuidado: 'em alguns casos, tumores benignos podem ser mais prejudiciais, por exemplo, quando crescem em regiões onde não há espaço, como no cérebro'.


3 Quando foram descobertos os primeiros casos de câncer?
O médico e pesquisador José Alexandre Barbuto explica que há relatos da doença desde a Antiguidade. 'Na Grécia antiga já se falava de câncer, o conhecimento da doença é tão antigo quanto a medicina, porém esse conhecimento não era tão difundido porque as causas das mortes eram atribuídas a outros fatores'.

O professor também afirma que a palavra 'câncer' tem origem latina e significa 'caranguejo'. Isso porque o câncer apresenta projeções semelhantes aos tentáculos do caranguejo que atacam as células vizinhas. 'Ele invade os outros tecidos, vai se grudando e criando raízes1, diz Barbuto.

4 Qual é o tipo de câncer mais agressivo?

De acordo com a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Mariana Michalowsky, a agressividade de um câncer pode se medir de várias formas. 'Os linfomas de Burkitt, por exemplo, são graves porque crescem muito rapidamente. O tumor de esôfago, porque tem capacidade de invadir localmente. Outros, porque causam metástase. O importante mesmo é fazer o disgnóstico precoce, asssim todos podem ser tratados', afirma a médica.

Na opinião do pesquisador da USP José Alexandre Barbuto, o câncer que se desenvolve no sistema nervoso central, chamado de glioblastoma, está entre os mais agressivos registrados pela medicina. Tudo porque ele se desenvolve em uma região da cabeça em que não há espaço para que cresça. Outra dificuldade é que este tipo de tumor responde muito mal aos tratamentos convencionais - quimioterapia e radioterapia. A boa notícia é que é raro.

Barbuto também cita o câncer de pâncreas como um dos mais agressivos, também por responder mal ao tratamento convencional. 'A melhor alternativa para curar é a cirurgia. Mas normalmente quando se percebe o tumor, ele já está em um estágio muito avançado e a cirurgia não resolve mais'. Segundo o especialista, os sintomas demoram muito para aparecer e, quanto mais demorado o diagnóstico, fica mais difícil tratar.

5 Quantos tipos de câncer existem? Qual o mais comum? E o mais raro?

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 100 tipos da doença já foram registrados no mundo. O pesquisador José Alexandre Barbuto cita entre os mais raros aqueles que atingem os músculos e os vasos sanguíneos. Para a professora Mariana Michalowsky, tumores que atingem crianças também estão nessa categoria.

Já entre os mais comuns estão os de pulmão, mama, colo de útero, intestino, próstata e os linfomas. O Inca estima que, somente em 2011, 27 mil brasileiros serão diagnosticadas com câncer de pulmão, o tipo que mais mata homens no País. Entre as mulheres, o mais mortal é o câncer de mama, seguido pelo câncer de colo de útero.

 
6 Por que normalmente quando os sintomas aparecem a doença já está em estágio avançado?
Isso ocorre porque, em muitos casos, o tumor cresce sem atrapalhar as funções do organismo. O médico José Alexandre Barbuto explica que, dependendo da localização do tumor, os sintomas podem aparecer nos estágios iniciais. 'No pâncreas, por exemplo, se o tumor se desenvolver na região da 'cabeça', afeta a bile e a pessoa percebe logo. Quando se desenvolve na região da 'cauda', demora muito para aparecer um sintoma'.

O especialista diz que, em muitos casos até mesmo os médicos não percebem a doença. 'O câncer de próstata, por exemplo, cresce quietinho, e se confunde com o crescimento benigno da próstata', afirma ao explicar que esse crescimento é normal em homens com mais de 50 anos.

A médica Mariana Michalowsky destaca outro problema: muitos tumores não geram sintomas específicos - como um sangramento digestivo, por exemplo - que indiquem às pessoas que é necessário procurar um especialista para a busca por um diagnóstico.

 
7 O câncer é hereditário?
Em geral, o câncer não é hereditário. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), existem alguns casos raros que são herdados, tal como o retinoblastoma, um tipo de câncer de olho que atinge crianças. No entanto, existem alguns fatores genéticos que tornam as pessoas mais sensíveis ao câncer, o que explica por que algumas delas desenvolvem a doença e outras não.

