15/06/2013
Redução do cérebro de uma paciente com Esclerose Múltipla.
Neurologista usa régua do
computador para identificar redução milimétrica a partir de imagens de
ressonância magnética. Estudo alerta para a evolução da doença mesmo em
casos que clinicamente são considerados estabilizados.
Ainda incurável e de causas não identificadas, a esclerose múltipla
desafia a medicina. A partir de um estudo relativamente simples, um
pesquisador do Rio de Janeiro faz um alerta: mesmo os pacientes com a
doença estabilizada podem ter atrofia no cérebro. A atrofia pode ter
consequências graves e, em casos extremos, levar à impossibilidade de
andar ou à demência. O médico Fernando Figueira, chefe do departamento
de neurologia do Hospital São Francisco e membro da American Society of
Neuroimaging, constatou, através de estudo com um grupo de 191
pacientes, que mesmo em casos em que a doença não traz alterações
perceptíveis, podem estar em curso alterações no cérebro – o que
representa, por ano, a ausência de alguns milhões de neurônios. Figueira
desenvolveu um método relativamente simples para detectar a diminuição
no tamanho do cérebro. Agora, sugere que a nova metodologia seja
incorporada ao tratamento dos portadores da doença: uma medição simples,
com uma régua disponível, por exemplo, no software de edição de textos
Word, da variação milimétrica que indica o processo de atrofia do
cérebro.
O trabalho foi apresentado na última quinta-feira no XIV Congresso
Brasileiro de Esclerose Múltipla, em Foz do Iguaçu. Em percentual, uma
pessoa chega a perder por ano 1,3% do corpo caloso (que, quando
danificado, diminui o processamento das informações). Os 191 pacientes
estudados foram diagnosticados há 10 anos com Esclerose Múltipla. Desse
total, 89 não apresentaram piora na capacidade de compreensão, não
tiveram novas lesões no cérebro nem crises – que ocorrem quando é
danificada a mielina, substância que envolve e protege as fibras
nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico, causando
escleroses. E destes 89, 43 pacientes considerados estáveis tiveram
redução intensa do cérebro, na comparação com o grupo controle. “Os
exames não são eloquentes em relação à atrofia do cérebro”, pondera
Figueira, explicando o porquê de se debruçar sobre uma nova forma de
fazer a medição.
A percepção de que a doença se manifestava mesmo em pacientes sem
crises, como as que deixam a visão dupla, foi uma observação dos médicos
no final dos anos 90. Em 1994, chegaram os remédios para tratar das
lesões agudas provocadas pela esclerose múltipla. Com o tempo, os
pacientes deixaram de apresentar problemas graves, mas ainda se
queixavam de lentidão para entender comandos e de baixo rendimento no
trabalho. “Começamos a trabalhar essa doença invisível até então”,
explica Figueira.
“Elaboramos uma metodologia simples para que o neurologista sem acesso a
uma tecnologia avançada pudesse fazer uma medida confiável para avaliar
a perda celular. E propusemos que a medição fosse feita através da
ressonância magnética, que pode ser realizada em qualquer centro de
imagem”, diz Figueira.
A atrofia cerebral dos pacientes é detectável no começo da doença, com
dois ou três anos de Esclerose Múltipla. “O avanço é rápido no início.
E, normalmente, aparece em pessoas ainda consideradas jovens e em plena
atividade”, explica o neurologista. Com os resultados dos estudos,
Fernando afirma: “Temos que mudar a estratégia de olhar para o doente e
perceber melhor qual é o paciente que está piorando. É preciso que estes
sejam tratados de forma mais agressiva. Temos que desenvolver novos
remédios para controlar essa atrofia do cérebro. Estamos tratando de
pneumonia com remédio para febre”, compara.
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