04/03/2013
Paulo Brofman, cardiologista da PUC do Paraná, observa as células-tronco que serão utilizadas para o tratamento.
A técnica ainda está em
fase de testes, mas os primeiros pacientes relatam uma redução
significativa da dor seis meses após o procedimento.
Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
estão desenvolvendo uma técnica pioneira no Brasil para o tratamento da
artrose no joelho: injeções de células-tronco retiradas do próprio
paciente e cultivadas em laboratório. O procedimento, que está passando
pelo primeiro teste clínico, já foi realizado em seis pacientes, de um
total de dez autorizados a participar do teste. Para os pesquisadores, o
uso dessa nova técnica pode postergar ou até evitar o uso de próteses
no joelho, tratamento mais comum para a doença.
A artrose é uma doença degenerativa que atinge as articulações,
provocando lesão ou desgaste da cartilagem. Ela pode ocorrer em
decorrência de trauma ou pelo envelhecimento, geralmente a principal
causa: estima-se que a doença afete 70% da população com mais de 60
anos. "Atualmente a medicina consegue fazer com que as pessoas tenham
uma longevidade maior, então a incidência dessas doenças tende a
aumentar", afirma Alcy Vilas Boas, ortopedista do Hospital Marcelino
Champagnat e integrante do grupo de pesquisadores.
O tratamento mais utilizado para a artrose de joelho é a colocação de
prótese. O ponto negativo é que esse implante também sofre desgaste com o
tempo, e é preciso trocá-lo periodicamente. "Pacientes com 60 anos hoje
em dia ainda estão muito ativos, trabalhando e participando de
atividades sociais, o que aumenta o desgaste da prótese. Em pacientes
mais jovens ela dura de 8 a 10 anos, mas em pacientes com mais de 70
anos ela já tem uma duração maior", explica Vilas Boas.
Outra técnica já existente é a cirurgia de microfratura. Desenvolvida
nos anos 80, nos Estados Unidos, ela consiste na criação de pequenos
buracos no osso próximo à cartilagem danificada, a fim de liberar as
células-tronco presentes na medula óssea, para que elas promovam a
regeneração da cartilagem. Esse tratamento, porém, é mais indicado para
lesões menores na cartilagem, pois o número de células-tronco liberadas é
pequeno.
A técnica que está sendo desenvolvida no Núcleo de Tecnologia Celular
da PUC-PR também envolve o uso de células-tronco, mas são utilizadas
células de melhor qualidade e em maior número, de forma que o tratamento
tem potencial para apresentar um resultado também melhor.
Procedimento — As células utilizadas no tratamento são
as células-tronco mesenquimais, células adultas com capacidade de se
diferenciar em diversos tipos de tecido. Elas são retiradas da medula
óssea do sacro, osso localizado na base da coluna vertebral. Cultivadas
em laboratório, elas proliferam — ao fim de quatro semanas obtêm-se
cerca de 100 milhões de células — e também tornam-se mais específicas, o
que garante que elas se transformem mais tarde em células de
cartilagem.
Depois desse processo as células são injetadas no joelho do paciente,
em um procedimento minimamente invasivo denominado artroscopia. O
paciente então precisa restringir a realização de atividades físicas e
de apoio de peso no joelho operado, além de fazer uma fisioterapia
específica para o tratamento, em um aparelho denominado “máquina de
movimentação passiva contínua”, na qual ele realiza movimentos de dobrar
e esticar o joelho sem forçar o músculo.
Resultados – As células levam por volta de 12 semanas
para se organizar e formar um tecido com consistência suficiente para
sustentar o peso do corpo, mas mesmo depois desse período o tecido
continua amadurecendo durante até seis meses após a cirurgia, quando
adquire resistência semelhante à cartilagem original.
Os três primeiros pacientes que participaram da pesquisa já completaram
seis meses com a aplicação das células-tronco. "Houve uma melhora de
85% na dor em relação ao pré-operatório", afirma Alcy Vilas Boas.
De acordo com o pesquisador, os dez pacientes que receberem o
tratamento serão acompanhados por um ano. Após esse período, os dados
serão analisados e os trabalhos publicados serão submetidos ao Conselho
Federal de Medicina (CFM), que determinará se o tratamento será aprovado
para uso clínico.
Paulo Brofman, cardiologista e coordenador do laboratório da PUC-PR que
está realizando a pesquisa, explica que todo estudo com células-tronco
realizado no Brasil atualmente ainda é considerado um tratamento
experimental. Os pesquisadores acreditam que os investimentos em terapia
de células-tronco e o rápido avanço da medicina podem contribuir para
mudanças nesse cenário. "Nós estamos em uma fase bem inicial, vai levar
algum tempo, mas a medicina evoluiu muito nos últimos dez anos, então em
um futuro próximo a terapia celular pode estar presente nas indicações
de tratamentos", afirma Alcy Vilas Boas.
Caso fosse aprovado hoje, o tratamento custaria cerca de 15.000 reais.
De acordo com os pesquisadores, a parte mais cara é o cultivo das
células-tronco em laboratório. "Feito em escala comercial, o preço do
tratamento cairia", afirma Paulo Brofman.
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