07/12/2012
Estudo mostra eficácia a longo prazo de medicamento para controlar espasmos de Esclerose Múltipla no tratamento de alcoolismo.
Pela primeira vez, pesquisa mostrou que o efeito do baclofeno para tratar dependentes de álcool continua eficaz após dois anos.
Um estudo francês concluiu que o baclofeno, um relaxante muscular que
originalmente é prescrito a pessoas com doenças neurológicas, como Esclerose Múltipla e Parkinson, pode ser eficaz no tratamento de
alcoolismo a longo prazo. Segundo a pesquisa, publicada nesta
sexta-feira na revista médica Frontiers in Psychiatry, os efeitos positivos da droga entre pessoas com dependência em álcool podem durar por pelo menos dois anos.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Suppression of alcohol dependence using baclofen: a 2-year observational study of 100 patients
Onde foi divulgada: revista Frontiers in Psychiatry
Quem fez: Renaud de Beaurepaire e equipe
Instituição: Grupo Hospitalar Paul Guiraud, França
Dados de amostragem: 100 pessoas alcoólatras
Resultado: Após três meses de tratamento com doses de baclofeno, 84% dos pacientes alcoólatras passaram a ser considerados como em risco baixo (consumo controlado) ou moderado (menor consumo, mas sem ser controlado). Após dois anos, essa taxa foi de 62%
Título original: Suppression of alcohol dependence using baclofen: a 2-year observational study of 100 patients
Onde foi divulgada: revista Frontiers in Psychiatry
Quem fez: Renaud de Beaurepaire e equipe
Instituição: Grupo Hospitalar Paul Guiraud, França
Dados de amostragem: 100 pessoas alcoólatras
Resultado: Após três meses de tratamento com doses de baclofeno, 84% dos pacientes alcoólatras passaram a ser considerados como em risco baixo (consumo controlado) ou moderado (menor consumo, mas sem ser controlado). Após dois anos, essa taxa foi de 62%
O uso do baclofeno no tratamento do alcoolismo já vem sendo estudado por outros pesquisadores.
No entanto, o medicamento havia sido testado apenas a curto e médio
prazos, em um período de seis meses e um ano após o início da abordagem.
O novo estudo, desenvolvido no Grupo Hospitalar Paul Guiraud, na
França, acompanhou, entre 2008 e 2010, 100 pacientes alcoólatras (todos
classificados como "alto risco"), que haviam se mostrado resistentes aos
tratamentos convencionais. Ao longo do estudo, eles foram divididos em
três grupos: alto risco, médio risco e baixo risco. Todos foram tratados
com doses crescentes de baclofeno — a dosagem média foi de 147
miligramas da substância ao dia.
Após dois anos, o número de pacientes que se tornaram totalmente
abstinentes ou que passaram a ter um consumo normal e controlado caiu em
50%. Além disso, após três meses a partir do início do tratamento, a
soma das porcentagens dos pacientes que estavam entre baixo risco
(conseguiam controlar o consumo de bebida alcoólica) ou risco moderado
(conseguiram diminuir significativamente o consumo de álcool, mas sem
ainda ter total controle) de alcoolismo foi de 84%.
Depois de seis
meses, essa taxa foi de 70%; após um ano, de 63%; e, dois anos depois,
de 62%.
Recaídas - O aumento no número de pacientes em alto
risco entre o terceiro e o sexto mês se deve ao fato de que alguns dos
pacientes que haviam conseguido reduzir o consumo com o baclofeno
tiveram recaídas. Esses pacientes foram incapazes de manter o consumo
reduzido, provavelmente devido ao vínculo com o hábito de beber e à
motivação insuficiente para largar o vício. Segundo os pesquisadores,
grande parte dos voluntários estava tão ritualizada ao hábito de beber
que não conseguia parar, mesmo quando o apetite pelo álcool foi reduzido
com o uso do baclofeno.
Entre os efeitos adversos mais comuns do medicamento estão fadiga e
sonolência. Renaud de Beaurepaire, que coordenou o estudo, é um dos
pesquisadores de um trabalho em escala nacional que está aprofundando os
conhecimentos em torno do baclofeno como terapia contra o alcoolismo. A
previsão é que essa pesquisa seja publicada em 2014.
O último copo
A ideia de usar o baclofeno para tratar o alcoolismo partiu do médico
francês Olivier Ameisen, ele próprio um alcoólatra. Em 2002, Ameisen,
respeitado cardiologista da Universidade Cornell, em Nova York, começou a
testar o baclofeno em si mesmo, depois de se submeter a vários
programas de reabilitação — de encontros no grupo Alcoólicos Anônimos a
internações em clínicas especializadas. Ele narrou sua experiência com o
medicamento no livro Le Dernier Verre (O Fim do Meu Vício, Ed. Fontanar), best-seller
na Europa e nos Estados Unidos. "Eu precisava dos efeitos do álcool
para existir em sociedade", conta ele no livro. Uma reportagem de VEJA
de 2009 conta como teve a ideia de usar o baclofeno. Uma notícia de
jornal despertou sua atenção: havia indícios de que o baclofeno poderia
ser usado no combate à dependência de cocaína. "Por que não para o
alcoolismo?", pensou Ameisen. O médico, então, decidiu tomar o remédio.
Ele testou várias dosagens, até estabelecer o ideal em 50 miligramas por
dia. O baclofeno ajudou Ameisen a se satisfazer com doses menores de
álcool: "Hoje posso tomar um copo de vinho e não ficar com aquela
vontade irresistível de beber mais", disse então à reportagem de VEJA.
Em 2009, ainda não havia comprovação dos efeitos do medicamento sobre os
alcoólatras, embora vários médicos já o testassem em seus pacientes.
Com este novo estudo, surge a mais forte evidência de sua eficácia.
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