FOCO NO CÉREBRO

18 de maio de 2012 


Instituto está equipado com aparelhos capazes de investigações detalhadas.


Previsto para ser inaugurado até o fim do mês, o Instituto do Cérebro, na Capital, deverá ser referência na América Latina no tratamento de doenças neurodegenerativas e atenderá a pacientes do SUS

Uma revolução no tratamento de doenças neurológicas está prestes a ter início no Estado. O exército não inclui apenas médicos. Figuras estranhas à medicina, como engenheiros, compõem o quadro de especialistas do Instituto do Cérebro (InsCer), que até o fim de maio deve ser inaugurando em frente ao Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre.

E não pense que o profissional das ciências exatas atua nos bastidores. Pelo contrário, Alexandre Rosa Franco, engenheiro especialista em inteligência artificial, é responsável por mergulhar no coração das máquinas para fazer com que elas enxerguem e expliquem melhor doenças de difícil diagnóstico, com base em seus conhecimentos de processamento de dados. Depois, entrega para neurologistas e psiquiatras um jeito novo de compreender os mecanismos do cérebro.

Além dele, outros 69 colaboradores de áreas diversas, incluindo física, química, farmácia, letras e medicina, trabalham para aprimorar diagnósticos e tratamentos de doenças neurodegenerativas que ainda desafiam a ciência, como Parkinson e Alzheimer. Esse centro, que une a teoria de cientistas e a prática de médicos, terá capacidade para atender a cerca de 4,2 mil pessoas nas modalidades de pesquisa e assistência até o fim deste ano. Serão contemplados pacientes do SUS, de convênios e particulares, desde que inscritos em projetos de estudo.

Para concluir o prédio de mais de R$ 35 milhões (parte financiada pelo governo federal), foram necessários cinco anos de preparo, incluindo viagens e pesquisas em alta tecnologia nas melhores universidades do mundo, como Harvard (EUA), Georgetown (EUA) e Tübingen (Alemanha). Entusiasta do projeto e coordenador científico do InsCer, o neurocientista Iván Izquierdo destaca que o local será referência na América Latina.

Doenças como Alzheimer e Parkinson afetam 30% dos idosos

Conforme Izquierdo, o centro terá cada vez mais importância, já que o universo de pessoas que sofrem de doenças neurodegenerativas cresce gradualmente à medida que a expectativa de vida da população é maior. Doenças como Alzheimer e Parkinson tendem a aparecer depois dos 70 anos e atingem a cerca de 30% dos idosos.

O diretor do instituto, neurologista Jaderson Costa da Costa, conta que o objetivo é ousado:

– Não estamos preocupados em fazer o que todo mundo faz, mas sim entender o que está acontecendo com o paciente e buscar uma solução definitiva. Queremos ser um dos centros que vão participar do esforço científico mundial.

kamila.almeida@zerohora.com.br

KAMILA ALMEIDA

Tratamento de ponta.



Equipamento com tecnologia de ponta fará leitura da atividade cerebral em tempo real.
A máquina que sintetiza medicamento e material radioativo


NEURODEGENERATIVAS ALZHEIMER

Instituto do Cerébro fará pesquisa, diagnóstico e terapia de doenças como AVC com sequelas neurológicas, dislexia, esclerose múltipla, câncer e déficit de atenção
- Acomete a região do cérebro que controla a linguagem, a memória e o raciocínio. As causas bioquímicas da doença são conhecidas, mas ainda há lacunas sobre a cura – e o tratamento é paliativo. Com as pesquisas, se buscará diminuir a intensidade ou estancar o desenvolvimento do problema, por meio da melhor apuração de diagnóstico.

PARKINSON

- Alteração em uma área do cérebro chamada de substância negra causada pela falta do neurotransmissor dopamina. Se traduz na incapacidade motora e tem como consequência dificuldade para engolir e respirar. A intenção é extrapolar o tratamento existente (reposição de dopamina via oral), por meio de exames de imagens capazes de quantificar a falta de dopamina no organismo.

NEUROPSIQUIÁTRICAS EPILEPSIA

- É causada, em geral, por outra doença que afeta o cérebro. Apenas 30% dos pacientes não respondem a medicamentos. Os mais graves podem ser encaminhados à cirurgia. O InsCer estudará os motivos pelos quais essa parcela é resistente aos remédios e buscar uma alternativa de tratamento para ele, seja clínico, cirúrgico ou com células-tronco.

ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

- Um dos tratamentos mais complicados da psiquiatria é o de sequelas do estresse. Uma das técnicas usadas é a da extinção da memória, para que paciente, ao ser exposto a estímulos que desencadearam o quadro, não os associe ao trauma em si. Após bem-sucedida pesquisa em ratos, estão previstos testes em humanos de drogas injetáveis capazes de extinguir imediatamente a memória traumática.

PARA PARTICIPAR

- O instituto dará início a 12 projetos envolvendo o estudo de doenças neurodegenerativas. Interessados em participar das pesquisas devem acessar www.pucrs.br/inscer ou telefonar para (51) 3320-3485. As inscrições serão abertas para pacientes do SUS, de convênios ou particulares.

O instituto

- Construído numa área de 2.549m², em frente ao Hospital São Lucas da PUCRS, terá a estrutura dividida em três pavimentos. O térreo, com 900m², terá os espaços administrativos e de produção, e o saguão de acesso principal, além da sala de reuniões e de pesquisas. O segundo, com 800m², será para diagnóstico e área técnica, com recepção, arquivo, salas de exame molecular, controle e equipamentos. O terceiro abrigará o pavimento técnico.

- O total de investimento é de cerca de R$ 35 milhões oriundos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Ministério da Saúde e da PUCRS. Inicialmente, está previsto um quadro funcional de 70 pessoas.

Centro produz e aplica remédio “vaga-lume”

O centro de produção de radiofármacos no mesmo local de investigação do paciente é o grande diferencial do Instituto do Cérebro. A palavra é complexa, como toda a infraestrutura da unidade, mas o objetivo do medicamento radioativo é simples: mostrar os caminhos por onde transita o remédio pela corrente sanguínea e como ele é absorvido. Isso ocorre porque o radiofármaco ingressa no organismo como um “vaga-lume” emitindo sinais captados por equipamentos de última geração.

Esse sinalizador é produzido no mesmo local em que é aplicado no doente para que possam ser realizados três tipos de exames que leem o cérebro de forma singular, garantindo uma precisão maior de diagnóstico e identificando lesões que uma só técnica não seria capaz de apontar.

– A pesquisa de algumas doenças com material radioativo só é possível a partir do modelo que montamos, já que esses elementos têm vida útil limitada. A duração do carbono produzido aqui, por exemplo, é de 20 minutos, e é um dos melhores marcadores para a Doença de Alzheimer – destaca o físico João Alfredo Borges, supervisor de proteção radiológica do InsCer.

Para que tudo dê certo, os medicamentos são produzidos no térreo. É lá que fica um acelerador de partículas chamado de Cíclotron, capaz de produzir material radioativo – só o equipamento custou mais de R$ 7 milhões.

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