13/12/2012
Sativex: Spray a base de maconha para tratar Esclerose Múltipla ainda
não comprovou a sua eficácia, afirma artigo publicado em periódico
britânico.
Periódico britânico revisou
estudos sobre um spray à base de cannabis que já foi autorizado em
alguns países. Resultados mostraram que as pesquisas são limitadas e não
comprovam a eficácia do produto para tratar a doença.
Um artigo publicado nesta quarta-feira no periódico britânico Drug And Therapeutics Bulletin, do grupo British Medical Journal (BMJ),
afirma que não há evidências que comprovem a eficácia da maconha na
redução dos sintomas da Esclerose Múltipla, como outras pesquisas haviam
sugerido. De acordo com o texto, são limitados os estudos que apontaram
para os efeitos positivos do Sativex, um spray comercializado na
Grã-Bretanha que contém substâncias extraídas da cannabis e que é
prescrito a pacientes com Esclerose Múltipla.
A causa da Esclerose Múltipla ainda é desconhecida e não há cura para a
doença. Sabe-se que ela ocorre quando há danos ou destruição da
mielina, uma substância que envolve e protege as fibras nervosas do
cérebro, da medula espinhal e do nervo óptico. Quando isso acontece, são
formadas áreas de cicatrização, ou escleroses, e surgem diferentes
sintomas sensitivos, motores e psicológicos.
O Sativex, produzido pelo laboratório britânico GWPharma, combina as
duas principais substâncias extraídas da cannabis: o tetrahidrocanabinol
(THC) e o canabidiol (CBD). O produto foi autorizado em 2010 por órgãos
reguladores da Grã-Bretanha como uma terapia de segunda linha para
tratar espasticidade em pacientes com Esclerose Múltipla — ou seja, em
indivíduos que não responderam às drogas principais. A espasticidade, um
sintoma comum da doença, ocorre quanto há um aumento do tônus muscular,
podendo desencadear espasmos involuntários, distúrbios de sono e dores.
Depois da Grã-Bretanha, outros países, entre eles Espanha, Alemanha e
Dinamarca, segundo a farmacêutica, aprovaram o produto.
Limitações —
De acordo com o artigo, embora estudos
tenham concluído que pacientes que fizeram o uso do spray apresentaram
melhor resposta do que aqueles que receberam placebo, “há consideráveis
limitações nessas pesquisas”. Segundo o texto, um dos problemas desses
ensaios está no curto período que duraram — o mais longo foi feito
durante quatro meses. Além disso, em um dos estudos, “o resultado não
foi estatisticamente significativo”, e em outras duas pesquisas os
pacientes foram autorizados a receber doses maiores do que as
autorizadas pelas agências reguladoras. O artigo ainda lembra que nenhum
trabalho comparou o Sativex com outra droga de segunda linha — a
relação foi sempre feita a partir do placebo.
Outro problema do Sativex apontado pelo artigo, que não está
relacionado à eficácia do produto, é em relação ao alto custo do
tratamento — cerca de dez vezes mais caro do que os outros medicamentos
de segunda linha disponíveis para a Esclerose Múltipla. O periódico
ainda afirma que, até o momento, o Instituto Nacional para Saúde e
Excelência Clínica (NICE), da Grã-Bretanha, não divulgou recomendações
em relação ao uso do spray.
Para o periódico, portanto, não há evidências suficientes para suportar
o uso clínico e frequente do Sativex. “Acreditamos que tais limitações
tornam difícil identificar qual deveria ser o lugar desse produto na
prática clínica”, escrevem os autores. Em um comentário que acompanhou a
revisão, James Cave, editor do periódico, considerou os resultados
decepcionantes. “A Esclerose Múltipla é uma doença grave e seria ótimo
se pudéssemos dizer que essa droga é capaz de fazer uma grande
diferença, mas seu benefício é apenas modesto”, diz. “Há pessoas com a
doença que fumam maconha para aliviar seus sintomas e acham que isso
ajuda. Mas não há provas concretas para mostrar que a planta faz
qualquer diferença. Além disso, seu uso a longo prazo surte efeitos
nocivos à saúde”, diz.
Outro lado —
Em nota emitida à agência Reuters, a
GWPharma afirmou que o relatório publicado nesta quarta-feira promove
uma “visão enganosa da droga” e que tal revisão contém uma "série de
erros."
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