11/10/2012
A mielina (em amerelo) ajuda na trasmissão de impulsos nervosos. A
doença de Palizaeus-Marzbacher é caracterizada pela falta da substância,
causando a degeneração do sistema nervoso.
Nos Estados Unidos,
pesquisadores apresentaram os resultados de um ano de tratamento em
crianças com Palizaeus-Marzbacher, enfermidade que reduz a produção de
mielina no cérebro. Transplante não apresentou rejeição e indicou
'modestos avanços' nas habilidades motoras dos pacientes.
Pela primeira vez, um tratamento com células-tronco
neurais conseguiu aumentar a produção de mielina em crianças que sofrem
de Pelizaeus-Marzbacher (PMD, na sigla em inglês), uma doença
degenerativa bastante rara. O resultado do transplante – e de um
acompanhamento médico que durou um ano – foi publicado nesta
quarta-feira no periódico Science Translational Medicine e pode ser um primeiro passo para o desenvolvimento de terapias para a falta de mielina no sistema nervoso.
A pesquisa é um marco histórico na área. "Antes deste trabalho, não
havia evidências de que células-tronco neurais eram capazes de
incorporar e funcionar normalmente no cérebro", afirmou ao site de VEJA
Nalin Gupta (leia a entrevista abaixo),
chefe de cirurgia neurológica do departamento de pediatria do Benioff
Children’s Hospital, da Universidade da Califórnia, e um dos autores do
artigo.
A mielina envolve as fibras nervosas com a função de acelerar os
impulsos nervosos. Dessa forma, uma disfunção na produção de mielina faz
com que os impulsos não sejam transmitidos de forma adequada e debilita
as funções neurológicas. As pessoas que nascem como
Palizaeus-Marzbacher, cuja transmissão é genética, não conseguem andar
ou falar e normalmente enfrentam problemas respiratórios; a degeneração
do sistema nervoso leva à morte entre os 10 e 15 anos de idade.
Uma equipe do Benioff Children’s Hospital, da Universidade da
Califórnia, em San Francisco, transplantou em 2011 células-troncos
neurais desenvolvidas pela empresa norte-americana StemCells,
patrocinadora do projeto, no cérebro de quatro crianças diagnosticadas
com essa doença neurodegenerativa. Por meio de ressonâncias magnéticas
realizadas ao longo de um ano, a equipe médica encontrou sinais de que
as células implantadas (HuCNS-SC, derivadas do cérebro de fetos) estavam
recebendo sangue e nutrientes dos tecidos neurais. Além do mais, os
pesquisadores encontraram evidências indiretas de que as HuCNS-SC se tornaram oligodendrócitos,
justamente as células responsáveis pela produção de mielina. David H.
Rowitch, chefe de neonatologia no Benioff, comparou o processo a "uma
planta criando raízes."
Saiba mais
CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos de pessoas doentes.
"A pesquisa nos dá uma importante prova para o princípio que aprova o
uso de células-tronco no tratamento de um amplo espectro de doenças
relacionadas à falta de mielina, como Esclerose Múltipla, paralisia
cerebral e lesões na medula espinhal", afirma ao site de VEJA a
StemCells. Caso esse primeiro passo no futuro de fato resulte num
tratamento viável, o número de possíveis beneficiados é expressivo.
Cerca de 400.000 pessoas têm Esclerose Múltipla e outras 764.000 têm
paralisia cerebral, só nos Estados Unidos. Apesar dos tratamentos que
diminuem a progressão da esclerose múltipla e da paralisia cerebral, não
existe cura para estas enfermidades.
Os testes realizados 12 meses após o transplante revelaram que três das
quatro crianças, que têm entre seis meses e cinco anos de idade,
apresentaram "avanços modestos" em funções motoras e mentais em
comparação com os exames anteriores ao transplante. Uma delas, por
exemplo, consegue agora dar alguns passos, com ajuda de um adulto. Outra
se alimentou oralmente, pela primeira vez, com comida sólida.
Cautela – O estudo alerta que os benefícios clínicos
não podem ser necessariamente atribuídos à intervenção, já que esta
envolveu um reduzido número de participantes e não teve um grupo de
controle. "Mesmo assim, é um primeiro passo importante, que traz a
esperança de que o transplante de células HuCNS-SC possa ser capaz de
atuar na patologia fundamental no cérebro de pacientes com
Palizaeus-Marzbacher", afirma Nalin Gupta, do Benioff Children’s
Hospital.
Se não pode ter seu efeito clínico comprovado, a equipe do Benioff e da
StemCells acredita ter demonstrado que o transplante da célula HuCNS-SC
é seguro. Isso porque, um ano após a cirurgia, não há qualquer sinal de
rejeição. "Esse ponto é bastante significante porque as células não
pertenciam aos pacientes", diz David Rowitch. Nalin Gupta, por sua vez,
explica que as crianças receberam um medicamento, por diversos meses,
que é utilizado para prevenir rejeições em pacientes que recebem
transplante de órgãos sólidos.
