Mais da metade dos nordestinos desconhece a esclerose múltipla...

20/08/2017

Levantamento da Roche Farma Brasil e do Datafolha mostrou que a doença ainda é pouco conhecida na região. Informação é essencial para o diagnóstico precoce....

Doença silenciosa, que vai invadindo aos poucos a rotina das pessoas até provocar uma situação de incapacidade completa, a Esclerose Múltipla acomete três a sete pessoas, por ano, a cada 100 mil pessoas, na América Latina. 

Os casos são cada vez mais frequentes e há indícios de que haja uma relação disso com os hábitos da vida no século 21. No Brasil, a doença acomete cerca de 15 indivíduos a cada 100 mil. 

Entretando, mais da metade dos nordestinos desconhece a enfermidade, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela Roche Farma Brasil.

O levantamento publicado neste mês mostra que 70% dos nordestinos se consideram pouco ou nada informados sobre a esclerose múltipla. 

Muitos deles, mantêm percepções erradas, como a de que a doença só acomete idosos, é curável e hereditária. 

O desconhecimento leva a diagnósticos tardios, favorecendo assim as chances de ter uma sociedade com maiores índices de incapacidade no futuro. 

Para se ter uma ideia, três em cada 10 pacientes com esclerose múltipla não são diagnosticados ou são subdiagnosticados.

Não há um marcador clínico para a doença, ou seja, um exame que possa detectar a alteração no sistema imunológico que vá desencadear os surtos. 

Por isso, os pacientes devem ficar atentos a sinais como fadiga imprevisível, alterações na voz, dificuldade para engolir e visão dupla ou embaçada. 

As crises podem acontecer no começo com duração entre 15 dias e dois meses. Depois, é como se a EM adoermecesse e só voltasse a aparece seis meses ou até dois anos depois.

“Os pacientes não costumam vincular os primeiros sintomas com os segundos. 

E os médicos tampouco. Isso faz com que o diagnóstico demore. 

Então, ao longo dos anos, a medida em que os surtos aparecem, vai ficando uma incapacidade acumulada”, explicou o chefe do serviço de Neurologia Clínica e diretor da Unidade de Esclerose Múltipla do Hospital Italiano, em Buenos Aires, Edgardo Cristiano, durante o Roche Press Day, realizado no começo de julho, em Buenos Aires, Argentina.

O diagnóstico da funcionária pública aposentada Maricélia Lima, 60 anos, demorou trinta anos para chegar. 

O primeiro sintoma dela, em 1977, foi uma cegueira no olho direito que durou dois meses para regredir. “Fui tratada de tudo, menos da esclerose. 

Já fui diagnosticada errado com quatro AVCs. Eu pegava o carro para ir ao trabalho, mas me dava um branco e eu ia parar em Itamaracá. 

Eu dizia que não estava normal, mas afirmavam que era preguiça, depressão. E aquilo me incomodava”, lembra. Há quatro anos, Maricélia Lima, não tem novas crises. “Tomei uma medicação, em fase experimental de uma pesquisa, e controlou as minhas crises.”

Segundo Edgardo Cristiano, a importância do diagnóstico precoce é conseguir intervir a tempo de evitar uma incapacidade total, já que cada surto pode provoca até 10 lesões no cérebro.

“Os medicamentos disponíveis são bem mais eficazes no início da doença, quando não há incapacidade ou ela é pouca”, acrescenta o profissional. 

Para que o diagnóstico aconteça cedo, também é preciso profissionais capacitados, mas esse é outro déficit em toda a América Latina. No Brasil, há menos da metade dos neurologistas recomendados a cada 100 mil habitantes pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Se a doença avança, o alerta fica de que é preciso correr atrás desses prejuízos. 

Medicamento promete revolução

Enquanto os problemas de assistência mais básicos ainda não foram resolvidos, no que consiste aos medicamentos para o tratamento de pacientes com esclerose múltipla a indústria farmacológica avança. 

Está em avaliação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a introdução no Brasil de uma nova droga que promete revolucionar o tratamento dos pacientes com esclerose múltipla. 

O ocrelizumab, da Roche, é a primeira molécula desenvolvida para tratar as duas formas da doença: a remitente-recorrente e a primária progressiva.

A forma remitente-recorrente da EM acomete 85% dos pacientes e é caracterizada pelos episódios de sintomas que aparecem e desaparecem espontaneamente. 

Já a forma primária progressiva é a mais grave, chega a acometer 15% das pessoas, e tem uma situação progressiva dos surtos. 

O medicamento ocrelizumab e é o primeiro a oferecer um tratamento para essa segunda situação. 

“A medicação mostrou redução pela metade dos episódios de recorrência da doença e, para a forma progressiva, um postergar da evolução da incapacidade”, detalhou a gerente médica da Roche Farma Brasil, Michelle França.

A esclerose múltipla acontece quando o organismo passa a não reconhecer a bainha de mielina, membrana que protege os neurônios, desencadeando uma resposta autoimune. 

O estímulo é dado pela célula imune B. O ocrelizumab se liga a essa célula e impede esse processo. “Esse linfócito B perde a capacidade de informar ao organismo que aquele movimento é estranho e com isso dá tempo de o organismo se recuperar ou achas vias alternativas de transmissão nervosa”, detalha Michelle. 

A substância foi aprovada no Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos. No Brasil, a previsão de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o primeiro semestre de 2018.



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