DEZ MITOS E VERDADES SOBRE OS SUPERDOTADOS

19/01/2013

Uma em 20 pessoas é superdotada, muitas escondidas por aí sem que ninguém saiba de sua habilidade.
Fenômeno é democrático ocorrendo em todas as culturas, épocas, etnias, sexos e classes sociais.


Quando pensamos em um superdotado pensamos em um menino, de classe média alta, magrelo e míope. Imaginamos uma grande habilidade intelectual, excelentes notas e um futuro brilhante. Certo? Mas será que é por aí? O neurologista Leandro Teles, especialista da USP, identifica o que é mito e o que é verdade em relação às pessoas com elevada habilidade cognitiva.
1 — A superdotação é um fenômeno raro.
MITO. Ocorre em cerca de 5 % da população. Uma a cada 20 pessoas é superdotada. Muitas dessas escondidas por aí, sem que ninguém saiba de sua habilidade especial. Consideramos superdotado (ou portador de alta capacidade) aquele que apresenta uma ou múltiplas habilidades intelectuais inequivocamente acima da média (não podendo explicar essa superioridade apenas por estudo ou treinamento).

2 — Existem superdotados de ambos os sexos e todas as classes sociais.
VERDADE. A superdotação é um fenômeno democrático. Ocorre em todas as culturas, épocas, etnias, sexos e classes sociais. No entanto, em famílias com maior poder aquisitivo a percepção da habilidade assim como a utilização dela é superior, dando a falsa impressão que ela ocorre mais entre as classes sociais A e B. Aliás, o estereótipo do magrelo de óculos também é errôneo. Existem superdotados gordinhos, fortes, cabeludos, altos, baixos, como ou sem miopia, etc.
3 — As pessoas superdotadas têm elevado Q.I.
MITO. Os testes de Q.I. são limitados na captura dos superdotados, pois avaliam apenas alguns aspectos da cognição e habilidades mentais humanas. Alguns superdotados têm fantástica habilidade artística, esportiva, social, criativa, não abordada nesse tipo de testagem. Pessoas com alta pontuação em testes como esse têm uma boa chance de ser um superdotado intelectual, no entanto o rendimento normal no teste não afasta com segurança essa possibilidade. O teste mostra muitos falso-negativos (pessoas brilhantes em determinados aspectos que tiram notas dentro da média). Por isso identificamos um superdotado pelo seu histórico, sua habilidade, pela opinião de familiares e professores.

4 — "Superdotado" e "gênio" são coisas diferentes.
VERDADE. Superdotado é quem tem uma capacidade específica ou múltipla superior, já o gênio é aquele que conseguiu dar uma contribuição grandiosa para a humanidade. São coisas bem diferentes. Um tem um grande potencial, outro tem uma grande realização. Muitos superdotados não são gênios, pois não tiveram oportunidade ou engajamento suficiente, por exemplo. Da mesma forma, existem gênios superdotados e não superdotados, pois muitas realizações grandiosas são frutos de perseverança, doação ou mesmo sorte.

5 — Superdotados são sempre bons alunos.
MITO. Alguns são excelentes alunos, outros medianos, outros ruins. Isso se explica pois muitas vezes falta estímulo específico, o aluno sente-se desmotivado e pode até considerar a escola comum entediante. Alguns superdotados têm dificuldade de seguir regras, podem se sentir diferentes do grupo e manifestar certa vulnerabilidade social. Tudo depende do caso, de que tipo de habilidade está em destaque. As matérias e o método de pontuação (nota) muitas vezes não contemplam o diferencial intelectual daquele aluno especificamente. O aluno com alta capacidade precisa frequentemente de apoio pedagógico diferenciado para atingir todo desenvolvimento de seu potencial peculiar. Por isso é fundamental a identificação desse aluno e do suporte escolar personalizado.
6 — A grande maioria deles tem um futuro brilhante.
MITO.
O que chamamos de "futuro brilhante" é fruto de muitas variáveis, não só de uma capacidade mental acima da média. De modo geral, a vantagem intelectual tende a levar as pessoas para boas universidades, bons empregos, grandes realizações, etc. Mas não ocorre sempre assim. Muitos talentos são pouco reconhecidos e muitas pessoas, infelizmente, não têm oportunidades, não são bem aconselhadas ou mesmo não têm sorte de estar no lugar certo na hora certa. Quantas pessoas você conhece com uma capacidade subaproveitada por estar no emprego errado? E se o Messi nascesse em uma aldeia indígena tradicional e nunca tivesse visto uma bola de futebol? Sucesso depende de uma junção complexa de ocorrências onde a inteligência e talento são apenas parte do processo.

7 — Superdotados podem ser muito ruins em determinadas atividades intelectuais.
VERDADE.
A superdotação exige algum aspecto acima da média, não precisam ser todos. Em alguns casos a pessoa pode ser brilhante em alguma coisa e péssima em outras. Tem autista, por exemplo, com franca dificuldade social que apresenta imensa habilidade de memória, ou numérica, ou para desenho, o que chamamos de síndrome de Asperger (autismo de alto funcionamento). Os desvios do desenvolvimento ocorrem para mais (superdotação) e podem ocorrer para menos (deficiência), sendo que o processo pode coexistir na mesma pessoa. O que os superdotados têm de forma mais ou menos semelhante é muita curiosidade, certa dose de independência intelectual e precocidade (desenvolvem habilidades antes de outras crianças).

8 — O cérebro deles é maior.
MITO. O tamanho do cérebro não tem, de modo geral, relação direta com o grau de inteligência. O que ocorre são redes funcionalmente superiores, modalidades mais e melhor integradas, comunicação mais eficiente e arborizada entre neurônios, gerando maior velocidade de informação, melhor estratégia, melhor percepção de variáveis, melhor capacidade de percepção antecipada de resultados, etc. A inteligência é resultado final dessas e de outras inúmeras capacidades do cérebro humano.
9 — Podemos identificar um superdotado antes da fase escolar.
VERDADE. Crianças intelectualmente superdotadas mostram muito interesse e curiosidade. Desenvolvem soluções criativas e surpreendentes. São focadas (quando gostam de determinada tarefa), têm memória boa, são geralmente precoces em alguma modalidade do desenvolvimento, têm vocabulário geralmente diferenciado. Temos que tomar cuidado no julgamento e na condução do desenvolvimento. Muitas crianças ditas "precoces" acabam se nivelando à população média com o passar dos anos. O mesmo pode ocorrer com os ditos "atrasados", que podem ultrapassar a população média. Outro risco é estimular demais crianças com predisposição a superdotação e transformá-las em pequenos adultos, ou gerar deficiências pelo super-treinamento de determinada modalidade em destaque. Com crianças temos que ter, acima de tudo, bom senso no diagnóstico e na forma de condução.

10 — A superdotação é, em grande parte, genética.
VERDADE. A inteligência é fruto do nosso código genético e de fatores ambientais, como a nutrição, ocorrência de exposições nocivas na fase de desenvolvimento, etc. A inteligência apresenta 80% de semelhança entre gêmeos idênticos e cerca de 40 a 50% entre gêmeos não idênticos. Isso significa dizer que há um grande componente do código genético, mas também há 20% de questões ambientais envolvidas. O código genético da criança é um misto do código do pai e da mãe e podem ocorrem algumas mutações durante o processo de passagem. Por isso temos pais superdotados com filhos dentro da média e também filhos superdotados de pais com cognição mediana.  

 

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