ALONGUE-SE NA MEDIDA CERTA

27 de julho de 2013 |   FISIOLOGIA
 
O ALONGAMENTO AJUDA OS MÚSCULOS A SUPORTAR A TENSÃO DIÁRIA, MAS, DEPENDENDO DA FORMA E DO MOMENTO EM QUE É REALIZADA, A PRÁTICA PODE ATÉ PREJUDICAR
 
 
Estique as pernas, inspire, desça o tronco até alcançar a ponta dos pés. Um, dois, três, expire.... Permaneça alguns segundos na posição e retorne lentamente...

Quem já praticou exercícios físicos, provavelmente sabe do que se trata o processo acima: o famoso e indispensável alongamento. A maioria de nós cresceu ouvindo que se deve alongar o corpo antes e depois de qualquer prática esportiva para evitar lesões e dores, já que os benefícios são incontáveis para o bem-estar físico e mental. Mas será que é bem assim?

O alongamento hoje divide a opinião de especialistas. Enquanto alguns afirmam que o processo só traz benefícios, outros defendem que, dependendo do momento e da forma como é realizado, pode não ajudar em nada os atletas e inclusive trazer prejuízos.

Muitos estudos têm demonstrado que o alongamento estático (quando a pessoa permanece parada na posição por alguns segundos, sentindo o músculo estirar aos poucos) diminui temporariamente os níveis de força máxima e a potência muscular. Uma das investigações mais recentes sobre o assunto, realizada na Universidade de Zagreb, na Croácia, acirrou ainda mais este debate.

A pesquisa reuniu mais de uma centena de estudos anteriores que avaliaram o desempenho físico de voluntários em modalidades como corrida e natação após realizar, ou não, um alongamento estático. Os resultados mostraram que a prática pode reduzir a força dos músculos em até 5,5% e diminuir o desempenho de atletas, em especial dos profissionais, sem reduzir as chances de se lesionar. Diante do impasse, surge a dúvida: enfim, devemos nos alongar?

Para Alex de Oliveira Fagundes, educador físico e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Escola de Educação Física (ESEF) da UFRGS, é preciso diferenciar, em primeiro lugar, o efeito momentâneo do alongamento daquele obtido a longo prazo. Nesse sentido, os estudos indicam que, apesar de em alguns casos promover a perda temporária de força, a prática traz inúmeros benefícios aos tecidos biológicos a longo prazo, e por isso ela deve ser inserida na rotina de sedentários e de atletas amadores e profissionais:

Alongamentos intensos logo antes de determinados exercícios físicos podem diminuir o desempenho do esportista por até uma hora, pois eles relaxam os músculos. Mas eles podem melhorar muito a qualidade de vida se forem feitos nos momentos corretos.

O ideal é que o alongamento seja adequado ao estilo de vida de cada um. Isso inclui exercícios no ambiente de trabalho, ao acordar e antes de dormir, não se limitando apenas aos que são realizados dentro das academias.

Quem trabalha muito tempo na mesma posição, por exemplo, pode comprometer o fluxo da circulação sanguínea e, por isso, deve se esticar de tempos em tempos, explica Fagundes.

FLEXIBILIDADE MUSCULAR

 

A fisioterapeuta e professora do curso de Fisioterapia da UFRGS Adriana Moré Pacheco explica que alongar os músculos é essencial para pessoas de todas as idades, independentemente da quantidade de exercícios que praticam, desde que sejam respeitadas as características de cada indivíduo. Adriana destaca que tanto aqueles que se exercitam regularmente quanto os sedentários sofrem encurtamento das fibras musculares, o que pode provocar pontos de tensão, dor e diminuição da flexibilidade.

A fisiologia é clara: músculos tensos e encurtados limitam a amplitude normal de movimento, podendo, em alguns casos, gerar dores devido a uma precária flexibilidade – destaca Fabrício Duarte, fisioterapeuta e coordenador do curso de Fisioterapia da UniRitter.

Duarte avalia que, com a prática regular de alongamentos, os músculos passam a suportar melhor as tensões diárias e dos esportes. A flexibilidade é uma capacidade física que deve ser trabalhada sempre, seja para o alto nível esportivo, seja para melhorar a qualidade de vida.

Para que esses resultados sejam conquistados, o exercício deve ser supervisionado por um profissional. O tempo e a frequência das sessões devem ser adaptados a cada pessoa, conforme a idade, limitações físicas e estilo de vida, e por isso é importante que sejam avaliados por um especialista, ressalta Duarte.

ESPICHANDO A QUALIDADE DE VIDA

 

Foi a busca por uma melhor qualidade de vida que aproximou a professora de música Tânia Paesi, 51 anos, dos exercícios de alongamento. Quem a vê hoje, participando de maratonas e correndo pelo menos duas vezes por semana, não imagina que, quando adolescente, ela não conseguia nem caminhar corretamente.

Devido a sérios problemas na coluna, Tânia teve que usar um colete para limitar os movimentos e inclusive sapatos com saltos de alturas diferentes para corrigir o encurtamento de músculos nas pernas. Além de não praticar exercícios, sua postura inadequada prejudicava praticamente tudo o que ela fazia:

Eu era muito encurtada. Tinha tantos problemas na coluna que, muitas vezes, quando me sentava, sentia tonturas e ânsia de vômito. Vivia com dor e tomando remédios – recorda.

Foi aos 32 anos, quando o médico previu dois destinos possíveis pela frente, que a professora resolveu mudar:

Ele me disse que eu tinha duas alternativas: ou fazer uma operação, ou procurar um profissional e mudar meus hábitos para toda a vida. Escolhi a segunda opção.

Com a ajuda do educador físico Alex de Oliveira Fagundes, Tânia mudou radicalmente a rotina. Inicialmente realizando exercícios leves para reduzir as tensões e realinhar a musculatura, ela foi aos poucos reconquistando a autonomia de seu corpo. Hoje, quase duas décadas depois, a professora comemora as mudanças físicas e emocionais de inserir o alongamento como uma prática diária:

Me estico todos os dias, independentemente de onde esteja. Se estou viajando, sempre dou um jeito, pois somente assim parei de sentir dor. O alongamento me abriu portas para realizar outras atividades físicas. Hoje corro, faço ginástica funcional e me sinto muito mais jovem do que quando tinha 20 anos.

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