Quinta, 05 de setembro de 2013
Atualmente o País conta com seis medicamentos para a patologia, porém o SUS não disponibiliza os medicamentos mais modernos
A Câmara dos Deputados de Brasília recebeu nesta semana membros do
Movimento dos Pacientes de Esclerose Múltipla (MOPEM) e associações de
pacientes de São Paulo, Goiânia e Brasília para debater o panorama da
assistência fornecida aos portadores da doença no Brasil e reivindicar
um tratamento mais completo e humanizado pelo Sistema Único de Saúde
(SUS). Além do MOPEM, o encontro teve a participação da Associação
Goiana de Esclerose Múltipla (AGEM), médicos especialistas e dos
deputados Marçal Filho (PMDP/MS) e Mara Gabrilli (PMDB/SP).
Cleuza de Carvalho Miguel, Presidente do MOPEM e Conselheira no
Conselho Nacional de Saúde (CNS), destacou as conquistas dos movimentos
sociais para o avanço da saúde pública. “Se não fosse o movimento
social, os pacientes com esclerose múltipla (EM) não teriam acesso a
medicamentos essenciais para tratar a doença. Agora é o momento de
atualizar o tratamento com as novas opções que foram desenvolvidas para
melhorar a nossa qualidade de vida”, argumenta. A ativista, que também
sofre de esclerose múltipla, defende a inclusão do tratamento via oral
no SUS, uma alternativa às injeções. “Independente da quantidade de
pessoas com a doença, o governo não pode negar o acesso gratuito a esses
medicamentos”.
Um Projeto de Lei do deputado Marçal Filho, em tramitação na Câmara dos
Deputados, visa garantir um tratamento mais adequado para pacientes com
EM pelo SUS. “Caso seja aprovado, serão oferecidos atendimentos
específicos multidisciplinares que incluem fisioterapia, fonoaudiologia,
psicologia, terapia ocupacional, hidroterapia, ioga e nutrição. Eles
devem ser prescritos por hospitais públicos, melhorando a reabilitação
do paciente diagnosticado com esclerose múltipla”.
Durante o debate, a deputada Mara Gabrilli pontuou falhas no
cumprimento das políticas públicas, prejudicando os doentes. “Apesar de
haver uma política pública para doenças raras, pacientes morrem sem
atendimento ou são recebidos por profissionais sem capacitação. Além
disso, o remédio não chega quando é necessário”.
Eduarda Assis, Diretora da Associação Goiana de Esclerose Múltipla,
questionou a falta de engajamento do governo brasileiro para aplicar
campanhas nacionais de esclarecimento sobre EM. “O estado que tem mais
alta incidência de EM é Goiás. Uma possível razão é que a população
local tem mais acesso a informações sobre a doença e consegue
identificá-la com mais facilidade”, explica. Um exemplo de ação de alto
impacto na cidade é a Meia Maratona em Movimento, voltada à
conscientização sobre EM.
No Brasil estima-se que 25 mil pessoas tenham esclerose múltipla, uma
doença que acomete principalmente mulheres jovens. Crônica e incurável, a
doença afeta o cérebro e a medula espinhal (sistema nervoso central).
Ela é causada por uma inflamação na bainha de mielina, tecido protetor
que envolve as células nervosas. Essa inflamação diminui ou interrompe
os impulsos nervosos. Os sintomas mais comuns são visão dupla, rigidez,
fraqueza, falta de equilíbrio, dormência, dor, problemas no controle da
bexiga e intestinos, fadiga, entre outros.
Ao contrário do que muitos imaginam, a esclerose múltipla não afeta
somente pessoas mais velhas. “Neste caso, é justamento o contrário. Quem
apresenta mais a doença são mulheres jovens (entre 20 e 30 anos). No
entanto, a doença pode acometer homens, crianças e eventualmente,
pessoas acima dos 50 anos”, explica Dr. Eber Castro Correa, neurologista
do Instituto do Cérebro de Brasília (ICB).
O tratamento da esclerose múltipla tem dois objetivos principais:
reduzir a fase aguda e aumentar o intervalo entre um surto e outro. No
primeiro caso, recomenda-se o uso de corticosteroides para reduzir a
intensidade dos surtos. No segundo, os imunossupressores e
imunomoduladores ajudam a espaçar os episódios de recorrência e o
impacto negativo que provocam na vida dos pacientes de esclerose
múltipla.
A nova opção terapêutica, o medicamento oral, proporciona uma melhora
cognitiva dos sistemas funcionais, motores e sensitivos. O tratamento
oral já é utilizado em mais de 70 países. Apesar de aprovado pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, não é
disponibilizado pelo Sistema Público de Saúde.
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