02/04/2021
Há três meses, o intérprete de libras Ricardo Faria, 33 anos, não recebe o remédio para tratamento de esclerose múltipla junto à Farmácia do Estado, em Canoas, onde mora.
Em outubro de 2016, Ricardo foi diagnosticado com a doença autoimune, que ataca o sistema nervoso. Desde então, passou por inúmeras sessões de fisioterapia.
– Perdi o movimento do rosto, e minha visão ficou dupla. Precisei ficar internado por 15 dias na Santa Casa de Porto Alegre, e foi aí que recebi o diagnóstico – relembra.
Ele depende do remédio fingolimode 0,5mg para amenizar os sintomas da doença, conforme orientação médica.
Mensalmente, Ricardo retira três caixas do remédio, disponibilizado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) e distribuído aos municípios. Cada caixa com 28 cápsulas custa cerca de R$ 5 mil. Porém, desde janeiro, ele não o recebe.
– A única resposta que consigo é de que não chegou o remédio, ou de que era para vir na próxima compra e estava em falta – conta.
Sem o fármaco, Ricardo corre risco de entrar em novas crises e ser hospitalizado. Ele reforça que, sem o tratamento contínuo, pode vir a ter uma lesão na face, nos olhos ou no cérebro:
– Me coloco em risco sem esse remédio. Fico vulnerável.
Prazo
Hoje, Ricardo é presidente da Associação Gaúcha de Esclerose Múltipla ( Agem).
Através de membros de outros municípios do Estado, ele soube que a medicação está em falta desde o início do ano. A primeira notificação que a Agem recebeu foi em janeiro, na Capital, sendo que o principal motivo, diz Ricardo, foi a troca de laboratório para a fabricação da droga.
Segundo a associação, no final de fevereiro, a nova empresa fabricante emitiu um comunicado sobre a assinatura de um contrato, junto ao Ministério da Saúde, para o fornecimento do primeiro lote da medicação após a troca de laboratório. O documento afirma, ainda, que o processo de distribuição às secretarias estaduais do país começou em 22 de fevereiro.
A Secretaria Estadual de Saúde, hoje, dispõe de mais seis medicamentos para o tratamento da esclerose múltipla. Porém, mesmo com o laboratório assegurando o envio do produto ao governo federal, um mês após, a fingolimode seguiu em falta em cidades como Cruz Alta, Passo Fundo, Porto Alegre, Rio Grande e Santa Maria, de acordo com a Agem.
Em 18 de março, porém, a entidade recebeu a informação, por um paciente, de que o medicamento já estava disponível em Novo Hamburgo.
SES nega falta do remédio
A SES informou que, no “relatório dos atendimentos de março, em Canoas, consta a entrega de fingolimode dia 29 de março”. Questionada sobre a falta de medicamentos nos demais municípios, a pasta informou que, “conforme verificado na Assistência Farmacêutica do Estado, o estoque deste medicamento está regular, não constando falta”.
Avisado pela reportagem sobre o fornecimento do fingolimode, Ricardo verificou a disponibilidade em 31 de março. Porém, confirmou que não há medicamentos no estoque não só em Canoas, como também em mais cinco cidades. Ele diz que a farmácia informou-o que o medicamento está em falta e sem estoque
A Secretaria de Saúde de Canoas explicou que, por se tratar de uma substância que não consta na lista de medicamentos fornecidos pelo município, o recebimento do produto fica sob responsabilidade da farmácia do Estado e a prefeitura não tem informação sobre o estoque disponível.
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