10.Jan.14 - 20:50
| Atualizado em 11.Jan.14 - 18:45
Cientistas iniciam pesquisa inédita com células de embriões para
tratar pacientes cegos e criam o primeiro banco público com esses
tecidos para investigar doenças como a esquizofrenia e o Parkinson.
O País está na dianteira de uma série de estudos com células-tronco, uma
das grandes esperanças da medicina para a cura de várias doenças. Da
cegueira ao Alzheimer, pesquisadores brasileiros estão debruçados sobre
as perspectivas de tratamento de diversas enfermidades a partir do
desenvolvimento de novas terapias. Um dos trabalhos pioneiros envolve
células-tronco extraídas de embriões – aquelas que podem se tornar
qualquer tecido do corpo. Começa em fevereiro um estudo inovador com
pessoas cegas em razão da degeneração macular relacionada à idade
(DMRI). É a principal causa de cegueira irreversível em países
desenvolvidos, especialmente na população idosa. A proposta é conter o
progresso da doença e reverter seus danos.“Será a primeira pesquisa no
mundo a usar células embrionárias cultivadas no laboratório para se
diferenciar em tecidos específicos antes de implantá-las no olho”,
explica o oftalmologista Rodrigo Brant, da Universidade Federal de São
Paulo. O tratamento é promissor, mas o pesquisador frisa que não se
aplicará a todos os casos de perda de visão.
CRIAÇÃO
Rehen contempla neurônios (em verde) derivados de células-tronco
Rehen contempla neurônios (em verde) derivados de células-tronco
Outra linha de pesquisa audaciosa está em andamento na FioCruz e no
Hospital São Rafael, ambos na Bahia. Na primeira fase, sete pacientes
paraplégicos (por traumas na coluna) receberam injeções de
células-tronco adultas na medula espinhal (por onde passam os feixes
nervosos que ligam o cérebro ao corpo). Em 2013, o número de pacientes
tratados subiu para 14. “Agora estamos investigando os resultados de
cada um deles para conhecer as características das lesões que respondem
melhor ao tratamento”, diz a cientista Milena Soares, uma das
responsáveis pelo projeto. A maioria recuperou a sensibilidade dos
membros inferiores, passou a ter maior controle da bexiga e houve quem
melhorasse a ponto de andar com a ajuda de aparelhos. Uma das
beneficiadas pelo trabalho é a economista Andrea Damasio, 35 anos, que
participa do estudo há um ano. Ela perdeu os movimentos dos membros
inferiores após cair da escada. “A terapia ajudou a controlar os
espasmos que eu tinha, o que já me permite dar uns passinhos com o
andador, e recuperei a sensibilidade”, diz Andrea.
A regeneração do coração é mais uma frente desafiadora de estudos. As
primeiras pesquisas nessa área sugeriam que a injeção de células-tronco
(tiradas da medula óssea) no coração poderia restituir as células
perdidas no ataque cardíaco. Estudos posteriores revelaram apenas um
aumento na formação de novos vasos. No Instituto do Coração da
Universidade de São Paulo, um estudo de longa duração (mais de seis
anos) está prestes a revelar, afinal, se há alguma vantagem no
procedimento. Ali, metade dos 140 pacientes submetidos à cirurgia de
ponte de safena recebeu, durante a operação, células-tronco adultas no
local a ser recuperado. “Vamos comparar os resultados. As análises serão
divulgadas nos próximos meses”, diz o cientista José Eduardo Krieger,
que coordena o trabalho.
AVANÇO
Brant, da Unifesp, usará células-tronco embrionárias na tentativa
de brecar a cegueira causada por doença degenerativa
Brant, da Unifesp, usará células-tronco embrionárias na tentativa
de brecar a cegueira causada por doença degenerativa
No campo das doenças mentais, o neurocientista Stevens Rehen lidera
uma revolução no estudo da esquizofrenia. Ele está trabalhando com
células reprogramadas (induzidas, em laboratório, a voltar ao estágio
embrionário e posteriormente convertidas em outros tecidos do corpo). O
grupo de Rehen reprogramou células da pele de pessoas com esquizofrenia
para criar neurônios. “Constatamos que o cérebro desses pacientes
consome duas vezes mais oxigênio do que o normal”, explica o
pesquisador, que coordena o Laboratório Nacional de Células-Tronco do
Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Além disso, o grupo conseguiu recentemente converter células
da urina em neurônios. “Essa nova técnica facilitará estender a pesquisa
a pacientes com outros transtornos mentais, inclusive crianças e
idosos”, diz. Rehen está recrutando mais pacientes com esquizofrenia
para ampliar o estudo.
Mais uma tendência é o surgimento de coleções de células-tronco para o
estudo de doenças e testes com medicamentos. “Temos já um banco de
células-tronco e células reprogramadas de mais de 300 pacientes com
doenças genéticas. Elas permitirão estudos importantes”, diz a
geneticista Mayana Zatz, que dirige o Centro do Genoma e Células-Tronco
da USP. Também está em formação um acervo nacional de células
reprogramadas, o primeiro do gênero na América Latina. Será voltado para
o estudo de problemas como Alzheimer, Parkinson e mais 15 enfermidades.
A iniciativa envolve diversas instituições, é pública e tem apoio do
Ministério da Saúde. “É um grande passo”, aprova o hematologista Nelson
Hamerschlack, do Hospital Albert Einstein. Ele avaliou o impacto do
transplante de células-tronco da medula óssea do próprio paciente com Esclerose Múltipla. “Em 75% dos casos, os sintomas melhoraram ou a
doença ficou estabilizada”, diz. Hamerschlack planeja iniciar estudos
com pacientes com a doença em estágio mais precoce.
CONQUISTA
Andrea ficou paraplégica por causa de uma queda da escada. Após terapia
com células-tronco, consegue dar alguns passos com ajuda de aparelhos
Andrea ficou paraplégica por causa de uma queda da escada. Após terapia
com células-tronco, consegue dar alguns passos com ajuda de aparelhos
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