18 de dezembro, 2012
Britânica Cath Gamester ouve uma lista de seis músicas em sua cabeça dia e noite, sem parar.
Aos 84 anos, a aposentada britânica Cath Gamester sofre de uma síndrome
rara que anualmente afeta apenas um em cada 10 mil sexagenários.
Trata-se da musical ear syndrome, ou síndrome do ouvido musical, embora no Brasil o tema seja tratado simplesmente pelo termo "alucinações musicais".
Os idosos que sofrem com o problema tendem a
ouvir uma lista de seis a dez músicas que se repetem constantemente em
suas cabeças.
Eles contam que o transtorno começa desde que
acordam e vai evoluindo ao longo do dia, passando por suas tarefas
diárias, como assistir TV.
O problema só termina pouco antes de dormir.
O pior é que as músicas são sempre as mesmas.
No caso de Gamester, a lista inclui Parabéns a Você, o hino nacional britânico, e hinos religiosos, sempre na voz de um tenor masculino - que ao menos é do seu agrado.
"É um tenor, uma voz de homem. E é uma voz bonita, muito forte e alta, com música de som de fundo", conta.
Dentre as seis canções que ela ouve sem parar, uma delas é, sem dúvida, a pior.
"A música Parabéns a Você - a cada dois minutos estou desejando feliz aniversário para alguém - odeio essa!", disse Gamester à repórter da BBC.
A aposentada explica que tudo começou há dois
anos, quando sua irmã morreu e ela começou a tomar antidepressivos. Mas
mesmo depois de interromper o tratamento, as músicas não cessaram.
"Fui dormir, e quando acordei, por volta das 8h
da manhã, logo ouvi a música, e era o hino nacional. Olhei por todos os
lugares, abri a porta de casa. Achei que eram os vizinhos, mas me dei
conta de que estava dentro da minha cabeça", diz.
Hinos e canções de natal
O psiquiatra Nick Warner, que é especialista em idosos, acompanhou uma série de pacientes com alucinações musicais.
Ele explica que o problema não tem nada a ver
com os ouvidos, e que é interessante perceber que na maioria dos casos
as músicas são muito parecidas, senão as mesmas.
"Percebi que muitas pessoas com a doença ouviam hinos religiosos e canções de Natal. Particularmente o hino abide with me ("permaneça ao meu lado", em tradução livre), ouvido por 50% dos pacientes".
"É um hino muito reconfortante. Há de se
especular se há algo em específico gerando essa necessidade de segurança
quando se está envelhecendo. [Uma mensagem] de que você não está
sozinho e de que está seguro", diz.
Especialistas também levam em consideração o fato de que em grande parte dos casos os pacientes são idosos e vivem sozinhos.
Outros pesquisadores se perguntam se o problema
pode estar relacionado com a perda de audição e uma tentativa do cérebro
de preencher o vazio com músicas muito conhecidas do paciente.
Pesquisa
Uma reportagem do diário americano The New York Times
publicada anos atrás diz que, apesar de serem conhecidas há mais de um
século, as alucinações musicais ainda não são muito estudadas.
Em um estudo de 2005, publicado no Jornal
Britânico de Psicopatologia, o mesmo Nick Warner realizou uma análise de
30 casos acompanhados por 15 anos.
Ele chegou à conclusão que, em dois terços dos casos, a alucinação musical era a única perturbação mental dos pacientes.
Warner também descobriu que um terço era total
ou parcialmente surdo. As mulheres tendem a sofrer mais do que os
homens, e a média de idade dos doentes é de 78 anos.
Os pacientes acompanhados ouviam uma grande
variedade de canções ouvidas repetidamente durante a vida ou com algum
significado emocional. E em dois terços dos casos eram músicas
religiosas.
A pesquisa também revelou que as alucinações são
distintas daquelas sentidas por portadores de esquizofrenia - estes
escutam apenas vozes, e não a mesma sequência de músicas.
Aos que sofrem com as alucinações, Cath deixa uma mensagem de esperança:
"Gostaria de dizer a todos que têm o mesmo
problema que eu, para que sejam felizes, aproveitem a vida mesmo assim.
Aprendi a valorizar o fato de que ao menos não tenho uma doença grave",
diz a aposentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário