11/09/2013 - 14:41
"Tratando-se a Esclerose Múltipla (EM) de uma doença crónica, o
médico de família (MF) deveria ser o 'gestor' do doente e da doença, em
colaboração com o centro de Neurologia", considera Lívia de Sousa, chefe
de serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra (CHUC). Porém, afirma, "tradicionalmente, não há essa visão de
interdisciplinaridade, mas o doente com EM é uma pessoa que necessita
dos mesmos cuidados médicos que os outros utentes, com o acréscimo do
tratamento das consequências/complicações da doença", avança o portal
Vital Health.
Segundo indica, o MF deve encaminhar o doente para o neurologista quando surgirem os primeiros sintomas ou sinais da doença. A especialista menciona que são sinais de alerta a visão dupla, a visão nublada, geralmente mono-ocular, acompanhada de dor retro-orbitária, o défice motor em um ou mais membros e as alterações da coordenação e do equilíbrio.
Lívia de Sousa acrescenta que as alterações sensitivas constituem outro
sintoma que está presente em 40% dos doentes e que é frequentemente
desvalorizado. "Deverão ser valorizados, se muito intensos e
persistentes, e descritos como sensação de 'queimar' ou 'arrancar', ou
de 'aperto'", adverte.
Nos casos típicos, a especialista refere que o diagnóstico de EM pode
ser "relativamente simples, com recurso a uma ressonância de crânio e
habitualmente medula, que têm aspectos relativamente típicos, mas não
específicos, e a análises do sangue".
No entanto, salienta, "frequentemente, efectua-se uma punção lombar
para diagnóstico diferencial e para pesquisa de bandas oligoclonais, que
estão presentes em cerca de 90% dos casos, indicativas de inflamação
intratecal, mas não específicas de EM". Adicionalmente, "os potenciais
evocados podem também dar suporte ao diagnóstico, particularmente nos
casos atípicos".
O impacto da EM no dia-a-dia
Ainda que a EM possa ser "relativamente benigna", o impacto da doença é
"necessariamente pesado", alerta Lívia de Sousa, concretizando que,
"apesar do clínico dispor de algumas pistas de prognóstico, a questão é
que, no caso individual, só no final é que se sabe concretamente o que
se passou".
A neurologista salienta o impacto do diagnóstico de uma doença potencialmente incapacitante num doente em plena idade mais produtiva da vida. "É tremendo o medo de muitos doentes e famílias, para além de todo o custo social e económico da doença. E é preciso não esquecer as questões inerentes aos custos das terapêuticas, ao facto de os fármacos de primeira linha serem injectáveis e os de segunda linha levantarem questões de segurança".
Lívia de Sousa explica que, no início, a maioria dos doentes tem uma doença que evolui por surtos, com razoável recuperação da incapacidade após cada surto. "Ao fim de um tempo, variável entre 10 e 15 anos, até 60% dos doentes estariam condenados a entrar na fase secundária progressiva, em que a progressão da incapacidade é inexorável e independente dos surtos", indica, acrescentando acreditar-se que, com a medicação efectuada de forma adequada e atempada, este prognóstico possa ser melhorado.
"Com a progressão da incapacidade, os doentes vão ficar com várias deficiências e, gradualmente, perdem a autonomia", afirma.
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