TAMBÉM FAZ MAL CUIDADO COM O EXAGERO

23 de agosto de 2014

AS VITAMINAS SÃO FUNDAMENTAIS PARA O BOM FUNCIONAMENTO DO CORPO, MAS DOSES EM DEMASIA DE SUPLEMENTOS COM ESSES MICRONUTRIENTES PODEM DESEQUILIBRAR O ORGANISMO E CAUSAR PROBLEMAS QUE VÃO DE CÁLCULOS RENAIS A CÂNCER.

 

 

De A a zinco, em gotas ou comprimidos, doces ou amargos, os suplementos vitamínicos já são parte do cardápio diário de milhões de pessoas ao redor do mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos um terço da população global tome esses complexos diariamente. E por aqui não é muito diferente. Seguindo o modelo americano, onde o mercado de suplementos movimenta mais de US$ 28 bilhões por ano, a indústria brasileira conta com uma grande diversidade de produtos, já que não faltam consumidores que optam pelo uso muitas vezes sem controle – e por isso, perigoso – das cápsulas.

Para esses, a lógica parece simples: vitaminas são componentes essenciais para o corpo. Logo, quanto mais as consumirmos, melhor. Ao que tudo indica, pode até ser o contrário. Pesquisadores ao redor do mundo têm comprovado que o uso indiscriminado desses suplementos, sem recomendação médica, além de não prevenir doenças, pode fazer você desperdiçar o investimento e trazer malefícios para a saúde.

Antes de mais nada, é importante ressaltar: consumir as quantidades adequadas de vitaminas e minerais é fundamental para manter a saúde em dia, mas as doses que precisamos não são tão altas como se imagina. Vale aquela máxima de que a saúde começa no prato: uma alimentação variada é suficiente para suprir as quantidades necessárias desses compostos no organismo. É o que garante a nutróloga Andrea Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo:
Na maioria das vezes, as pessoas não apresentam deficiência desses elementos, por isso a suplementação não é necessária.

No caso da vitamina C, por exemplo, a dose recomendada pela Anvisa é de 45 microgramas por dia. Para se ter uma ideia, metade de um mamão papaia tem 90 microgramas, e uma laranja, 45. E mesmo que você não goste dessas frutas, poderá encontrar a vitamina em alimentos que vão da batata ao tomate.

u Vendidos como produtos alimentares
O problema é que o cardápio de parte da população brasileira está longe do que se consideraria saudável, e muitas vezes não conta nem com um vegetal por dia. E é aí que mora o perigo, alerta a endocrinologista Graciele Tombini, médica do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre. Conforme a especialista, muitas pessoas tentam compensar os pecados que cometem à mesa com o uso de suplementos e, por mais que essa pareça uma solução prática, nem sempre é a mais indicada. As dosagens e concentrações de vitaminas em cápsulas podem ser muito maiores do que a pessoa precisa, e seu acúmulo pode sobrecarregar o organismo. Por isso, atenção: o excesso de vitaminas não é inofensivo.

Ele pode resultar em uma intoxicação e trazer problemas para a saúde. Estudos realizados com voluntários revelam que a ingestão exagerada e pro
longada de vitamina A, por exemplo, aumentou incidência de câncer. Já o excesso de vitamina C pode levar a risco aumentado de cálculo renal – destaca.

Parte da crença de que vitaminas em excesso não fazem mal está na própria regulamentação – ou falta dela – no Brasil e em outros países. Tanto aqui quanto nos Estados Unidos, os suplementos vitamínicos são vendidos como produtos alimentares e podem ser comprados livremente, desde que contenham concentrações de vitaminas ou minerais dentro do percentual de Ingestão Diária Recomendada (IDR). Somente quando ultrapassam esse limite é que passam a ser considerados remédios.


TAMBÉM FAZ MAL

PODER PREVENTIVO

 

A crença no poder preventivo das altas doses de vitaminas não é nova, e já foi sustentada por pessoas de peso. Na década de 1970, com a publicação do livro Vitamin C and the Common Cold (Vitamina C e a Gripe Comum, em tradução livre), o duas vezes Nobel de Química Linus Pauling preconizava que, se uma pessoa tomasse bastante vitamina C (cerca de 50 vezes mais que o recomendado), evitaria o resfriado, estaria se prevenindo contra o câncer, problemas cardíacos e até envelhecimento. Sua tese foi e segue sendo refutada por uma legião de especialistas. No final do ano passado, um editorial da revista científica Annals of Internal Medicine, que compilou diversos estudos sobre os complexos vitamínicos, foi bem direto ao afirmar: “Pare de desperdiçar dinheiro em suplementos de vitaminas e minerais”.
O recado já havia sido dado alguns meses antes pelo pediatra americano Paul A. Offit, chefe da Divisão de Doenças Infecciosas do Children’s Hospital of Philadelphia. No livro Do You Believe in Magic? (Você acredita em mágica?, em tradução livre), lançado em 2013 nos EUA e ainda sem edição em português, o especialista compila uma série de pesquisas científicas que demonstram que a crença no poder preventivo dos suplementos é quase sempre injustificada.

