AVC CHEGA CADA VEZ MAIS CEDO...

30 de maio de 2015

CÉREBRO
Acostumados a serem saudáveis, vítimas mais jovens de derrame costumam ignorar ou negar os sintomas.


Tara O’Kieffe vive se desafiando. 

Ela jogou tênis na universidade e, aos 25 anos, entrou para a Guarda Nacional da Califórnia, nos Estados Unidos, ganhando o prêmio de maior capacidade física entre as mulheres. 

Praticante de corrida, casada com Chris O’Kieffe, mãe de um menino de nove anos, ela decidiu voltar a praticar tênis aos 40 anos.


Quando retornou para casa depois da primeira partida, sentiu uma dor latejante pouco acima da nuca. 

Tomou um analgésico e foi se deitar. 

Olhou o celular, mas as letras estavam se mexendo. 

Tentou ver TV com o marido, mas “parecia estar olhando através de uma camada fina de água, que ondulava e faiscava”. 

Ela pensou que estava tendo sua primeira enxaqueca.

A dor de cabeça continuou na manhã seguinte e no dia posterior. 

O marido levantou os dedos à direita de seu rosto, para testar sua visão.

Não consigo ver sua mão – ela afirmou, e decidiu ir ao pronto-socorro para fazer exames.

O médico entrou e disse: “Bem, você teve um derrame cerebral”. 

Os meses posteriores foram de medo de se exercitar ou até mesmo de virar a cabeça.

– Uma hora, fiquei muito irritada. Por que faço tudo certinho para quase morrer? Por jogar tênis? A ideia de não conseguir fazer mais nada do que eu já havia feito era muito triste para mim – disse Tara.

Exames corretos são fundamentais

O professor de neurologia Louis Caplan não tem certeza se os derrames estão aumentando entre os jovens ou se os médicos estão ficando melhores ao perceber que “isso não é coisa só de velhos”. 

Segundo ele, especialistas em AVC têm sofrido para dar o recado ao pessoal do pronto-socorro de que, se existe suspeita de derrame, deve-se tirar uma imagem vascular e outra do cérebro, porque o problema se apresenta primeiro nos vasos que abastecem e drenam o cérebro.

Ele garantiu a Tara que seu derrame não foi causado pelos nervos ou por fraqueza nas artérias, dizendo que havia somente 1% de chance de recorrência desse tipo de problema depois do primeiro mês.

Infelizmente, médicos e pacientes estabelecem restrições demais (após o AVC por dissecção): 

“Não pegue o bebê”, “Não tenha relações sexuais”. Como o movimento causou isso, pacientes acham que não podem se mexer mais. Esse excesso de proteção pode ser pior – disse o médico.

Quando Tara voltou para casa, correu 2,5 quilômetros, chorando o tempo todo:

– Foi como se eu tivesse percebido que não preciso me jogar fora e tentar criar uma pessoa nova.

Causa não considerada no momento certo

Tara faz parte de uma tendência perturbadora:

segundo reportagem do Washington Post, depois de anos declinando entre os idosos, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) estão aumentando entre adultos jovens.

Como estão acostumados a serem saudáveis, vítimas jovens de AVC geralmente negam ou ignoram os sintomas, o que faz com que não se tratem nas horas e nos dias críticos posteriores ao evento. 

Como parecem saudáveis, os médicos nem sempre consideram o derrame uma causa.

Tara perdeu 30% da visão periférica. Os médicos aconselharam reduzir a atividade física.

Teria de caminhar com cautela, virar a cabeça lentamente. Eu vivia como se fosse feita de vidro – contou.

Então, ela consultou um dos maiores especialistas em AVC dos EUA, Louis Caplan, professor de neurologia de Harvard que trabalha no Centro Médico Diaconisa Beth Israel. 

Em quatro meses, ela havia perdido sete quilos e a animação.

Segundo Caplan, os exames de Tara foram interpretados erroneamente pelos médicos, que pensaram que sua artéria vertebral se fechou quando, na verdade, só se estreitou, ou seja, poderia ser aberta e sarar.

Algumas pessoas jovens têm derrames causados por drogas recreativas. Já outras, incluindo crianças e adolescentes, sofrem AVC após uma dissecção – rompimento na parede da artéria que pode provocar um coágulo.

Isso pode acontecer com um movimento comum repentino que estique a artéria, que é mais elástica nos jovens – afirmou Caplan, que vê dissecções com frequência em seus pacientes.

Ele tratou um médico que cambaleou ao pensar que o filho iria cair de uma árvore, um técnico de basquete que corria pela quadra olhando para frente e para trás, e uma grávida que virou repentinamente a cabeça para olhar o trânsito antes de atravessar a rua. 

Dissecções podem ser provocadas por espirros, tosse, vômito, sexo ou até mesmo ao se inclinar para ter o cabelo lavado no cabeleireiro. 

Às vezes, o único sintoma é dor de cabeça ou na nuca.

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