DEPRESSÃO, OUTRA VEZ?

07 de janeiro de 2012


Brigar com alguém, ter um dia difícil no trabalho ou ficar muitas horas num congestionamento são situações desagradáveis, mas fazem parte da vida. Como tais, são superadas e administradas pela maioria das pessoas. Porém, para aqueles que já tiveram depressão não uma, mas repetidas vezes ao longo da vida, o desfecho dessa história pode ser diferente.

– Cerca de metade das pessoas que deprimiram alguma vez na vida tem mais chances de desenvolver um novo episódio – explica Dóris Moreno, psiquiatra do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (Gruda) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP.

Segundo Dóris, as depressões recorrentes funcionam como traumas repetidos e tornam o deprimido mais suscetível ao estresse. Além disso, suspeita-se que haja um fenômeno, denominado kindling, que sensibiliza progressivamente o deprimido a cada novo episódio da doença, levando a uma vulnerabilidade emocional tal que, para desenvolver novos episódios depressivos, nem há necessidade de novo estresse ou fator desencadeante. As crises se tornam autônomas.

– É como uma árvore que já recebeu várias machadadas: ela pode ceder devido a um simples empurrão, ou cair sozinha por conta das agressões, enquanto aquela que nunca foi danificada permanecerá firme mesmo depois de ser empurrada – exemplifica a psiquiatra.

Apesar de o fenômeno de kindling abordar somente a questão dos traumas, com a depressão ocorre algo semelhante. Um fator estressor que não abalaria uma pessoa pode desencadear um novo episódio em quem já é depressivo crônico. A relação parece simples e direta, mas há vários fatores envolvidos nesse processo – inclusive lesões nos neurônios causadas pela doença, deixando essas células deficientes, prejudicando a transmissão de impulsos nervosos importantes no cérebro e, por consequência, predispondo a pessoa à reincidência do transtorno depressivo.

A psiquiatra enfatiza que a depressão é uma doença multifatorial e, por isso, é levado em conta a existência de outros casos na família, mas também da personalidade e do estilo de vida do paciente, além de alterações hormonais, especialmente no caso das mulheres, entre outras características. Quanto mais fatores favoráveis à depressão existirem, mais rígido deve ser o acompanhamento para evitar um círculo vicioso.

Como identificar

A depressão acontece quando há um mau funcionamento químico no cérebro, com falha em três substâncias produzidas pelo corpo: dopamina, serotonina e noradrenalina. Elas são associadas à euforia, ao prazer e ao bem estar e regulam humor, sono e apetite.

– Depressão não é apenas indivíduo que chora e está triste. O seu organismo como um todo é acometido. Para os indivíduos com depressão recorrente, a gente não pode dizer que há cura, entretanto, como em muitas doenças em medicina, existe controle que diminui risco de novos episódios – explica o psiquiatra Ricardo Moreno.

Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação corporal como dores e enjôos. O importante é agir rapidamente, procurando ajuda médica.

Para se fazer o diagnóstico, é necessário que haja um grupo de sintomas centrais, identificados por um especialista.

- Perda de energia ou interesse

- Humor deprimido

- Dificuldade de concentração

- Alterações do apetite e do sono

- Sentimento constante de perda ou fracasso

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