12/08/2014
Robin Williams: agente disse que ele lutava contra a depressão nos últimos tempos.Morte de Robin Williams e Fausto Fanti levantam a questão sobre a doença que atinge mais de 350 milhões de pessoas no mundo.
São Paulo – A depressão fez mais uma vítima nesta semana. De acordo com a polícia da Califórnia, tudo indica que o ator Robin Williams tenha se suicidado por asfixia, na última segunda-feira, aos 63 anos. O vencedor do Oscar por
“Gênio Indomável” e artista consagrado por filmes como “Sociedade dos
Poetas Mortos” e “Patch Adams - O Amor é Contagioso” lutava contra a
depressão e o vício em cocaína e álcool.
A notícia pegou o mundo inteiro de surpresa e levantou a importante
questão que gira em torno dessa doença. Se não for tratada a tempo, ela
pode ter um desfecho tão triste quanto o de Williams ou do humorista
Fausto Fanti, que, no final de julho, também tirou a própria vida,
possivelmente, em decorrência do sofrimento psíquico.
Na opinião do médico Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação
Brasileira de Psiquiatria, políticas públicas voltadas para esse
problema e um tratamento da mídia sem tabus poderiam ajudar a evitar
consequências graves.
“Ao contrário do que se pensa, as pessoas não vão se matar se a mídia
falar mais sobre o suicídio. O importante é a orientação sobre isso.
Deve-se falar disso para prevenir”, afirma. Todos os anos, a ABP realiza
uma caminhada no dia 10 de setembro para lembrar o “dia mundial da
prevenção ao suicídio” e, nos locais em que acontece esse tipo de ação,
segundo ele, a incidência tem parecido menor.
O psiquiatra diz que, em cada 100 pessoas com depressão grave, 15
cometem suicídio. O número é preocupante, mas pode ser revertido se
preconceitos forem combatidos e informações forem divulgadas.
A seguir, você confere fatos que todo mundo deveria saber para lidar melhor com o problema.
Depressão é uma doença, não “frescura”
Uma das principais dificuldades enfrentadas por quem sofre de depressão
é entender e fazer com que os outros entendam que ela não é “frescura”,
mas uma doença, como hipertensão ou diabetes.
Isso significa que precisa ser tratada por um psiquiatra, capaz de
orientar e, se necessário, medicar adequadamente o paciente. A
psicoterapia em conjunto pode ser muito útil, mas o tratamento médico é
essencial.
Preconceito só atrapalha a cura
“Psiquiatra é médico de louco e eu não estou doido”. Esta frase,
lembrada por Silva, resume boa parte do preconceito que ainda existe em
torno da depressão, dos transtornos mentais e até mesmo dessa
especialidade da medicina. Por vergonha ou medo de que conhecidos fiquem
sabendo, pacientes evitam procurar ajuda ou perdem um apoio importante
dos entes queridos.
Com um amigo deprimido, não adianta só conversar
Outro efeito nocivo do tabu é a desconsideração da gravidade do quadro.
Muita gente acredita, por exemplo, que basta conversar com a pessoa
deprimida para resolver o problema. Nada mais ilusório.
É claro que o apoio, o consolo e a compreensão são estritamente
necessários, mas frases como “Calma, vai passar” ou “Deixa isso para lá”
não acrescentam e, dependendo da situação, podem ser prejudiciais. Se o
paciente estiver com ideias suicidas, por exemplo, a melhor forma de
ajudar é incentivá-lo a ir ao médico.
E falar coisas como “Poxa, mas você não está nem tentando ficar feliz”
ou “Você poderia se esforçar mais para melhorar” é, na opinião do
médico, maldade. “Isso é a mesma coisa que, se você usa óculos, alguém
pedir para que tire as lentes e ordenar que enxergue tudo sem elas”,
afirma o psiquiatra.
Os sintomas podem ser físicos e psíquicos
A tristeza e o desânimo podem ser sintomas da depressão, mas não são os
únicos. De acordo com Antônio Geraldo da Silva, é possível haver sinais
físicos, como perda ou ganho de peso, dores inexplicáveis no corpo e
insônia ou sonolência em excesso.
Entre os sintomas psíquicos estão: desânimo intenso, cansaço, apatia,
falta de vontade de fazer suas tarefas, falta de prazer, de alegria,
choro fácil, temperamento explosivo, irritabilidade.
O diagnóstico, claro, precisa ser feito pelo médico, já que a chamada
“síndrome depressiva” tem sintomas que podem ser confundidos com outras
enfermidades, como o hipotireoidismo ou o hipertireoidismo.
Qualquer pessoa pode ter depressão
Assim como grande parte das outras doenças, a depressão não “escolhe”
alvos específicos. Segundo o psiquiatra, homens e mulheres, crianças,
adultos e idosos podem ser acometidos pelo mal.
Esse fato vai de encontro com outro preconceito muito comum: o que diz
que “pessoas bem-sucedidas ou ricas não deveriam ficar deprimidas”. Por
esse raciocínio, quem não tem motivos aparentes para sofrer deveria ser
imune.
A realidade, no entanto, é mais complexa. Há pessoas que têm mais
propensão à doença devido à genética. Há outras que podem sofrer com o
problema devido a suas condições de vida e o ambiente em que convivem.
De acordo com o médico, fatores como o uso de álcool e drogas, uma
rotina muito estressante e noites sem dormir podem aumentar a incidência
da enfermidade.
Depressão é uma das principais causas de afastamento do trabalho
Apesar de todo estigma existente em torno da depressão, ela é uma das
principais doenças que acometem a humanidade atualmente. Dados de 2013
divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que mais de
350 milhões de pessoas no planeta têm depressão – o que representa 5% da
população mundial.
De acordo com estudo publicado na revista científica PLOS Medicine, no
ano passado, ela é a segunda maior causa de invalidez, no mundo, ficando
atrás apenas das dores nas costas.
Antônio Geraldo da Silva estima que 20% das pessoas já tiveram, têm ou
ainda terão a doença ao longo da vida. Por isso, ele ressalta a
importância de falar mais sobre o tema, dentro das empresas, na família,
nos governos e na sociedade como um todo.
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