INCOR REALIZA PRIMEIRO TRANSPLANTE DE PULMÃO COM ÓRGÃO QUE PASSOU POR PROCESSO DE REGENERAÇÃO

12/03/2012

Cirurgia inédita.

Com a nova técnica, médicos esperam dobrar o número de transplantes, reduzindo o tempo de espera por um órgão.

Matheus de Moura, 31 anos, é a primeira pessoa na América Latina a receber um transplante de pulmão com órgão que passou por um processo de regeneração. O transplante foi realizado na manhã do último dia 2, no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em São Paulo.

O transplante foi feito pelos médicos Fábio Jatene, cirurgião e coordenador do Programa de Transplante de Pulmão do InCor, e Paulo Pego, cirurgião e coordenador do Projeto de Recondicionamento Pulmonar do Programa de Transplante de Pulmão do InCor.

Moura é portador de uma doença chamada fibrose pulmonar, que causa endurecimento dos pulmões. Em entrevista à Agência Brasil, Jatene explicou que, no caso de Moura, a doença afetou os vasos do pulmão. Esse pulmão endurecido fica menor, mais pesado e com dificuldade para encher e esvaziar o ar.

Em casos de fibrose pulmonar ou de enfisema pulmonar avançado, a saída geralmente é o transplante. O problema é que o procedimento é um dos mais complexos a serem realizados, já que o pulmão é um órgão difícil de ser captado.

— Em nossa experiência, conseguimos aproveitar de 5% a 10% dos pulmões dos doadores. Esse é um dado ruim porque outros órgãos se aproveitam muito mais, como rim, fígado e até coração. Pulmão se aproveita pouco porque ele tem uma série de condições: ele está aberto para o meio exterior e sujeito a contaminações — explica.


Regeneração

Segundo Jatene, quando ocorre a morte encefálica, o paciente é entubado, fazendo com que os pulmões passem a acumular muito líquido, o que é chamado de edema pulmonar ou congestão pulmonar. E isso atrapalha o funcionamento do pulmão. A técnica de regeneraçãodo pulmão foi idealizada para retirar esse excesso de líquido do órgão.

A captação é feita da mesma maneira que no transplante convencional. O que muda é que, na técnica antiga, depois de feita a captação, o órgão era colocado numa cuba (recipiente) e depois transplantado. Agora, instalam-se "tubinhos" no órgão, que permitem que o líquido circule. Só depois ele pode ser transplantado.

A expectativa dos médicos é que, com essa técnica de regeneração do pulmão, um maior número de órgãos possa ser aproveitado para o transplante. A fila de espera por um pulmão no InCor é de cerca de 80 pessoas. Jatene prevê que, com a nova técnica, a média atual de intervenções, de cerca de 30 transplantes por ano, possa ser duplicada. A expectativa é conseguir aumentar de 50% a 100% o número de transplantes realizados.

O paciente que passou pelo transplante no início do mês segue em recuperação. A previsão é de que ele fique mais alguns dias na UTI e depois mais uma ou duas semanas no quarto. Quando for para o quarto, Moura precisará fazer caminhadas, exercícios fisioterápicos e recondicionamento. Ele vai ter retornos periódicos e próximos para controlar os aspectos relacionados à rejeição e à infecção.

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