11/04/2013
Em 1997, a OMS
estabeleceu 11 de abril o dia mundial do Parkinson, visando aumentar a
conscientização sobre as necessidades daqueles que sofrem com a doença – 1 a 2% da população mundial acima dos 65 anos. (imagem: Anses/ Flickr – CC BY-SA 2.0)
No Dia Mundial da
Doença de Parkinson, a CH On-line apresenta alguns avanços recentes nos
estudos e tratamentos da enfermidade, que ainda não tem causa nem cura
conhecidas.
Hoje, 11 de abril, é o Dia Mundial da Doença de Parkinson. A data faz
referência ao nascimento de James Parkinson, médico inglês que
descreveu a enfermidade em 1817. Segundo dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS), 1 a 2% da população acima dos 65 anos sofre com a doença em todo o planeta. No Brasil, as estatísticas sobem para 3,3% entre pessoas com mais de 70 anos.
A medicina ainda desconhece a causa da doença. Ela pode se
desenvolver, a princípio, em qualquer pessoa, mesmo sem histórico de
Parkinson na família. O que os especialistas sabem é que ela ataca os
neurônios no sistema nervoso, especialmente os que estão localizados em
uma região profunda do encéfalo chamada substância negra.
A doença ainda não tem cura, mas há tratamentos direcionados à maior coordenação dos movimentos pelos pacientes
Além da dificuldade motora, Fonoff acrescenta que o Parkinson também pode envolver outros sintomas, como
dor crônica nos membros, alterações de equilíbrio e no olfato, prisão
de ventre, hipersalivação, depressão e alterações de sono.
A doença ainda não tem cura, mas há tratamentos direcionados à maior
coordenação dos movimentos e, consequentemente, à melhora da qualidade
de vida do paciente.
Ampliando o alvo
Dentre as terapias usadas hoje no tratamento do Parkinson está a
estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês), que consiste na
administração de corrente elétrica controlada para melhorar o controle
dos movimentos do corpo.
A DBS – iniciada no fim da década de 1980 – tem sido usada atualmente como um recurso adicional para pacientes de doença de Parkinson em estágio avançado, ou seja, com complicações motoras incapacitantes. Pesquisa recente comprovou, no entanto, que a terapia também pode trazer benefícios para parkinsonianos em estágio intermediário.
O EarlyStim
é o primeiro grande estudo multicêntrico a enfocar pacientes em fase
intermediária da doença. Envolveu 251 participantes em 17 instituições
na Alemanha e na França, entre 2006 e 2012.
“Os resultados mostram que o
tratamento traz melhoras para o paciente em relação à qualidade de
vida, aos sinais motores, ao humor, ao seu ajustamento psicossocial e às
atividades da vida diária”, afirma o neurologista Michael Schüpbach, do
Hospital Universitário Pitié-Salpêtrière, uma das instituições
francesas que participaram da pesquisa.
Schüpbach explica que a DBS era recomendada
só em último caso por ser invasiva: requer a implantação cirúrgica de
um neuroestimulador sob a pele do peito do paciente. Esse dispositivo
envia estímulos elétricos ao cérebro por meio de eletrodos também
inseridos cirurgicamente sob a pele, em áreas específicas do órgão.
Implantado sob a pele do peito do paciente, o neuroestimulador usado no DBS é um dispositivo parecido com
o marca-passo. Ele envia estímulos elétricos por meio de eletrodos
colocados em áreas específicas do cérebro, ajudando o parkinsoniano a
controlar seus movimentos. (imagem: Medtronic Brasil)
De acordo com Juan Carlos
Varela, gerente no Brasil de uma das unidades da Medtronic – empresa que
produz o neuroestimulador –, a recuperação do paciente é, em geral,
rápida e o procedimento é reversível, ou seja, o dispositivo pode ser
removido em caso de complicações.
Uma vez dentro do paciente, o neuroestimulador pode ser programado e
ajustado de forma não invasiva por um neurologista treinado, a fim de
maximizar o controle dos sintomas e minimizar os efeitos colaterais.
Isto leva a outra desvantagem do DBS: o alto custo. Além dos gastos com o próprio dispositivo e a cirurgia, esse tratamento requer o acompanhamento de especialistas, entre outros recursos, para sua manutenção.
De acordo com o
neurocirurgião Erich Fonoff, a estimulação cerebral profunda, aplicada
no alvo corretamente escolhido, induz modificações nas oscilações
cerebrais ocasionadas pela perda dos neurônios que produzem dopamina,
ajudando o parkinsoniano a controlar seus movimentos e recuperar a
autonomia.
Esforços brasileiros
Em estudo colaborativo envolvendo o Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP e o Hospital Sírio Libanês de São Paulo,
parkinsonianos com indicação estrita de implante de DBS serão tratados comparativamente utilizando-se dois alvos diferentes, que até o momento a literatura médica sugere serem equivalentes.
Esses pacientes serão avaliados em termos de desempenho motor,
eventuais mudanças de peso corporal, dosagens de neurotransmissores e
seus efeitos sobre os sintomas motores e não motores da doença. “Esse
estudo é muito importante para o Brasil, pois vai beneficiar muitos
pacientes e produzir conhecimento de ponta partindo de instituições
brasileiras”, afirma Fonoff.
Fonoff: “Esse estudo é muito importante para o Brasil, pois vai beneficiar
muitos pacientes e produzir conhecimento de ponta partindo de
instituições brasileiras”
Entre as iniciativas brasileiras recentes na área, destaca-se também um projeto de pesquisa que pretende ampliar a compreensão sobre a doença de Parkinson com
a ajuda de um sensor em forma de caneta. O estudo, que já está em fase
final, é coordenado pela otorrinolaringologista Silke Weber, do
Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e
Pescoço da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
Com a ajuda do equipamento
– denominado caneta biométrica BiSP –, o projeto se propõe a examinar
periodicamente as minúcias de movimentos manuais voluntários de
pacientes parkinsonianos, acompanhar a evolução da execução dos movimentos e as respostas aos tratamentos usados, assim como comparar esses dados com os de pessoas saudáveis. De acordo com Weber, a precisão dos testes realizados com ajuda da caneta tem atingido índices de até 99% de acerto.
No que tange aos tratamentos com fármacos, o Brasil começou a produzir, no início deste ano, medicamento já usado no combate ao Parkinson à base de dicloridrato de pramipexol. Essa substância tem composição
molecular e função semelhantes às da dopamina. “A molécula do remédio
tem efeito semelhante ao da molécula do neurotransmissor na comunicação entre os neurônios que controlam os movimentos”, explica o neurocirurgião Erich Fonoff.
Nenhum comentário:
Postar um comentário