09/03/2012
Cadeirante José Domingues é o primeiro do país a incluir categoria A na CNH.
Triciclo especial foi batizado de 'Biga' e atinge até 80 km/h.Veículo tem alavancas para baixar plataforma e travas que prendem cadeira..
Cadeirantes que buscam meios rápidos de locomoção nas cidades já podem  ter acesso a uma alternativa ao carro e ao transporte coletivo. Um  triciclo especial, produzido por uma fábrica em Mato Grosso do Sul,  permite que deficientes físicos com membros inferiores sem mobilidade  ou amputados tirem habilitação na categoria A, que inclui motos e  triciclos.
  Na última quarta-feira (7), o carioca José Henrique Domingues, de 59  anos, tornou-se o primeiro no estado a fazer a inclusão dessa categoria  na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), segundo o Departamento  Estadual de Trânsito (Detran-MS). A bordo do triciclo especial, ele foi  aprovado no exame prático realizado no pátio do órgão, em Campo Grande.
  Domingues, que mora no Rio de Janeiro e trabalha como técnico em  contabilidade, conta que é cadeirante há quatro anos, desde que começou a  ter complicações por causa da Esclerose Múltipla. No ano passado,  depois de ler sobre o triciclo especial, ele decidiu tirar a habilitação  no Rio de Janeiro, mas esbarrou na desinformação.
Cadeirante não perdeu pontos na prova prática.
  "Cheguei ao Detran do Rio, mas lá ninguém sabia como aplicar as provas.  Diziam que não tinha jeito. Juntei várias informações sobre o triciclo e  protocolei um processo, aguardei quatro meses e não me deram resposta  até hoje. Aí decidi viajar até Campo Grande para comprar o triciclo e  tirar a carteira", relata.
  O Detran de Mato Grosso do Sul é o único a dispor de um centro de  formação de condutores voltado aos deficientes físicos, de acordo com o  órgão. As aulas teóricas podem ser feitas em centros convencionais, e as  aulas práticas nas categorias A e B são oferecidas de graça pelo  departamento. O centro possui automóveis adaptados e um triciclo  especial do mesmo modelo que foi adquirido por Domingues.
Isso vai beneficiar muita gente, porque é chato depender dos outros para tudo"
  "Ele começou como todo aluno, com dificuldades no início, achando que  não daria conta. Agora ele está aí, aprovado", diz o instrutor.
  O examinador Sílvio Ângelo da Silva, que acompanhou as manobras do  cadeirante no dia da prova, disse que ele não perdeu nenhum ponto  durante o percurso. "Ele fez passagem de nível, conversão, obedeceu aos  semáforos e às placas, trocou de pista, tudo de forma correta", afirmou.
  Após saber do resultado, Domingues disse esperar que outros cadeirantes  como ele possam tirar a CNH da categoria A. "Isso vai beneficiar muita  gente, porque é chato depender dos outros para tudo. Agora vou poder ir  sempre que quiser à praia, ao centro da cidade."
Velocímetro e indicador de nível de combustível
  Características
O nome de "batismo" do triciclo é Biga, e o visual remete aos carros de combate usados na Antiguidade. O motor importado de 100 cilindradas pode desenvolver velocidade nominal de 80 km/h, mas o manual recomenda que o condutor trafegue em segurança a no máximo 60 km/h. O câmbio automático é composto por três marchas à frente e uma à ré, que são indicadas por luzes no painel.
  A aceleração fica no punho direito, e os dois manetes acionam os  freios. O manete esquerdo possui ainda um mecanismo que ativa o freio de  estacionamento. Velocímetro, indicador do reservatório de combustível e  buzina ficam no guidão. A capacidade do veículo é para apenas uma  pessoa.
  O cadeirante não precisa de auxílio de terceiros para usar o triciclo  especial. Uma alavanca faz com que a plataforma seja rebaixada ao nível  do chão, e corrimãos servem de apoio para subir ou descer do veículo.  Travas garantem que a cadeira de rodas não se movimente durante a  condução do triciclo. De acordo com a fabricante, o preço do produto é  de R$ 15 mil.
Preparação para o exame consumiu 26 aulas práticas.
  Como um veículo zero
Segundo o idealizador e fabricante Oraci Silva da Costa, a ideia começou a sair do papel há cinco anos, quando ele se aposentou como professor de ensino industrial. O amplo conhecimento sobre mecânica e a paixão por motocicletas somaram-se à intenção de desenvolver veículos especiais. Desde então já foram comercializadas 13 unidades, sempre sob encomenda.
  As peças não são reaproveitadas de outros veículos. "É o único triciclo  do país totalmente projetado, diferentemente de outras motocicletas  adaptadas para cadeirantes", explica Costa. A vantagem, segundo ele, é  que o triciclo sai da linha de montagem com o Registro Nacional de  Veículos Automotores (Renavam). "É como um carro zero quilômetro que se  compra em uma loja", afirma.




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