Ela correu São Silvestre após ouvir “que só ficaria pior” com a Esclerose

04/01/2022
Michelle ouviu que “ficaria cada vez pior com a doença”, mas escolheu viver um dia de cada vez e ser feliz
Michelle agradecendo durante corrida na São Silvestre 2021, em São Paulo. 

Se há dois anos alguém falasse sobre a esclerose múltipla ou questionasse a doença de Michelle Chiarello, certamente ela responderia com a voz embargada ou chorando. Hoje, é com sorriso no rosto que ela fala e acolhe pessoas que vivem o mesmo desafio: o de ser feliz após o diagnóstico.

Campo-grandense de coração, que viveu aqui durante 28 anos, ela narra a superação vivida no dia 31 de dezembro, quando conseguiu correr 15 km da tradicional São Silvestre em São Paulo. O trajeto cumprido representou não só a força que ela busca diariamente, mas também a chance que ela deu para a vida sem levar em consideração as tristes palavras que ouviu pelo caminho.

O diagnóstico de esclerose foi em 2015 quando Michele cursava Enfermagem. 

Os sintomas apareceram com a dificuldade para enxergar. “Eu enxergava tudo duplo. Fui ao oftalmologista ele me disse que na parte ocular não tinha nada e fui encaminhada ao neurologista. Com a ressonância magnética foi identificada as lesões”.

Daquele momento em diante Michelle viveu um período de susto. “Imagina como é receber um diagnóstico sendo mãe de dois filhos, que tinham 12 e 9 anos na época. 

Eu tinha medo de perder os movimentos, afinal, é uma doença que a gente não sabe o que pode acontecer”. 
Michelle correu com balões que levavam nomes de pessoas especiais.

Michelle iniciou o tratamento com as primeiras injeções. Na primeira tentativa houve perda de força no braço e foi necessário trocar medicação. Ela tinha consciência que remédio algum traria a cura, mas seria possível estabilizar a doença.

Em uma nova troca de medicações, Michelle sofreu com um período longo de efeitos colaterais, que iam de náuseas a convulsões. “Apesar das reações adversas, meu médico autorizou o pilates. Comecei a fazer atividade física e parti para a caminhada, musculação, até que fui chamada para participar de um grupo de corrida”.

O que ela suspeitava que fossem poucos metros virou 15 quilômetros, conquistado na última São Silvestre. Michele correu com balões amarrados no corpo. Em um deles ela agradecia à família e os amigos que a ajudaram durante todo o processo. Outro era um agradecimento a Deus e também à associação que faz parte.

Ao tentar descrever a emoção vivida, Michelle fica com a voz embargada de felicidade, não só pela corrida, mas por ter vencido quando um dia ouviu que não iria tão longe.

“Quando tive algumas complicações e fui aposentada, eu ouvi de um médico que eu ficaria cada vez pior. Eu não melhorei da doença, mas estou estabilizada. Então durante a corrida lembrei muito desse médico e de como não estou pior como ele mencionou”, diz.

Por isso, além da atividade física e dos tratamentos com medicações, Michelle faz acompanhamento psicológico e se dedica hoje a falar com  pessoas recém-diagnosticadas ou que vivem com a doença há tempo.

Como presidente da Associação de Esclerose Múltipla de Florianópolis, ajudamos e orientamos pacientes que estão no começo da doença. E falar hoje me fortalece muito. 

A doença traz um medo gigantesco do futuro e eu tiro muitos mitos para que todos possam continuam vivendo”.

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