The New York Times 17/12/2012
Raju Kucherlapati, professor de genética e medicina na Escola de
Medicina de Harvard, e mais de 200 pesquisadores investigaram tumores de
câncer de cólon.
Mais de 200 pesquisadores que estudam tumores de câncer de cólon
encontraram vulnerabilidades genéticas que podem levar a poderosos novos
tratamentos. A esperança é de que os medicamentos criados para atingir
esses pontos fracos possam eventualmente deter um câncer que hoje se
torna quase que inevitavelmente fatal ao se espalhar.
Cada vez mais, os cientistas veem o câncer como uma doença genética
definida não tanto pelo lugar em que se origina – cólon, fígado,
cérebro, mama –, mas pelas anomalias genéticas, que são seu calcanhar de
Aquiles. E com um entendimento detalhado de quais alterações genéticas
fazem um tumor crescer e se desenvolver, é possível descobrir a melhor
forma de preparar um ataque contra ele.
Eles advertem que a maior parte
dos medicamentos necessários para atingir as mutações do câncer de cólon
ainda precisa ser desenvolvida, mas alegam já estar preparando o mapa
que os levará a novos tratamentos.
Descobertas abrem caminhos para estudos de outras doenças
O estudo do câncer de cólon, publicado recentemente na revista
Nature, é a primeira parte de uma vasta iniciativa cuja expectativa é
produzir uma onda de descobertas que dê conta de uma série de doenças.
As descobertas relacionadas ao câncer de cólon serão seguidas em breve
por estudos de cânceres de pulmão e mama e, ainda neste ano, de leucemia
mieloide aguda. O projeto, intitulado Atlas Genômico do Câncer, recebe
US$ 100 milhões por ano em financiamentos de duas agências
governamentais americanas, o Instituto Nacional do Câncer e o Instituto
Nacional de Pesquisa do Genoma Humano.
Os resultados obtidos com o câncer de cólon, baseado em um estudo de 224 tumores, mostram o que pode ser possível.
— Há muitas formas diferentes de combater esse tipo de tumor. Temos
uma oportunidade de mudar completamente esse panorama — explicou Raju
Kucherlapati, principal pesquisador do projeto do câncer de cólon e
professor de Genética e Medicina da Escola de Medicina de Harvard.
Os pesquisadores, no entanto, advertem que embora já se saiba
bastante sobre as mudanças genéticas provocadas pelo câncer de cólon, o
tratamento ainda não está pronto.
— Vai levar tempo e depende de muita dedicação. Mas não quero
menosprezar a importância singular dessa pesquisa, porque ela pode ser
transformadora — admite Charles Fuchs, especialista em câncer
gastrointestinal de Harvard, um dos autores do estudo.
Outros pesquisadores já haviam estudado o câncer de cólon
anteriormente e identificado mutações que pareceram fundamentais, mas
sua pesquisa não tinha um escopo como o do novo projeto, e fornecia
informações limitadas acerca das mudanças genéticas, disse o Dr. Sanford
Markowitz, especialista em câncer de cólon e genômica da Universidade
Case Western Reserve, em Ohio. Segundo ele, a nova pesquisa terá ampla
repercussão.
Markowitz, como quase todos os outros principais cientistas que atuam na genômica do câncer de cólon, trabalhou no novo estudo.
Novas possibilidades de tratamento
A cada ano, cerca de 150 mil americanos recebem diagnóstico de câncer de cólon, e 50 mil morrem por causa da doença.
O tratamento costuma mostrar excelentes resultados se o câncer for
descoberto cedo, enquanto ainda está confinado ao cólon. Após ele se
espalhar para outras regiões do corpo, apenas 5% dos pacientes
sobrevivem por mais de cinco anos. Em relação ao tratamento, "nada mudou
muito", afirmou Kucherlapati.