'Se a mãe teve um câncer de mama, por exemplo, a filha tem 50% de chances de ter células com o mesmo defeito. No entanto, isso não significa que ela vai desenvolver a doença, porque depende de vários outros fatores, mas o fator genético aumenta a probabilidade', explica o pesquisador da USP José Alexandre Barbuto.

Alguns tipos de câncer estão associados à família. Como o câncer de mama: mulheres que já têm na família esse histórico têm mais chances de apresentarem o mesmo problema. Já os que aparecem na infância geralmente não estão associados aos fatores familiares.

 


8 Qualquer pessoa pode desenvolver o câncer?

Sim, mas a maioria dos casos acontece entre adultos de meia idade ou mais velhos. Outros fatores, além dos genéticos e da idade, também influenciam no desenvolvimento da doença.

Segundo a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Mariana Michalowsky, 'todos nós estamos sujeitos à doença', mas ela explica que a maior parte dos tumores em adultos se desenvolve por causa dos fatores de risco, como o fumo.

Levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta que os fumantes têm uma chance dez vezes maior de desenvolver o câncer de pulmão quando comparados aos que não fumam. E, de acordo com o pesquisador da USP José Alexandre Barbuto, ainda existem outros fatores de risco, como a exposição excessiva ao sol, contato com pesticidas e radiação, por exemplo. Doenças congênitas, como a síndrome de Down, e uma alimentação rica em gorduras também aumentam o risco.
 



9 Qual a diferença entre quimioterapia e radioterapia? Por que o cabelo cai?

São dois tipos de tratamento para o câncer que podem ser feitos de forma isolada ou combinados. De acordo com o professor e pesquisador da USP, José Alexandre Barbuto, em alguns casos pode ser empregada apenas a radioterapia, mas para evitar que o câncer se espalhe pelo corpo é preciso combinar o tratamento com a quimioterapia.

Na radioterapia, os médicos utilizam radiações para destruir um tumor ou impedir que suas células aumentem. Essas radiações não são vistas e durante a aplicação o paciente não sente nada. Segundo Barbuto, a radiação atua no local onde está o tumor e contribui para diminuir o seu tamanho, o que alivia a pressão, reduz hemorragias, dores e outros sintomas.

Já a quimioterapia é composta por medicamentos que têm a função de destruir as células defeituosas que formam o tumor e impedir que elas se espalhem, provocando a metástase. Os medicamentos são aplicados normalmente com injeções, mas também pode ser por via oral, e não causa dor. Por outro lado, o tratamento provoca fraqueza, enjoos, perda de peso e queda de cabelo.

De acordo com a médica Mariana Michalowsky, a quimioterapia tem dois efeitos: o bom, pois destrói o câncer, e o ruim, porque também acaba com células normais do corpo que estão se multiplicando. 'Como o cabelo está sempre crescendo, é afetado, assim como a mucosa oral e a medula óssea, que produz o sangue'. Isso explica porque, além de perder o cabelo, os pacientes normalmente têm feridas na boca e anemia.

 


10 O desenvolvimento de uma vacina poderia acabar com o câncer?

José Alexandre Barbuto desenvolve pesquisas na USP para criação de uma vacina que impeça a formação de alguns tipos de câncer, mas ele afirma que não tem como criar uma receita única que acabe com todos os tipos da doença. 'O objetivo da vacina é tentar fazer o sistema imunológico comprar a briga com o tumor. Porém, sozinha ela não consegue dar conta de todos os casos'.

Ele explica que já existem terapias que ajudam a evitar a doença, como a vacina contra a hepatite B, que impede o desenvolvimento do câncer de fígado. 'Com a vacina, cai muito a incidência deste câncer, mas não são todos os tumores que podem ser eliminados. Nenhuma vacina é capaz de impedir isso'.

Barbuto acredita que, no futuro, o tratamento para a doença não estará ligado somente a uma vacina, mas à combinação de vários fatores. 'O tratamento vai ser individualizado. Vou analisar a célula e dizer qual o problema. Assim, faço o tratamento sob medida, que será diferente para cada paciente'. A médica Mariana Michalowsky concorda: 'Hoje pegamos uma metralhadora para destruir uma formiga. A tendência é que o tratamento seja mais individual e menos pelo diagnóstico em grupo', afirma.

 


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