CIRURGIA INÉDITA RESTAURA FUNÇÃO DA MÃO DE PACIENTE TETRAPLÉGICO

16/05/2012


Pacientes com lesões nas vértebras C7 e C6 não movimentam a mão.
Após o procedimento, homem de 71 anos consegue comer sozinho e até escrever.

Pela primeira vez, médicos dos Estados Unidos usaram um novo tipo de cirurgia, denominada transferência nervosa, para restaurar a função da mão de um paciente paralisado por uma lesão na cervical, destacou um estudo publicado nessa terça-feira.

A cirurgia consiste em pegar um nervo não funcional, apertando o indicador e o polegar, conectando-o a um nervo funcional na parte superior do braço usado para dobrar o cotovelo.

Após muitos meses de terapia física intensiva, o paciente de 71 anos — que ficou paralisado da cintura para baixo e perdeu o uso das mãos em um acidente de carro — agora pode se alimentar sozinho e inclusive escrever com alguma ajuda, destacou o estudo publicado na revista científica Journal of Neurosurgery.

— Esta não é uma cirurgia particularmente cara ou complexa demais. Não é um transplante de mão ou face, por exemplo. É algo que gostaríamos que outros cirurgiões no país fizessem — disse a autora principal, Susan Mackinnon, que fez a cirurgia.

A lesão do paciente estava no osso mais baixo do pescoço, conhecido como vértebra C7. Pacientes com lesões nas vértebras C7 e C6 não têm função da mão e são considerados tetraplégicos, embora costumem movimentar ombros, cotovelos e pulsos, pois estes nervos chegam à medula espinhal por cima do local da lesão. Para as pessoas que se machucaram mais acima, ao longo do pescoço, da vértebra C5 até a C1, uma cirurgia assim provavelmente não serviria para restaurar a função da mão e do braço, disseram os médicos.

— Este procedimento é incomum para tratar a tetraplegia porque não tentamos voltar a entrar na medula espinhal, onde está a lesão. Ao contrário, vamos aonde sabemos que as coisas funcionam, neste caso, o cotovelo, para poder pegar emprestados ali os nervos e redirecioná-los para dar função à mão — explicou Ida Fox, cirurgiã da Universidade de Washington.

O progresso do paciente animou os cirurgiões, embora a operação tenha sido feita dois anos depois do acidente. Mesmo assim, foram necessários oito meses de tratamento depois da cirurgia para que o paciente pudesse movimentar os dedos polegar, indicador e médio da mão esquerda. Dois meses depois, ele conseguiu mover também a mão direita.

Segundo Lewis Lane, chefe de cirurgia de mãos no Hospital Universitário North Shore em Nova York, este caso cria esperanças.

— Algo raro neste caso é o fato de que o paciente tenha 71 anos porque os nervos das pessoas idosas costumam ter menor potencial regenerativo — acrescentou Lane, que não participou da pesquisa.

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