Na opinião da professora Lygia da Veiga Pereira, chefe do Laboratório
Nacional de Células-Tronco Embrionárias da Universidade de São Paulo
(LaNCE-USP), a comprovação da segurança do procedimento pode abrir as
portas para outras investigações. "Num ensaio clínico, a primeira coisa
que você precisa mostrar é segurança. Isso pode acelerar a aprovação,
pelos órgãos reguladores, de testes em outras doenças, como lesão de
medula."
A imagem mostra a injeção direta de células-tronco neurais no cérebro.
Camundongos – Também nesta quarta-feira, uma pesquisa complementar realizada pela StemCells — e também publicada na Science Translational Medicine – reforça
a tese do alto potencial de mielinização da célula HuCNS-SC no sistema
nervoso. As mesmas células-tronco neurais foram implantadas em um tipo
de camundongo incapaz de produzir um componente-chave da mielina.
"Técnicas de análise sofisticadas foram usadas para confirmar que as
alterações observadas pelas imagens de ressonância magnética derivavam
da mielina humana gerada pelas células transplantadas", diz a empresa.
"Os resultados demonstrados no trabalho de Uchido (Nobuko Uchida,
pesquisadora vice-presidente da StemCells Biology e a cargo dos testes
nos camundongos) confirmam que a as células-tronco humanas
transplantadas não só sobreviveram como produziram mielina. É possível
que algo muito semelhante ocorra no cérebro humano", afirma Nalin
Gupta.
"Não havia evidências de que células-tronco neurais eram capazes de incorporar e funcionar normalmente no cérebro"
Dr. Nalin Gupta
Chefe de cirurgia neurológica do departamento de pediatria do Benioff Children’s Hospital e um dos autores do artigo Neural Stem Cell Engraftment and Myelination in the Human Brain
Como o senhor resumiria a contribuição que esse trabalho traz para o estudo de células-tronco?
Antes deste trabalho, não havia evidências de que células-tronco
neurais eram capazes de se incorporar e funcionar normalmente no
cérebro.
O que indica que as células-tronco transplantadas estão produzindo mielina?
Como os pacientes com Pelizaeus-Marzbacher
não têm o isolamento normal (mielina) ao redor das fibras nervosas do
cérebro (axônios), nós pudemos explorar o fato de que algumas técnicas
de ressonância magnética são muito sensíveis a mudanças que ocorrem
quando os axônios são mielinizados. Isto (mielinização) é comum no
desenvolvimento normal durante os primeiros anos de vida, mas não é algo
que esperamos de pacientes com a doença Pelizaeus-Marzbacher. As
informações da ressonância magnética, que são consistentes com
mielinização, sugerem, portanto, que as células transplantadas estão
causando as mudanças.
O estudo poderia ser um primeiro
passo para o tratamento da doença de Pelizaeus-Marzbacher – ou outras
doenças causadas pela falta de mielina?
Ainda há muitas questões sobre a efetividade desse tipo de tratamento.
Certamente o objetivo de longo prazo para terapia com células-tronco é
tratar casos como Esclerose Múltipla ou Alzheimer, mas tal possibilidade
é para o futuro. Os resultados deste estudo certamente apoiam a
realização de novas pesquisas para analisar o uso dessas células em
grupos maiores de pacientes, para ver se conseguimos confirmar e
expandir os atuais resultados.
Quais foram os “avanços modestos em funções neurológicas” observadas nas crianças que receberam o transplante?
Todos os quatro pacientes têm a doença Pelizaeus-Marzbacher, que
provoca a perda de funções com o tempo. O nosso trabalho descreve como
alguns desses pacientes apresentaram avanços um ano após o transplante.
Os avanços incluem um melhor suporte do tronco ou a respiração sem a
ajuda de um respirador. Um paciente conseguiu dar alguns passos.
É importante ressaltar, no entanto, que qualquer resultado não pode
ser necessariamente atribuído ao transplante. Isso porque o teste
envolveu um número reduzido de pacientes e não houve um grupo de
controle (pessoas com a mesma doença, mas não submetidas ao tratamento,
para efeitos de comparação). Um outro estudo para testar a eficácia
deveria ser conduzido. ,
Qual a relação do seu trabalho com o artigo da doutora Nobuko Uchida, que testou a célula-tronco HuCNS-SC em camundongos?
Os dois estudos se complementam porque as mesmas células usadas no
tratamento com humanos foram transplantadas em camundongos com um
distúrbio de mielina semelhante. Como podemos estudar as mudanças que as
células causam, com muito detalhe, em camundongos, os resultados
demonstrados no trabalho de Uchido confirmam que a as células-tronco
humanas transplantadas não só sobreviveram, como produziram mielina. É
possível que algo muito semelhante ocorra no cérebro humano.
2 comentários:
bom dia meu irmão tem esclerose e eu queria saber com faço para testar nele o tratamento com celulas tronco pois sou muito umilde não tenho condiçoes finaceira para isso,eu venho por meio deste pedir ajuda para os amigos ai,desde ja agradeço,DEUS abençoi quem ler meu comentario obrigado.
meu email e claudroliveira22@hotmail.com
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