ESCLEROSE MÚLTIPLA GANHA NOVAS OPÇÕES DE TRATAMENTO

5 de dezembro de 2011
 




Primeira droga em cápsula foi lançada agora no país e outras estão em teste.

Acaba de ser lançado no país o primeiro de uma série de novos remédios por via oral para tratar a Esclerose Múltipla, doença do sistema nervoso que atinge cerca de 30 mil brasileiros.

Hoje, o tratamento é feito com injeções, que podem ser tomadas de forma semanal, a cada 48 horas ou todo dia, dependendo do caso.

A vantagem do remédio em cápsulas é óbvia para o paciente, que se livra das injeções e de efeitos colaterais da medicação atual, como sintomas similares aos da gripe.

Os tratamentos têm por objetivo reduzir a ocorrência de períodos de crise, em que os sintomas da esclerose - perda de equilíbrio, mobilidade, sensibilidade, dores, entre outros - manifestam-se de forma mais forte.

Acredita-se que a Esclerose Múltipla aconteça porque as células de defesa da pessoa começam a atacar os neurônios, as células do sistema nervoso, destruindo seu revestimento, a mielina. Os danos à mielina e ao nervo dificultam a passagem dos impulsos elétricos e causam os sintomas da Esclerose. 

Cada pessoa tem um ritmo na progressão da doença, a qual, em estágio avançado, pode trazer complicações pela falta de mobilidade, de controle urinário e pela dificuldade de engolir alimentos.
O interferon, remédio injetável usado hoje, tem uma ação anti-inflamatória e protege o cérebro contra maiores danos nervosos. Isso previne as crises periódicas sofridas pelos pacientes.

As novas drogas agem sobre as células de defesa. A que foi lançada agora no país, chamada de Gilenya (fingolimode) e produzida pela Novartis, impede que alguns linfócitos (células do sistema imune) saiam dos linfonodos, onde eles são produzidos.

Segundo a neurologista Maria Cristina Giacomo, esses linfócitos têm uma 'memória' das células nervosas que são alvo dos ataques. Essa lembrança os torna mais eficientes para reconhecer e atacar as células.

'A droga sequestra os linfócitos pré-marcados contra o sistema nervoso, eles ficam retidos', diz a neurologista, que dá apoio médico à Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla) e trabalha no ambulatório de esclerose múltipla da Faculdade de Medicina do ABC.

Como o remédio é novo, ainda estão sendo acompanhados os seus efeitos colaterais. Segundo Giacomo, como parte dos linfócitos é tirada de circulação, é possível um aumento de infecções oportunistas. 'É preciso monitorar os linfócitos periodicamente.'

No entanto, ela destaca a vantagem da via oral, já que a necessidade de tomar injeções e os efeitos colaterais do interferon reduzem a adesão dos pacientes ao tratamento. 'É mais uma opção para pacientes que não se tratavam por causa da agulha ou não respondem ao medicamento convencional.'

O custo do remédio deve ser de R$ 7.039 por mês. Giacomo espera que a droga, assim como a atual, fique disponível no SUS em 2012.

Outra droga por via oral, o dimetil fumarato, do laboratório Biogen Idec, já passou por testes de fase 3 (os últimos antes da liberação do remédio no mercado).

Ele reduz a ação inflamatória detonada pelo sistema imune e que ataca as células do sistema nervoso central, reduzindo os episódios de crise. Ainda há mais uma substância em teste, também por via oral, que age nas células de defesa. A teriflunomida, da Sanofi-Aventis, já passou por estudos de fase 3.

 DEPOIMENTO
 

O biomédico Ronaldo Marques, 51, recebeu o diagnóstico de Esclerose Múltipla em 2003. Ele começou a fazer equoterapia (programa de reabilitação com cavalos) e, hoje, participa de competições de hipismo.

'Tinha sintomas desde 1998. Sentia dor de cabeça, visão dupla. Fui a neurologistas, fazia ressonâncias magnéticas e falavam que era estresse, fadiga, labirintite. Tudo menos esclerose. Até que, em 2003, fui a um médico que olhou meu primeiro exame e disse que era esclerose. Sou biomédico e tinha uma noção do que era essa doença. Mas isso era para os outros. Quando foi a minha vez, chocou bastante.

Comecei logo o tratamento, injeções que eu tomava uma vez por semana. Com o tempo, passou a ser dia sim, dia não. Estou há dois anos sem surto. Mas a gente nunca se acostuma ao remédio. Tem efeitos colaterais, tremores, dor muscular.

Trabalhava em um hospital e tive de me aposentar. Ofereceram tratamentos alternativos e me identifiquei mais com a equoterapia. Tanto que, agora, participo de competições de hipismo clássico, já há dois anos. Faço fisioterapia também. Preciso estar sempre em movimento. Acho animador ter remédio via oral. É chato tomar as injeções, e acabo deixando de fazer algumas coisas por causa dos efeitos colaterais.'


PERGUNTAS E RESPOSTAS


O QUE É A ESCLEROSE MÚLTIPLA?


A Esclerose Múltipla é uma doença autoimune que afeta o cérebro e a medula espinhal (sistema nervoso central). Podendo ser chamada também de esclerose disseminada.


QUAIS AS CAUSAS, INCIDÊNCIA E RISCO?


A Esclerose Múltipla (EM) afeta mais mulheres do que homens. A doença geralmente começa entre 20 e 40 anos, mas pode desenvolver-se em qualquer idade. A EM é causada por dano à bainha de mielina, cobertura protetora que envolve as células nervosas. Quando esse revestimento protetor é danificado, os impulsos nervosos diminuem ou são interrompidos. É uma doença progressiva, o que significa que o dano ao nervo (neurodegeneração) piora com o tempo. A velocidade com que a EM se agrava varia de pessoa para pessoa. O dano ao nervo é causado pela inflamação. A inflamação ocorre quando as células autoimunes do corpo atacam o sistema nervoso. Episódios repetidos de inflamação podem ocorrer em qualquer área do cérebro ou da medula espinhal. Os pesquisadores não sabem com certeza o que desencadeia a inflamação. As teorias mais comuns apontam para um vírus ou defeito genético, ou para uma combinação de ambos.


Todas as doenças que têm esclerose são iguais?


Esclerose é um termo muito usado em várias situações em medicina, não apenas em doenças, mas também em tratamentos (por exemplo, esclerose devarizes). No que diz respeito a doenças, o termo 'esclerose' é utilizado em muitos casos, que geralmente não são relacionados entre si. Esclerose Múltipla é uma doença restrita ao sistema nervoso central (encéfalo e medula); já a Esclerose Lateral Amiotrófica é outra doença com causa, sintomas e evolução completamente diferentes. Talvez a confusão mais comum ocorra com a expressão popular 'ficar esclerosado', que se refere às pessoas, geralmente mais idosas, que começam a apresentar progressivamente perda de memória e capacidade de se cuidar sozinho. Essa 'esclerose' é derivada do termo médico aterosclerose, que é uma doença das artérias, e não tem nada a ver com Esclerose Múltipla ou Esclerose lLateral Amiotrófica.


QUAIS OS PAISES QUE SÃO MAIS AFETADOS?


A EM ocorre mais frequentemente no norte da Europa, no norte dos Estados Unidos, no sul da Austrália e na Nova Zelândia do que em outras regiões. Os estudos geográficos indicam que pode haver um fator ambiental envolvido. As pessoas com um histórico familiar de EM e aqueles que vivem em zonas geográficas com maior taxa de incidência de EM têm um risco maior de desenvolver a doença.

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