A POLÊMICA DA PRÓSTATA

04 de agosto de 2012


Estudo questiona necessidade da cirurgia como estratégia para salvar vidas e estabelece novos parâmetros de tratamento.

Um novo estudo mostra que a cirurgia de câncer de próstata, que frequentemente causa impotência ou incontinência urinária, aparentemente não salva vidas de homens que estão nos estágios iniciais da doença. Em muitos casos, esses homens talvez não precisassem ter recebido tratamento algum.

As descobertas são baseadas no maior estudo já feito comparando a cirurgia de retirada da próstata com a estratégia de monitoramento. Os pesquisadores acrescentam que a preocupação crescente com a detecção do câncer de próstata e os esforços de tratamento nos últimos 25 anos, sobretudo nos Estados Unidos, têm sido equivocados, tornando milhões de homens impotentes, incontinentes e com medo de uma doença que sequer poderia matá-los. Cerca de 120 mil cirurgias de retirada da próstata são feitas por ano no país.

– Esse estudo representa o início de uma nova fase. Ele chama atenção para o fato de que muitos dos casos de câncer de próstata diagnosticados hoje não são perigosos – disse o professor de Urologia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Leonard Marks, que não fez parte do estudo.

Ainda assim, a pesquisa, publicada recentemente no periódico The New England Journal of Medicine – e financiada pelo Ministério de Veteranos de Guerra, o Instituto Nacional do Câncer e a Agência de Pesquisa e Qualidade do Atendimento à Saúde – não deve fazer cessar o debate sobre quais as melhores formas de tratamento para homens com câncer de próstata.

Segundo o diretor do Centro de Pesquisa e Tratamento do Câncer da Universidade do Texas, em San Antonio, as descobertas não são relevantes para homens que estão nos estágios mais avançados da doença.

– O objetivo é focar ostestes em pacientes que tendem a ter tumores mais agressivos e para os quais o tratamento parece fazer diferença – diz Thompson, autor do editorial. – Deveríamos concentrar os exames em pacientes que têm propensão a desenvolver tumores mais agressivos, para os quais o tratamento parece fazer a diferença.

Câncer é o segundo mais letal em homens.

 Neste ano, cerca de 242 mil homens receberão um diagnóstico de câncer de próstata, em grande parte por causa do exame que indica altos níveis de PSA no sangue. Cerca de 28 mil homens morrem de câncer de próstata anualmente, o que faz com que ele seja o segundo câncer mais letal no caso dos homens, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Ainda assim, estudos abrangentes mostram hoje que a detecção precoce por exame de PSA faz pouca ou nenhuma diferença para determinar se um homem morrerá ou não de câncer de próstata.

Em maio, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos emitiu uma recomendação controversa contra a realização regular do teste de PSA. A força-tarefa concluiu que o teste traz pouco ou nenhum benefício, mas sujeita os homens a ansiedade e a biópsias dolorosas, além de frequentemente encaminhá-los para tratamentos invasivos e arriscados. Porém, vários grupos médicos criticaram a descoberta, e o teste de PSA continua a ser uma parte consagrada do atendimento à saúde masculina na meia idade.

Timothy J. Wilt, principal autor do estudo publicado no The New England, disse esperar que os resultados deem mais confiança aos pacientes que estão nos estágios iniciais da doença, proporcionando a eles a opção do monitoramento. Isso porque cerca de 90 por cento dos homens que descobrem ter a doença em estágio inicial escolhem se submeter ao tratamento imediato com cirurgia ou radioterapia, disse ele.

– Muitos dos homens que recebem diagnóstico de câncer de próstata ficam com medo. Eles acham que se não forem tratados, vão morrer da doença. Nossos resultados demonstram claramente que isso não é verdade. A esmagadora maioria não morre caso a doença se não seja tratada – afirma Wilt.


Preste atenção


O estudo incluiu apenas homens que estão nos estágios iniciais da doença, sendo que metade tinha descoberto a doença por meio do teste de PSA, um exame que mede o nível do antígeno específico da próstata no sangue. Cerca de 81% dos homens estavam no início da doença ou tinham um tumor localizado, o que significa que ele não havia se espalhado pela próstata.

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