APÓS MORTES EM SÃO PAULO, GOVERNO REFORÇA COMBATE AO H1N1...ENTENDA

22 de maio, 2013

Especialista sugere incentivar vacinação contra gripe  
Dados divulgados nesta terça-feira sobre o avanço do H1N1, conhecido como gripe suína, em São Paulo fizeram o Ministério da Saúde adotar novas medidas para reforçar a estratégia de combate à doença.


Entre as informações, a mais alarmante é a de que o Estado de São Paulo concentrou – até a semana passada – 90% das mortes por esse tipo de gripe. No total, dos 61 óbitos, 55 ocorreram em São Paulo.

Apesar de não usarem o termo surto, tanto o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, como o o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, Claudio Maierovitch, expressaram preocupação e anunciaram novas ações para lidar com a situação.

"Estamos muito preocupados", disse Maierovitch. "Enviamos para o Estado de São Paulo uma equipe para investigação detalhada dos óbitos."

Mas quais os motivos por trás do aumento no número de vítimas da gripe H1N1? Como o governo vai lidar com isso? Qual o tratamento mais apropriado? Veja abaixo uma série de perguntas e respostas que a BBC Brasil preparou para destrinchar o tema:

Por que São Paulo foi o Estado mais atingido?

A maior suspeita do Ministério da Saúde é a de que haja lentidão por parte dos profissionais de saúde em receitar o uso do medicamento antiviral Tamiflu (oseltamivir).

Pela estratégia do governo, o remédio deve ser aplicado nas primeiras 48 horas após a suspeita da doença, sem que haja necessidade de se confirmar o diagnóstico por exame laboratorial.

Durante coletiva em Brasília, o ministro Alexandre Padilha citou um estudo sobre mortes causadas pelo vírus H1N1 no ano passado no Rio Grande do Sul e observou que apenas 5% dos pacientes receberam Tamiflu nas primeiras 24 horas.

"O tratamento deve ser iniciado de imediato, sobretudo para pessoas que estão no grupo de risco", afirmou Padilha. "Não se deve esperar a confirmação laboratorial ou o agravamento do caso."
As declarações chegaram a ser interpretadas como uma mudança na recomendação sobre o uso do antiviral, com o prazo sendo reduzido de 48 para 24 horas. O Ministério da Saúde afirmou, no entanto, que o protocolo de ação contra o H1N1 permanece o mesmo.

Que medidas o governo decidiu tomar para lidar com a situação?

A principal medida anunciada nesta terça-feira pelo Ministério da Saúde é alertar médicos, tanto do serviço público como os que atendem planos de saúde, para que receitem Tamiflu mais rapidamente.
"O importante é incentivar uma mudança de comportamento no profissional de saúde. É preciso que eles entendam que a gripe não tem nada de banal e que, no caso de suspeita de H1N1, é preciso receitar o Tamiflu em menos de 48 horas", afirma o infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.

Estatísticas de anos anteriores confirmam esse cenário. Segundo o governo, serão organizadas reuniões e videoconferências para alertar e instruir hospitais e centros médicos, além da distribuição de 1,2 milhões de doses de Tamiflu e da liberação de recursos para os Estados mais afetados.

Se os sintomas da H1N1 são tão parecidos com os da gripe comum, como determinar quem deve receber o Tamiflu?

A orientação é receitar o antiviral para todas as pessoas que fazem parte do grupo de risco e que apresentem sintomas de gripe, sem aguardar resultados de laboratório ou sinais de agravamento.
Integram esse grupo crianças menores de 2 anos, gestantes, puérperas (mulheres nos 45 dias após o parto), idosos, obesos e doentes crônicos.

Para quem não faz parte desse segmento mais vulnerável, o Tamiflu deve, segundo o Ministério, ser receitado para pacientes com sinais de agravamento de do quadro gripal, com sintomas como febre alta por três dias e dificuldade para respirar.

É preciso fazer o teste para se comprovar H1N1?

Apesar de ser possível determinar se há o vírus H1N1 com o teste, ele não é indicado porque seu resultado pode não vir a tempo do prazo indicado para se começar a tomar o Tamiflu.

"Apesar de haver exames de resultado rápido, eles não são eficazes especialmente porque podem não estar disponíveis no local onde o paciente está", afirma o infectologista da Unesp.
Assim, o governo está fazendo o teste apenas para identificar melhor o vírus em circulação este ano.

Planos de saúde cobrem o teste?

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar, não há cobertura obrigatória pelos planos de saúde para exames que detectam a gripe H1N1.

Os números apresentados pelo governo são atuais?

Sim, foram coletados até 12 de maio. Os municípios não são obrigados a reportar a instâncias superiores todos os casos de H1N1. No entanto, devem fazer a notificação obrigatória e imediata nos casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Por isso, o governo federal tem números relativamente atualizados.

O que o governo deve fazer para evitar um cenário parecido no ano que vem?

Além de alertar médicos a receitar Tamiflu nos casos citados acima, o infectologista Carlos Magno Fortaleza vê como prioridade incentivar uma maior adesão à vacina contra gripe.

"A vacina da gripe é constantemente bombardeada por boatos de que faz mal, de que tem efeitos colaterais... Há sempre idoso que não querem tomar. Neste ano, muitas grávidas não tomaram e isso certamente está relacionado a esses boatos. Muitos obstetras ainda temem essa vacina", diz. "É preciso pensar em uma estratégia de como divulgá-la melhor e acabar com esses temores infundados."

Há mais casos de H1N1 neste ano em relação a anos anteriores?

Ainda não. De 1º de janeiro a 12 de maio de 2013, foram notificados em todo o país 4.713 casos mais graves de gripe, classificados como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Destes, 388 casos foram confirmados para o vírus Influenza A(H1N1). No mesmo período deste ano, foram confirmados 61 mortes por H1N1.

Durante o ano de 2012, foram registrados 20.539 casos da SRAG, sendo confirmados 2.614 para A (H1N1). No ano passado, foram contabilizadas 351 mortes por esse vírus. Em 2011, foram 113 mortes e em 2010, 21.

A epidemia de H1N1 ocorreu em 2009, quando foram registrados mais de 50 mil casos, sendo 2.060 mortes.

Qual a diferença entre a gripe comum e a influenza A (H1N1), também conhecida como Gripe A ou gripe suína?

Elas são causadas por diferentes subtipos do mesmo vírus da influenza. O subtipo A (H1N1) produziu a pandemia de 2009 e continua circulando como mais um dos subtipos do vírus da influenza.


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