NO LIMITE DO SAUDÁVEL: EXCESSO DE EXERCICIOS PODE CAUSAR LESÕES

28/08/2011


Alessandra Bueno, ex-atleta de caratê, interrompeu a carreira por ignorar limites do corpo e foi atrás de novas práticas esportivas


Metas inatingíveis e obsessão pela forma física podem trazer problemas.

Aprenda a fugir desta cilada.


O primeiro maratonista de quem se tem notícia morreu ao cruzar a linha de chegada. Diz a lenda que lá pelos anos 490 a.C, os persas foram vencidos pelos gregos na Primeira Guerra Médica. Encarregado de levar a boa notícia da planície da Marathónas até a cidade de Atenas, Filípedes correu cerca de 42 km. Ao chegar ao seu destino, teve tempo apenas de anunciar a vitória e caiu, morto pelo esforço.

A crença que teria dado origem à maratona como competição olímpica pode ser um dos mais antigos relatos de morte súbita em atleta. A morte repentina e as lesões em competidores foram discutidas no 1° Congresso Brasileiro de Artroscopia e Traumatologia do Esporte em Gramado,no último dia 18. De acordo com pesquisas internacionais, a principal causa de morte relacionada ao exercício em indivíduos com menos de 35 anos é a miocardiopatia hipertrófica (doença que engrossa parte do músculo do coração). Uma em cada 500 pessoas teria alguma variação que potencializa o gene para essa enfermidade,mas apenas um percentual pequeno delas vai estar de fato sob risco. Já no indivíduo com mais de 35 anos, é a aterosclerose (gordura que obstrui as artérias do coração) a principal causa de morte súbita, explica o cardiologista e especialista em Medicina do Exercício Ricardo Stein.

 A morte súbita do atleta é rara,mas tem um imenso impacto social porque a pessoa é famosa e porque eram sinônimo de saúde – destaca Jorge Pinto Ribeiro, chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos deVento e doutor em fisiologia do exercício.

Em tempos de abolição do sedentarismo,é até estranho mostrar fatores contrários à prática de exercícios físicos. Mas os extremos são igualmente perigosos. O cardiologista Jorge Pinto Ribeiro explica, que como regra, uma sociedade mais ativa tem mais saúde e consegue-se reduzir uma série de doenças, como hipertensão e diabetes. Na outra ponta,estão aqueles que abusam do que o corpo pode oferecer.

 Os carros mais caros do mundo são os de fórmula 1, e eles vão para conserto todos os dias. Fazendo uma analogia com alguém que trabalhe no limite do desempenho, mesmo que se faça um investimento alto, tende a quebrar — detalha Ribeiro.

Nessas condições, a velha suspeita de que o jovem estaria mais protegido cairia por terra. Para o cardiologista Nabil Ghorayeb, coordenador do Sport Checkup HCor (Hospital do Coração), fazer atividade física requer cautela,independente da faixa etária:

 Esporte não mata, o que mata são as doenças não diagnosticadas ou não valorizadas. Há mais riscos no cenário do alto desempenho. Quem participa de competições deve fazer três coisas: entrevista médica, exame físico e um eletrocardiograma de repouso.

Incerto sobre até onde a máquina humana pode chegar, o traumatologista do esporte Luis Roberto Marczyk recomenda o inverso da competição: a prática de esportes apenas de forma recreativa.

Já o preparador físico Mario Sergio Andrade Silva, um dos principais treinadores de corrida do país, já colocou seu corpo próximo a limites perigosos. Com o tempo,passou a respeitar os sinais de fadiga.

 Os amadores querem ter uma postura de atleta profissional, levar o corpo ao limite, sem a estrutura que o profissional tem. Não existe uma microcâmera dentro do corpo mostrando como o esforço desgasta a médio prazo.O que sabe é que mais gente chega aos 50 anos totalmente arrebentado — avalia Silva.

Ricardo Stein diz que exigir alta performance o tempo todo do organismo não é salutar.

 Em muitas modalidades, o ser humano já chegou próximo do seu limite. A partir de agora é a tecnologia que vai fazer com que sejam alcançadas marcas mais impressionantes ainda — pontua o médico.

Exageros revelam falta de sentido na vida

O prazer proporcionado pelo exercício físico tende a ser viciante. A psicóloga Roberta Lobato, especialista em psicologia do esporte e hospitalar, explica que pessoas ansiosas ou depressivas tendem a colocar toda a sua disposição no esporte como forma de fuga:

Geralmente, dão muita importância para o corpo. Para alguns é a única forma de prazer — analisa.

Alessandra Bueno, 36 anos, quase embarcou nessa. Dos 16 aos 18 anos, era atleta de caratê. Em 1994, teve uma séria lesão no joelho e precisou colocar pinos para fortalecer os ligamentos. Depois de um ano de fisioterapia, ao tentar retomar os treinos, se decepcionou.

Poderia ter tido paciência e voltado aos poucos - lembra Alessandra, que passou a fazer ioga e hoje faz dança flamenca.

Alguns reflexos da alta performance
Alpinismo possibilidades de queda, ferimentos generalizados, cegueira, congelamento e perda dos dedos das mãos e dos pés. Há riscos também de desenvolver problemas respiratórios e congelamento pulmonar pela respiração do pó de gelo, além de falta de oxigenação do cérebro por causa do ar rarefeito.

Boxe constantes golpes na cabeça podem ocasionar deslocamentos do cérebro, microtraumas de repetição e deixar o lutador com sequelas. Há, ainda, mais chances de desenvolver o Mal de Parkinson.

Corrida de aventura envolve trecking, caiaque, escalada e mountain bike, podendo ser individual ou em equipe. As provas duram entre cinco e seis dias, nos quais o atleta não dorme e ainda tem que carregar seu kit de alimentação e primeiros socorros. Causa desorientação e fadiga física extrema, perda de unhas e da pele das solas dos pés, além do aumento do volume do coração.

Endurance em esportes de longa duração, como triathlon e ultramaratonas, leva-se o corpo a extremos e sua recuperação é demorada. Após o término da prova, fica-se vulnerável a lesões e doenças devido à baixa imunidade do corpo, gerada pelo extremo esforço físico. O que causa o desgaste não são as distâncias da competição, mas os exaustivos e longos treinamentos. Atletas são reanimados com soro na veia. Há ainda envelhecimento precoce da pele, por causa da grande desidratação.

Fisiculturismo prática esportiva onde a alimentação e a suplementação não são suficientes para o ganho da massa muscular desejada, direcionando os atletas para medicamentos de uso veterinário, causando desde a perda de membros e distúrbios mentais até a morte. O fisiculturista busca o aperfeiçoamento do físico, mas não tem resistência muscular e aeróbica, assim tem a expectativa de vida encurtada. O excesso de substâncias químicas que injeta também podem prejudicar o funcionamento do fígado e dos rins.

Fonte: Ariel de Deus, educador físico

Sinais de alerta

:: Constantes lesões
:: Falta de apetite
:: Cansaço anormal
:: Irritabilidade
:: Falta de ânimo
:: Perda de força
:: Resfriados frequentes
:: Dores de cabeça
:: Insônia
:: Tremor nas mãos
:: Depressão
:: Ansiedade 



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