Muito além da estética 05/08/2013
Clara de Souza Soares, 8 anos, utiliza o tratamento com botox para combater a paralisia.
Medicamento é usado há mais de 20 anos para diversos tratamentos, muito antes de sua aplicação na estética.
O botox é um dos tratamentos estéticos mais procurados do país. A
aplicação da toxina botulínica logo abaixo da pele reduz as rugas e
linhas de expressão de forma rápida, pouco invasiva e com bons
resultados. Entretanto, muito antes de ser popular na busca pelo
rejuvenescimento, o botox foi pesquisado originalmente para fins
terapêuticos e hoje é um importante aliado de áreas como a neurologia, a
urologia e a fisiatria.
A toxina botulínica é fornecida gratuitamente pelo SUS há mais de 10
anos para todos os tratamentos, e seu uso é constante em diversos
hospitais do país. Em Porto Alegre, o Hospital São Lucas da PUCRS
inaugurou esta semana um ambulatório exclusivamente para a aplicação da
toxina na área de neurologia.
As pesquisas com a toxina se iniciaram entre as décadas de 1950 e
1960, quando o oftalmologista americano Alan B. Scott buscava
tratamentos alternativos para o estrabismo. Em 1989, os EUA autorizaram o
uso do medicamento em humanos e a primeira marca a ser comercializada
foi a Botox, do grupo farmacêutico Allergan, e o seu nome se tornou
sinônimo da toxina.
Aqui no Brasil, o botox é usado para fins terapêuticos desde 1992,
muito antes do uso estético, que começou somente nos anos 2000. As
primeiras indicações eram para o estrabismo e o blefaroespasmo (ato de
piscar os olhos de maneira descontrolada e excessiva), mas hoje ele já
pode ser usado para tratar doenças tão diversas como bexiga hiperativa,
cefaleia, paralisias, espasmos musculares e hiperidrose (suor
excessivo).
— A toxina botulínica age entre o músculo e terminação nervosa. O
nervo passa a mandar menos informação para o músculo e,
consequentemente, ele relaxa — explica o neurologista do Hospital São
Lucas, Jefferson Becker.
Devido a esse relaxamento a toxina botulínica é uma importante aliada
para o tratamento de pessoas que sofrem com algum tipo de rigidez
muscular, as chamadas espasticidades. Essa rigidez pode ser consequência
de casos como acidente vascular cerebral, crianças com problemas no
nascimento, traumatismo craniano ou na região da medula, entre outros.
— A toxina botulínica mudou a história do tratamento das
espasticidades, especialmente entre as crianças que sofrem de paralisia
cerebral. Com o músculo relaxado, uma criança que antes não conseguia
colocar o pé inteiro no chão, por exemplo, passa a conseguir. Assim, seu
corpo vai se adaptando e ela aprende a andar melhor, mesmo depois que o
efeito do medicamento tenha passado. Isso reduz consideravelmente a
necessidade de cirurgias — explica o fisiatra, professor da PUCRS e
médico do Hospital São Lucas Carlos Musse.
Vencendo a paralisia
As aplicações de botox fazem parte da vida de Clara de Souza Soares,
hoje com oito anos, que sofre de paralisia cerebral, uma sequela do seu
nascimento prematuro. A paralisia afeta o lado direito do seu corpo,
especialmente nos membros inferiores. Com o uso da toxina botulínica,
ela tem mais liberdade em seus movimentos.
— A toxina era o único tratamento da Clara até os seis anos, quando
ela fez uma importante cirurgia, e sempre teve ótimos resultados. Hoje,
seguimos com as aplicações e, com a ajuda de uma órtese, ela caminha
muito bem e leva uma vida normal — conta a professora, psicopedagoga e
mãe da Clara, Elisangela de Souza Costa.
Combate à cefaleia
Um dos mais recentes usos da toxina botulínica é no tratamento da
enxaqueca crônica. Por meio de aplicações logo abaixo da pele, o
medicamento é capaz de impedir que as terminações nervosas que causam
dor cheguem ao músculo.
A secretaria executiva Ana Paula Medeiros, 29 anos, sofre com dores
de cabeça desde a adolescência. Nos últimos dois anos, sentiu uma piora
nas crises e procurou ajuda médica. Após diversos tratamentos sem
resultado, seu neurologista indicou a aplicação do botox, em maio deste
ano.
— Eu tinha crises muito fortes duas ou até três vezes por semana e
tomava muitos analgésicos.
Depois da aplicação, as dores aparecem com
bem menos frequência — conta a jovem.
Na urologia
Outra área da medicina que utiliza a toxina botulínica é a urologia,
especialmente no tratamento da chamada bexiga hiperativa, quando o
paciente sente uma vontade urgente e desconfortável de urinar, ou quando
ele precisa excessivamente ir ao banheiro no decorrer do dia. A
aplicação da toxina deve ser feita diretamente no músculo da bexiga, por
meio de uma endoscopia.
— Nos casos em que a medicação oral e outros tratamentos não
apresentam resultados, o uso de botox pode ser uma boa alternativa para
evitar as contrações involuntárias do músculo, que causam o problema
—explica o urologista do Mãe de Deus Center e do Hospital Santa Casa de
Porto Alegre, Márcio Averbeck.
O que é a toxina botulínica
A toxina botulínica é um composto altamente venenoso, formado por um
complexo de proteínas e produzido pela bactéria Clostridium botulinum. A
bactéria produz sete tipos de toxina, nomeadas pelas letras A, B, C, D,
E, F e G. A toxina A é a mais potente e a única comercializada no
Brasil. Sua principal aplicação é intramuscular e seu efeito é
naturalmente revertido pelo corpo em aproximadamente quatro meses.
Nem tudo é botox
Apesar de o nome botox ser conhecido como um sinônimo para a toxina
botulínica, há importantes diferenças entre as diversas marcas do
produto disponíveis no mercado. Por se tratar de um medicamento
biológico, ela tem características específicas e diferentes indicações,
efeitos e dosagens. Nem todas as marcas são autorizadas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar todos os
procedimentos com o medicamento.
Como age a toxina botulínica:
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