– Se uma pessoa toma grandes quantidades de vitamina E ou betacaroteno por um tempo prolongado, por exemplo, aumenta o risco de câncer, de doença cardíaca e potencialmente diminui o tempo de vida. Isso ocorre também com outros micronutrientes. De resto, se não há indicação médica, você não está fazendo nada além de produzir uma urina mais cara – resume.

Já para o pediatra José Claudio Monteiro, professor da Faculdade de Ciências Médicas da PUC-Campinas, a lógica não é tão simples. O especialista alerta sobre um conceito chamado “fome oculta”, que representa a deficiência de algumas vitaminas e minerais, mesmo que a pessoa não apresente sintomas.

As carências vitamínicas e as de microelementos são silenciosas no início. Elas só vão aparecer quando a carência já é relevante – comenta.
 

Indicação somente em casos específicos

Os sintomas da falta de vitaminas são os mais variados. Queda de cabelo, palidez, unhas fracas e cansaço são apenas alguns. Para Monteiro, a suplementação deve ser realizada em todos esses pacientes, porém sempre conforme as necessidades de cada um.

A nutróloga Elza Daniel de Mello, chefe do Serviço de Nutrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, atenta que o mais importante é manter uma alimentação balanceada para atingir a recomendação diária de vitaminas e nutrientes. Só em casos bem específicos é que a suplementação deve ser indicada:

É uma questão sempre muito individualizada, e o acompanhamento médico ou nutricional é fundamental tanto para indicar o consumo, quanto para controlá-lo. O problema não são os suplementos em si, mas o uso indiscriminado que se faz deles – diz.

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Vitaminas podem ser obtidas pela ingestão equilibrada de alimentos. Confira exemplos de porções diárias

 

INDICAÇÕES

QUANDO NÃO É ESCOLHA, MAS ESSENCIAL PARA A SAÚDE

Longe de serem vilões, os complexos vitamínicos podem e devem ajudar muita gente, se usados da forma correta. Há alguns grupos, por exemplo, cuja suplementação é altamente recomendada. Entre eles, estão as pessoas que praticam dieta vegana, que não comem produtos de origem animal e necessitam fazer a reposição da vitamina B12. Às mulheres que planejam engravidar e às gestantes, a suplementação de ácido fólico (uma vitamina do complexo B) pode ser fundamental para a saúde da futura mãe e do feto. Aos idosos, pode ser indicada a reposição de algumas vitaminas pela dificuldade que apresentam de absorvê-las. Suplementos são muitas vezes indicados também para pacientes que se recuperam de cirurgias ou de doenças graves, por terem seus regimes normais prejudicados durante essa fase.
E há ainda uma vitamina que merece atenção especial, para pessoas de todas as idades. É a D, cuja falta não pode ser resolvida apenas com uma alimentação balanceada. Isso porque esse composto, para ser absorvido pelo corpo, necessita do efeito do sol, e a nossa exposição a ele está cada dia mais rara. Trancafiados em escritórios, salas e apartamentos, acabamos nos expondo poucos minutos por dia à luz natural, e o corpo não fica imune a isso. Estima-se que 1 bilhão de pessoas no mundo tenham deficiência dessa vitamina:

– A vitamina D tem como principal função o equilíbrio do cálcio no organismo. A sua deficiência leva a quadro de raquitismo. Para um organismo em crescimento, por exemplo, esse nutriente é essencial – explica a endocrinologista Cristiane Kopacek, membro do Comitê Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

A especialista afirma que, atualmente, é recomendado que bebês façam uso de suplementação de vitamina D até os dois anos de vida. Além deles, a suplementação pode ser indicada para pessoas de diferentes idades, mesmo que saudáveis. Assim como para qualquer outra vitamina, a principal recomendação é, antes de correr para a farmácia, conversar com um especialista, que irá, pela observação de exames, apontar se você precisa ou não de um suplemento, e a quantidade correta que deve consumir.

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Conheça os riscos do excesso e da deficiência do consumo de vitaminas..


 

FONTE:http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4581362.xml&template=3898.dwt&edition=24990

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