Para Kucherlapati, algumas das mais intrigantes descobertas apontam
para novas possibilidades de tratamento. Por exemplo, cerca de 5% dos
tumores de câncer de cólon estudados tinham cópias extras de um gene,
ERBB2, assim como muitos tumores de câncer de mama. O medicamento
Herceptin, que ajudou pacientes acometidos pela doença que são
portadores de muitos desses genes, pode também servir para pacientes com
câncer de cólon que têm a mesma anomalia. Os cientistas dizem que
gostariam de incluir pacientes que sofrem de câncer de cólon e possuem a
mutação em ensaios clínicos para testar os efeitos do Herceptin.
Como estudos anteriores, a nova pesquisa revelou que cerca de 15% dos
cânceres de cólon possuem uma mutação em um gene, o BRAF, que
frequentemente se desenvolve na forma do melanoma, um tipo de câncer da
pele. Um medicamento aprovado para o combate ao melanoma bloqueia a
função do produto desse gene, mas não funcionou em pacientes acometidos
pelo câncer de cólon.
Porém, esses pacientes frequentemente são portadores de uma anomalia
genética adicional que pode ser tratada com um medicamento diferente,
que bloqueia a função da proteína celular EGFR. Os pesquisadores
gostariam de testar se é possível deter o câncer tratando os pacientes
que apresentam tanto a mutação BRAF quanto a anomalia EGFR com os
medicamentos contra o melanoma e a EGFR.
A possibilidade de ajudar determinados pacientes que sofrem de câncer
de cólon com medicamentos que já estão no mercado "é realmente
emocionante", afirmou Kucherlapati.
O estudo revelou também rotas genéticas que tinham sido previamente
identificadas em estudos que envolveram um pequeno número de pacientes.
Uma delas, conhecida como WNT, passou por mutações em 95% dos pacientes
com câncer de cólon cujos tumores foram examinados na nova pesquisa.
— Até onde sei, não estava muito claro, até o presente estudo, quão
onipresentes são as anomalias dessa rota genética — disse o Dr. Todd R.
Golub, um pesquisador de genômica oncológica do Instituto Broad, das
Universidade Harvard e o MIT, e do Instituto Oncológico Dana-Farber.
E essas são boas notícias, segundo ele, porque descartam uma situação
em que cada tumor teria uma rota genética totalmente diferente que
passaria por mutações, exigindo mil medicamentos diferentes para tratar
mil tumores diferentes.
— Não nunca conseguiríamos encontrar um caminho se esse fosse o caso — disse Golub.
Ele não foi um dos autores do estudo, mas seus colegas do Instituto Broad, sim.
A esperança agora é de que as alterações genéticas que impulsionam
esses mil tumores diferentes operem apenas através de um número limitado
de rotas genéticas, que podem ser alvo de um número mais gerenciável de
medicamentos.
Contudo, esses medicamentos ainda têm de ser desenvolvidos, disse a
Dra. S. Gail Eckhardt, chefe da divisão de oncologia médica da
Universidade do Colorado e uma das autoras do estudo.
Porém, o trabalho confirma qual caminho o desenvolvimento de
medicamentos deveria tomar. O artigo da Nature explica que isso não vai
ser simples, mas se nós direcionarmos o estudo de forma inteligente, ele
trará benefícios em termos de tratamentos — acrescentou ela.
Ele também mostra porque estudos mais reduzidos talvez não forneçam
um quadro completo das artimanhas genéticas do câncer, embora o câncer
de cólon tenha sido o estandarte da genética oncológica. Ainda em meados
dos anos 1980, o Dr. Bert Vogelstein e seus colegas da Universidade
Johns Hopkins usaram técnicas que hoje seriam consideradas antiquadas
para investigar as mudanças genéticas que ocorrem à medida que um pólipo
benigno do cólon se torna um câncer mortal. O que ele descobriu – uma
sequência de genes específicos que tendiam à mutação – confirmou-se no
novo estudo, juntamente com a descoberta de mudanças genéticas mais
raras que ele não conseguiu detectar facilmente.
Vogelstein, que não foi um dos autores da nova pesquisa, caracterizou a pesquisa como "excelente e definitiva".
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