12/05/2021
Conhecido principalmente pelo trabalho Memórias de um Esclerosado, o artista gráfico Rafael Corrêa, 44 anos, começa a publicar nesta quinta-feira (13) na Zero Hora a tira Artur, o Arteiro. Ela sairá de segunda a sexta no Segundo Caderno (na página 2) e aos fins de semana no caderno Fíndi. O personagem é um típico guri do interior gaúcho que vive situações de uma juventude ambientada nos anos 1980, apresentadas em tom de humor.
— Em 1998, pisei em um copo em casa, rasguei o pé e levei nove pontos. Estava com as ataduras nos pés e fiquei pensando: “Poxa, eu podia criar um personagem que sempre estivesse com alguma coisa quebrada ou enfaixada. Algum guri arteiro”. Nisso começaram a surgir histórias do Artur, que muito tinha a ver com a minha infância — conta Corrêa.
Além de Artur, há outros personagens, como Bolacha, Micuim e Capincho. Os três foram inspirados em amigos de infância do quadrinista. Sem fazer tiras desde 2010, Corrêa planeja incluir mais protagonismo na série:
— Eu vi que era um mundo muito masculino o do Artur, porque nessa época de criança a gente faz mais amizade com a turminha dos guris, e a turminha das gurias fica mais de lado. Mas mudei muito nos últimos anos, principalmente pela questão do feminismo, e acho importante colocar essas personagens nesse universo.
O artista lembra que sua relação com Zero Hora é antiga. O jornal fez parte de sua infância, na época em que a edição dominical trazia um caderno chamado Super Quadrinhos. Corrêa considera o jornal uma das influências que o ajudaram a construir o gosto pela área:
— Hoje, publicar aqui e saber que posso alcançar um público maior é uma satisfação.
Natural de Rosário do Sul, na região da Campanha, Corrêa começou a desenhar quando criança, montando uma revista em formato parecido com o da Turma da Mônica. Os desenhos de Mauricio de Sousa e as animações da Disney eram o que havia de mais acessível, mas ele também descobriu outros autores. Aos 14 anos, criou uma tirinha com um personagem pirata e a história agradou tanto que um jornal local começou a publicá-la. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre para cursar a faculdade de Comunicação na PUCRS.
— Meu primeiro estágio foi para fazer histórias em quadrinhos. Levei meus desenhos e fui contratado na hora. Lá era tudo muito precário, mas foi bom. Fui contratado para fazer os desenhos, mas vi que os roteiros eram muito ruins, então comecei a fazer eles também — conta o quadrinista.
A grande virada na vida de Corrêa aconteceu ainda durante o Ensino Superior. Ao apresentar ao artista gráfico Santiago o zine Bodoqe, criado com seus colegas, o jovem recebeu um convite para ir à reunião da Grafistas Associados do Rio Grande do Sul (Grafar). Na época, ele participava de uma oficina ministrada por Santiago e Eugênio Neves.
— Eles me receberam com os braços abertos. E aí todas as terças eu matava aula na Famecos para encontrar esses grandes mestres. A minha faculdade mesmo foi encontrar esses desenhistas das antigas, principalmente o Santiago, que é um parceiro até hoje — conta.
Reinvenção
Em 2004, aos 28 anos, Corrêa acordou após um casamento com fadiga e visão dupla. Diagnosticado com virose por oftalmologistas, logo não apresentava mais sintomas. Mas em 2009 ficou exausto aos 10 minutos de uma partida de futebol. Foi seu último jogo. Um ano depois, o cansaço atingiu a mão esquerda, que ele usava para desenhar. Ao procurar um neurologista, foi diagnosticado com ESCLEROSE MÚLTIPLA do tipo progressiva. Incurável e autoimune, a doença faz com que, a partir de ataques das células de defesa ao sistema nervoso, lesões sejam provocadas no cérebro e na coluna, interferindo na coordenação motora, na força dos membros e impedindo a locomoção. A condição não o impediu de continuar fazendo o que ama:
— O desenho está na cabeça, a mão é a ferramenta. Tem gente que desenha com a boca, com o pé. Tem tanta gente que dá um jeito, que pensei: “Então vou conseguir com a direita”. Em seis meses já estava desenhando igual ou até melhor. Gosto bastante do meu desenho hoje porque tenho certa liberdade. Essa mão não era a dominante, então o traço é mais solto.
Multiplataforma, além dos quadrinhos, Corrêa trabalha com cartuns e atualmente está escrevendo uma série. No segundo semestre, deve lançar um curta-metragem chamado Criatura, sobre um garoto que tem um amigo imaginário. Para o futuro, vislumbra perseguir outra de suas paixões: os desenhos animados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário