UMA DOR INSUPORTÁVEL

03 de dezembro de 2011 
 

Estimativa é de que 300 milhões de pessoas sofrem de enxaqueca e grande parte usa remédios sem prescrição.

Enxaqueca crônica incomoda 2% da população mundial e intriga médicos.

O autor da fábula Alice no País das Maravilhas, Charles Lutwidge Dodgson, conhecido pelo pseudônimo de Lewis Carroll, sofria de enxaqueca. Há quem acredite que as transformações físicas da personagem Alice são baseadas nas crises de enxaqueca de Dodgson, pois muitos pacientes com enxaqueca descrevem sensações de distorção de tamanho – tecnicamente chamadas micropsia e macropsia.

Para mais de 300 milhões de pessoas que sofrem de enxaqueca (dados da Organização Mundial de Saúde, OMS), a dor lancinante característica dessa cefaleia debilitante dispensa descrição. Para os que não sofrem com ela, a comparação análoga mais próxima talvez seja o mal-estar severo provocado pela altitude: náusea, sensibilidade à luz e uma cefaleia insuportável.

Registros históricos indicam que essa doença está entre nós há pelo menos 7 mil anos e continua uma das mais incompreendidas, menos reconhecidas e mais inadequadamente tratadas. Pois a enxaqueca, finalmente, começa a receber a atenção que merece. E parte dessa atenção é resultado de estudos epidemiológicos que revelaram o quanto essas cefaleias são incapacitantes: um relatório da OMS descreveu a enxaqueca como uma das quatro doenças crônicas mais comprometedoras.

A frequência, duração, experiência e catalisadores dos episódios diferem enormemente. As vítimas têm, em média, um ou dois dias inteiros de crise por mês. Contudo, 10% têm crises semanais. Para 20%, elas duram de dois a três dias. E cerca de 14% são acometidos por mais de 15 dias ao mês.

Segundo o neurologista Sérgio Spritzer, do Instituto Neurocom, a enxaqueca é causada por uma contração exagerada da parede de pequenas artérias do cérebro, ocasionando a falta transitória de oxigênio e nutrientes. Ele explica que, com isso, aparecem dores e manifestações de deficiências neurológicas focais, como manchas claras ou escuras na visão, dormência, tonturas e desequilíbrio.

Este ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a toxina botulínica (botox) para pacientes que apresentam mais de 15 dias de dor de cabeça por mês, e que cada crise tenha a duração média de quatro horas diária. O neurologista Alexandre Kaup explica que a substância é aplicada em várias partes da cabeça e pescoço e pode substituir ou reduzir medicamentos. Porém, o efeito não é imediato e as aplicações precisam ser refeitas periodicamente.


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