PESQUISADORES BUSCAM NOVOS ANTIBIÓTICOS EM BACTÉRIAS NO SOLO

14/01/2012 


Objeto de estudo feito na Unicamp, actinobactérias são produtores de metabólitos secundários, moléculas que podem dar origem a fármacos.

Na esperança de descobrir moléculas com potencial para se tornarem drogas imunossupressoras, anticancerígenas ou antibióticas, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) têm se dedicado ao estudo de um grupo de microrganismos existente no solo conhecido como actinobactérias.

A professora do Instituto de Química Luciana Gonzaga de Oliveira, coordenadadora da pesquisa, explica que as bactérias existentes no solo e os fungos são os maiores produtores de moléculas conhecidas como metabólitos secundários. Ao contrário do que o nome possa sugerir, essas moléculas são essenciais para a sobrevivência dos microrganismos, pois fazem parte dos processos de crescimento, desenvolvimento e reprodução. Além disso, muitos metabólitos secundários apresentam propriedades bioativas, ou seja, podem ser usados no desenvolvimento de fármacos.

— A maioria dos metabólitos secundários com potencial terapêutico foi descoberta na era de ouro dos antibióticos, entre 1944 e 1972, e deu origem a medicamentos que usamos até hoje, como a eritromicina e a rapamicina — comenta a pesquisadora.

Mas as pesquisas diminuíram à medida que se tornou mais difícil encontrar novas moléculas promissoras. Desde então, poucos antibióticos foram desenvolvidos — a grande maioria são variações de fármacos descobertos há mais de 50 anos. As bactérias patogênicas, por outro lado, foram se tornando resistentes a várias classes de drogas existentes.

A esperança para reverter esse quadro sombrio veio com o avanço e barateamento das técnicas de mapeamento genético, de acordo com Oliveira. Muitas equipes investiram no sequenciamento total do genoma de várias actinobactérias. Descobriram então a presença de genes associados à produção de metabólitos secundários ainda não conhecidos.

— No Brasil, possuímos uma diversidade riquíssima em termos de fauna, flora e também de microrganismos, mas temos poucos grupos empenhados em desenvolver pesquisas dessa natureza, que poderiam impulsionar a descoberta de novas drogas — afirma Luciana.

A equipe está particularmente interessada em dois tipos de metabólitos: os policetídeos reduzidos e os peptídeos não ribossomais, que possuem inúmeras atividades farmacológicas. Essas moléculas são sintetizadas por um grupo de proteínas e complexos enzimáticos conhecidos como policetídeo sintase (PKS) e peptídeo não ribossomal sintetase (NRPS).

— Queremos, em um futuro próximo, sequenciar essas duas linhagens completamente. Essas informações trariam resultados de maior impacto e permitiriam um progresso notável nessa área de pesquisa, tornando o país competitivo internacionalmente — diz a pesquisadora.

Resultados parciais do estudo foram apresentados em congressos nacionais e internacionais, como o da Sociedade Brasileira de Química e o Simpósio Ibero-americano de Química Orgânica. 

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