Médico sugere terapia, mas professor de história prefere abrir bar de rock...

03/08/2017

O professor Manfredo Kolya, 48, no bar de rock em Itapevi (SP) que reabriu após diagnóstico da doença...


"Se eu tivesse câncer, seria mais fácil entender o que eu tenho", diz o professor de história Manfredo Kolya, 48. 

Quem o vê fumando na porta de seu bar, na cidade de Itapevi (SP), não imagina que ele foi diagnosticado com outra doença grave, a esclerose múltipla, em março de 2015.

Kolya é um ponto fora da curva: a patologia atinge principalmente mulheres brancas em idade fértil. 

"Eu imaginei que fosse algo relacionado a demência, essa era minha preocupação", conta.

Antes de entender a doença, ele temia não reconhecer o rosto de sua esposa, Nanci Kolya, 49, dos três filhos, e do neto. 

Depois do diagnóstico, descobriu que se trata de uma doença autoimune, ou seja, que seu corpo pratica uma espécie de autossabotagem, e que não tem cura. 

No caso da esclerose múltipla, o sistema imunológico ataca o sistema nervoso central.

O tipo de esclerose múltipla que Kolya tem é o mais comum, chamado de recorrente-remitente. 

Isso significa que seus sintomas, como fadiga, tontura e visão turva, vão e voltam. "Tenho vários dias não bons e outros bons", diz.

Pensando nos dias "não bons", sua esposa sugeriu que ele reabrisse o Expresso Rock Bar –um espaço de rock que tiveram por um ano e meio. 

Fecharam em 2012, diz, por sobrecarga de trabalho. 

Nessa época, Kolya dava aulas nas redes pública e privada de ensino.

Foi por conta da correria que ele ignorou os primeiros sintomas da esclerose múltipla. 

Achou que a tontura, o cansaço e a visão dupla fossem sinais de labirintite e automedicou-se. 

Em poucos dias, melhorou.

Três anos depois, os sintomas voltaram mais fortes e ele não conseguiu andar da cama até o portão de casa. 

Kolya foi levado ao hospital com suspeita de AVC.

Depois de 21 dias de exames e consultas, a ressonância magnética possibilitou o diagnóstico de esclerose múltipla.

Desde que descobriu a doença, foi afastado das escolas onde lecionava e passou a cuidar da logística do bar reinaugurado em outubro do ano passado.

Kolya foi aconselhado a procurar ajuda psicológica quando recebeu o diagnóstico, mas se recusou porque não queria tomar mais remédios. 

Hoje, faz acompanhamento semestral com um psiquiatra e chama seus clientes de terapeutas. 

"Se eu pagar alguém toda semana para contar minha vida, vai ser tedioso", diz Kolya, que trabalha recebendo os clientes e dando informações na porta do bar.

Nos últimos anos, sua mobilidade piorou e ele não consegue caminhar mais do que 50 metros sem se cansar. 

Por isso, ano passado comprou um triciclo, que é muito mais prático do que um carro, diz. 

Kolya usa o triciclo para viajar, ir à padaria e repor o estoque de bebidas do bar.

Ano que vem, Kolya precisa renovar sua habilitação e teme perder o direito de conduzir o triciclo. 

"A esclerose múltipla me tirou dois prazeres: 

dar aula e dirigir", diz. 

"Gostaria de parar de fumar também, mas a doença já me tirou tanta coisa", lamenta enquanto acende mais um cigarro.

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