Remédios 18/03/2014
David Ho, diretor do Centro de Pesquisa da Aids Aaron Diamond, da Universidade Rockefeller, é autor de um dos estudos.
Descoberta pode levar a grande revolução na prevenção das doenças em humanos.
Pesquisadores informaram que injeções de remédios de longa duração
contra a aids protegeram macacos durante semanas contra infecção, uma
descoberta que poderia levar a uma grande revolução na prevenção das
doenças em humanos.
Dois estudos em grupo em laboratórios diferentes encontraram 100% de
proteção em macacos que receberam injeções mensais de drogas
antirretrovirais, e existem provas de que uma única injeção a cada três
meses pode dar o mesmo resultado. Se a descoberta puder ser reproduzida
em humanos, ela tem o potencial de vencer um grande problema na
prevenção da aids, o de que muitas pessoas se esquecem de tomar
regularmente os antirretrovirais.
Um estudo clínico preliminar com humanos pode começar até o fim deste
ano, disse o Wafaa El-Sadr, especialista da Faculdade Mailman de Saúde
Pública, da Universidade Columbia, mas um teste maior que poderia levar a
um tratamento em humanos provavelmente só correrá daqui a alguns anos.
Sabe-se desde 2010 que pessoas saudáveis que tomam uma pequena dose
diária de remédios
antirretrovirais — procedimento conhecido como
profilaxia pré-exposição — podem conseguir uma proteção superior a 90%
contra infeção. Porém, em vários estudos clínicos realizados depois
disso com homens gays, com usuários de drogas intravenosas e em casais
nos quais um dos parceiros está infectado, comprovou-se que os únicos
participantes protegidos eram os que tomavam o remédio todo dia, sem
falhas, mas muitos não tomavam.
A taxa de esquecimento se mostrou particularmente alta entre mulheres
na África. Embora alguns participantes de um estudo de profilaxia
pré-exposição contaram aos pesquisadores estarem assustados com boatos
sobre efeitos colaterais, muitos também falaram que estavam com medo de
guardar o remédio em casa com medo de que o parceiro sexual ou um
vizinho os visse e equivocadamente presumisse que elas estivessem
contaminadas com a doença.
Segundo vários especialistas em aids, uma injeção intramuscular que
as mulheres recebessem a cada três meses poderia mudar esse cenário. Na
África e em outros lugares do mundo em desenvolvimento, muitas mulheres
já recebem injeção de hormônios para controle natal de longa duração
como o Depo-Provera, optando por ele no lugar das pílulas diárias, o que
pode enraivecer esposos ou namorados que as encontrem.
Em relação ao protocolo da injeção testada em macacos, David Ho,
diretor do Centro de Pesquisa da Aids Aaron Diamond, da Universidade
Rockefeller, e autor de um dos estudos, disse que a popularidade do
Depo-Provera era "uma boa analogia de como a injeção poderia funcionar
nos países em desenvolvimento".
Em outro estudo, conduzido pelos Centros para Controle e Prevenção de
Doenças, Atlanta, seis macacas receberam injeções mensais de GSK744,
droga experimental que é um formato de longa duração de um
antirretroviral já aprovado para o tratamento do HIV pela FDA, agência
norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos. Seis outras
macacas receberam um placebo.
Duas vezes por semana, um líquido contendo o vírus da
imunodeficiência humano-símia, versão híbrida de humanos e macacos do
vírus causador da aids, era bombeado em suas vaginas, simulando sexo com
um macaco infectado. Nenhuma das macacas protegidas pelo GSK744 se
infectou. As seis que recebiam o placebo foram infectadas rapidamente.
Os pesquisadores da Rockefeller realizaram um experimento similar com
16 macacos usando a mesma medicação. Eles receberam lavagens retais do
vírus, imitando sexo anal. Os resultados foram iguais: todos os macacos
que receberam a droga foram protegidos, contra nenhum dos animais que
não a recebeu.
A equipe de Ho também verificou quanto da droga tinha de estar no
sangue e tecidos do macaco para proteger. Eles descobriram que uma
quantidade grande o suficiente para proteger era "claramente alcançável
em humanos com uma injeção trimestral", afirmou Ho.
Os estudos foram apresentados em quatro de março na Conferência de
Retrovírus e Infecções Oportunistas, que acontece todos os anos.
— Os resultados são muito impressionantes para algo realizado no
modelo animal — disse Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional
para Alergia e Doenças Infecciosas
Mitchell J. Warren, diretor executivo da AVAC, organização que luta
pela prevenção e tratamento da aids, afirmou que uma droga injetável de
longa duração era "claramente a melhor opção porque a adesão tem sido o
calcanhar de Aquiles da profilaxia pré-exposição".
Contudo, ele argumentou que pessoas com risco de contrair HIV
terminariam precisando de várias opções, da mesma forma que as mulheres
interessadas no controle natal querem poder escolher entre pílulas e
métodos alternativos.
Um medicamento experimental similar conhecido como TMC278 foi testado
em macacos vários anos atrás e também os protegeu, embora o estudo não
tenha sido idêntico aos dois divulgados em março.
— Todavia, pouca atenção foi fada porque então as pessoas estavam concentradas em outras coisas — afirmou Warren.
O estudo clínico humano que deve começar até o fim do ano será
pequeno, contando com somente 175 pessoas nos Estados Unidos, África do
Sul, Malauí e Brasil. El-Sadr, da Columbia, afirmou que o estudo deveria
demorar três anos antes de outro maior para descobrir se o método da
injeção funciona em pessoas com a mesma eficiência que em macacos.
Estudos com humanos são demorados e exigem um grande número de
participantes, em parte porque é antiético realizar um experimento sem
oferecer aos participantes todas as opções aprovadas, incluindo
camisinhas e versões em pílulas da profilaxia pré-exposição.
— Você sabe que algumas vão dizer que querem, mas vão terminar não
usando. Mesmo assim, é preciso lhes oferecer — garantiu Warren.
Nenhum comentário:
Postar um comentário