CÂNCER E VIAGEM AUMENTAM O RISCO DE EMBOLIA PULMONAR, DIZEM MÉDICOS

12/11/2012 12h12

Ator e diretor Marcos Paulo.
A embolia pulmonar, doença que matou o ator e diretor Marcos Paulo, “é uma das principais emergências médicas”, segundo médicos ouvidos pelo G1. O artista, que morreu na noite de domingo (11), acumulou dois fatores de risco – o histórico de câncer e uma longa viagem de avião. 

Embora o nome remeta para os pulmões, a embolia atinge, na verdade, as veias que levam o sangue até o órgão. “Os pulmões são o grande filtro da circulação venosa”, explicou o cirurgião vascular Francisco Osse, diretor do Centro Endovascular de São Paulo.

O sangue que vem das células de todo o corpo passa pelo pulmão para receber oxigênio – transformando-se de sangue venoso para sangue arterial. De lá, ele vai para o coração e é bombeado para todo o corpo novamente.

As veias de várias partes do corpo acumulam coágulos, que é quando plaquetas se acumulam e formam uma estrutura maior. A embolia acontece quando um coágulo entope a veia e obstrui a chegada do sangue ao pulmão – um fenômeno parecido com o que acontece nas artérias do coração, no infarto, ou do cérebro, no acidente vascular cerebral (AVC). É, portanto, um evento que surge de repente e pode ser fulminante.

Segundo Osse, a “esmagadora maioria” dos casos de embolia tem origem em uma trombose nas pernas. “Trombose é a formação de um coágulo dentro de uma veia. É mais comum nas pernas, mas pode ser em qualquer lugar do corpo”, afirmou.

As veias das pernas são mais largas que a dos pulmões. Por isso, o coágulo não provoca um bloqueio com a mesma frequência que isso acontece nos órgãos respiratórios.


Câncer

O câncer pode ser um fator de risco para a formação de coágulos, pois as células cancerosas liberam fragmentos de substâncias na circulação, e eles podem se acumular. Marcos Paulo foi diagnosticado com um tumor no esôfago em maio de 2011 e já tinha passado por tratamento para a doença.

Caso o paciente faça quimioterapia – o que não foi o caso de Marcos Paulo –, o risco cresce, pois o tratamento agressivo aplicado direto nas veias agride a parede dos vasos sanguíneos.


'Trombose do viajante'

Uma origem comum para a formação dos coágulos são as longas viagens de avião, no que constitui a “trombose do viajante”. “Qualquer voo com mais de quatro horas aumenta em cinco vezes o risco de uma trombose em uma pessoa normal”, disse o cirurgião vascular.

Quando uma pessoa passa muito tempo sem andar – ou, principalmente, sem ativar o músculo da panturrilha – a circulação da perna fica comprometida e o sangue tende a coagular. Além disso, o ar seco do ar condicionado faz com que o organismo perca líquido e o sangue fique mais espesso, o que também aumenta a coagulação. O avião reúne essas duas condições. No domingo, Marcos Paulo voou de Manaus para o Rio de Janeiro.

Para evitar o problema, os médicos recomendam que os passageiros sempre procurem fazer caminhadas dentro do avião para exercitar a panturrilha. Contra a desidratação, a dica é beber bastante água e evitar bebidas alcoólicas.

O câncer e a falta de movimentação nas pernas estão entre os principais fatores de risco, mas não são os únicos. “Tudo que facilite a coagulação do sangue aumenta o risco”, apontou Roberto Stirpulov, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e professor da Santa Casa de São Paulo.

Entre os fatores mais comuns, o médico citou o tabagismo e o uso da pílula anticoncepcional.


Tratamento

O pneumologista definiu a doença como “uma situação potencialmente fatal”. “O embolismo [outro termo usado para a embolia] pulmonar é uma das principais emergências médicas. A única coisa a ser feita é ir logo para o hospital”, afirmou.

O principal sintoma é um quadro agudo de falta de ar, geralmente acompanhado de fortes dores no peito. Em algumas ocasiões, o paciente pode ter tosse com sangue no escarro.

No entanto, o tratamento de emergência, feito com medicamentos anticoagulantes, tem sucesso em 95% dos casos, segundo o especialista.


Malária?

Em entrevista ao jornal “O Globo”, a viúva de Marcos Paulo, Antonia Fontenelle, disse que suspeitava que o marido possa ter contraído malária em Manaus.

O infectologista Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, considera a hipótese “possível, mas improvável”. Segundo o especialistas em doenças infecciosas, como é o caso da malária, o intervalo de uma semana entre a chegada de Marcos Paulo a Manaus e sua morte dá tempo suficiente para que a doença se manifeste.

No entanto, essa malária só levaria à morte se fosse um caso muito grave, que o médico chamou de “infestação maciça” do Plasmodium, parasita que causa a doença. “Hoje em dia, é muito raro a gente pegar um quadro desses”, afirmou.

Rosenthal explicou ainda que, nos casos em que a malária leva à morte neste curto espaço de tempo, os sintomas não se assemelham aos da embolia pulmonar, e que os médicos que o atenderam conseguiriam diferenciar, principalmente sabendo que o paciente estava em uma região onde a malária é mais comum. A suspeita poderia ser confirmada com um exame simples.

“Para matar rápido assim, seria insuficiência renal grave e coma cerebral”, apontou o infectologista.

 

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