11/03/2015
O surgimento de doenças autoimunes nas mulheres
como Artrite Reumatoide e Lúpus está ligado a uma tendência maior de
produção de anticorpos, diferentemente dos homens...
Aos primeiros sinais de dores nas juntas, com diagnóstico precoce e
tratamento adequados, as chances são muitas para o controle e até
remissão de doenças reumatológicas e para a sobrevida maior das
mulheres.
O alerta, nesta semana de conscientização do Dia Internacional
da Mulher, com data lembrada em 8 de março, é da Sociedade Brasileira
de Reumatologia (SBR), que atua com todos os especialistas do país para o
esclarecimento e a conscientização sobre as mais de 120 doenças da
reumatologia, que atingem em sua grande maioria o público feminino.
Entre as doenças mais freqüentes estão listadas Artrite Reumatoide,
que afeta três vezes mais mulheres do que em homens e Lúpus Eritematoso
Sistêmico, na proporção de dez mulheres para cada homem, que são doenças
imunológicas, também chamadas de doenças autoimunes. O surgimento
dessas patologias nas mulheres está ligado a uma tendência maior de
produção de auto-anticorpos, comparado com os homens.
A Artrite Reumatoide, mais comum em pessoas com idade acima de 40
anos e após a menopausa, é uma doença crônica inflamatória, cuja
principal característica é a inflamação das articulações (juntas),
embora outros órgãos também possam ser comprometidos. É uma doença
autoimune, ou seja, é uma condição em que o sistema imunológico, que
normalmente defende o corpo de infecções (vírus e bactérias), passa a
atacar o próprio organismo (no caso, o tecido que envolve as
articulações, conhecido como sinóvia).
A inflamação persistente das articulações, se não tratada de forma
adequada, pode levar à destruição das juntas, o que ocasiona
deformidades e limitações para o trabalho e para as atividades da vida
diária. Acomete cerca de 1% da população e atinge qualquer pessoa, desde
crianças até idosos podem desenvolver a doença. Pessoas com histórico
familiar da doença têm mais risco de desenvolvê-la.
Já o Lúpus Eritematoso Sistêmico, também uma doença imunológica,
frequentemente se manifesta em mulheres jovens, com idade entre 20 e 30
anos, podendo comprometer também adolescentes.
É uma doença
inflamatória crônica de origem autoimune, cujos sintomas podem surgir em
diversos órgãos de forma lenta e progressiva (meses) ou mais
rapidamente (em semanas) e variam com fases de atividade e de remissão.
São reconhecidos dois tipos principais de lúpus: cutâneo, que tem como
sintomas manchas na pele (geralmente avermelhadas ou eritematosas),
principalmente nas áreas que ficam expostas à luz solar (rosto, orelhas,
colo e braços) e o sistêmico, no qual um ou mais órgãos internos são
acometidos. Alguns sintomas são gerais como febre, emagrecimento, perda
de apetite, fraqueza e desânimo.
Outros, específicos de cada órgão como
dor nas juntas, manchas na pele, inflamação na pleura, hipertensão e/ou
problemas nos rins.
No Brasil, não há números exatos de pacientes com Lúpus. Estima-se
entre 120 mil a 250 mil casos no Brasil ou 1 a cada 1.000 mulheres. Em
São Paulo, os especialistas apontam a existência de 12 a 18 mil
portadoras de LES. O tratamento depende do tipo de manifestação
apresentada e deve ser individualizado.
Chama atenção também entre as doenças autoimunes com mais frequência
em mulheres a esclerose sistêmica e a polimiosite, doença caracterizada
pela inflamação dos músculos, afetando duas mulheres para cada homem. A
fibromialgia, caracterizada por dores difusas pelo corpo, também é mais
freqüente.
As doenças reumatológicas que mais afligem as mulheres são as doenças
autoimunes (exemplo – lúpus), doenças degenerativas (exemplo -
osteoartrite) e as doenças osteometabólicas (exemplo – osteoporose),
explica a reumatologista Rosa Maria Rodrigues Pereira, membro das
Comissões de Doenças Osteometabólicas e Osteoporose e da Sociedade
Brasileira de Reumatologia (SBR). Fator importante também é o histórico
familiar.
De acordo com a especialista, doenças como a osteoartrite são
degenerativas, tem componente hereditário e, em geral, se manifestam em
mulheres com mais de 50 anos, com o comprometimento de mãos e joelhos.
Nas mãos afetam as articulações dos dedos.
“Com o diagnóstico precoce e o
tratamento adequados é possível diminuir a sua progressão”, alerta a
professora Titular de Reumatologia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP).
A doença osteoporose é uma doença osteometabólica também mais comum
na mulher do que no homem. Com a chegada da menopausa e a perda do
hormônio estrogênio fundamental para a manutenção dos ossos do corpo
existem mais chances de fraturas. “Cerca de 30% das mulheres, após os 50
anos, vão ter diagnóstico de osteoporose, enquanto 15% entre os homens
com mais de 70 anos, devido à perda de testosterona com o passar do
tempo. O exame de densiometria óssea é imprescindível para o
diagnóstico.
A reumatologista alerta que as campanhas de esclarecimento sobre as
doenças reumáticas são de extrema importância para mudar o quadro da
saúde da mulher no Brasil. “Sem informação, o diagnóstico acaba sendo
tardio e há um comprometimento muito sério da qualidade de vida. Como
exemplos ela cita que para a doença Artrite Reumatoide, hoje, já existem
medicamentos que impedem que a doença chegue à deformidade. É preciso
tratar no início. Na osteoporose, a suplementação de vitamina D, com
uma ingesta adequada de alimentos ricos em cálcio e atividade física,
proporcionam mais chances de impedir a evolução da doença”, destaca Rosa
Maria.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR),
Cesar Emile Baaklini, as doenças reumáticas apresentam índices elevados
de morbidade e mortalidade, se não tratadas precocemente e
adequadamente. “Tanto a SBR quanto os serviços públicos, as secretarias
de saúde dos governos devem desenvolver ações de conscientização à
população com mais frequencia”, diz ele. “Inclusive, os serviços das
universidades têm condições de auxiliar e de ajudar os gestores em um
trabalho amplo de conscientização e devem ser acionados”, completa.
Tratamento
O tratamento das doenças reumatológicas é garantido no Sistema Único
de Saúde (SUS). A assistência aos pacientes com doenças reumáticas
inclui desde o fornecimento de medicamentos até a realização de terapias
integrativas, associadas à realização de exercícios que devem ter
indicação do médico.
A recomendação à população é que percebidos os primeiros sintomas das
doenças (dor, inchaço e rigidez nas juntas), o paciente procure o
serviço médico mais próximo da sua residência. As doenças reumáticas são
crônicas, não têm cura, mas podem ser tratadas.
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