Botox: muito além da estética



Substância é usada como tratamento para diversas doenças

A toxina botulínica tipo A ganhou os holofotes quando demonstrou sua eficácia para amenizar rugas e linhas de expressão. 
Nem todo mundo sabe, mas a mesma substância amplamente usada em clínicas dermatológicas para deixar a testa lisinha, no Brasil, é indicada e aprovada pela ANVISA para sete diferentes tratamentos terapêuticos que ajudam no resgate da qualidade de vida.




A toxina botulínica é produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Conhecida por seu efeito tóxico essa neurotoxina causa o botulismo, uma intoxicação que afeta o sistema nervoso e provoca a paralisia gradual dos músculos. 
O estudo dessa condição mostrou que, em doses muito pequenas, essa toxina podia ser usada com fins terapêuticos.




A substância foi empregada como uma alternativa não-cirúrgica para o estrabismo e utilizada pela primeira vez em 1989, depois da aprovação pelo FDA (Food and Drugs Administration), órgão norte-americano que aprova e controla o uso de medicamentos. Por aqui, o produto chegou três anos depois, em 1992, também para o tratamento do problema oftalmológico.




O laboratório Allergan é dono da marca Botox, nome comercial pelo qual a toxina ficou popularizada no Brasil e em todo o mundo. 
Além dele, também são comercializados no País o Dysport, do laboratório Ipsen, e o Prosigne, da Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos. Conheça os principais usos da toxina.




Bexiga hiperativa 



O que é: contrações involuntárias do músculo da bexiga, causando uma vontade súbita e urgente de urinar. A pessoa pode até perder urina sem perceber (incontinência urinária). 
A bexiga hiperativa pode ser causada por uma infecção urinária ou até por alterações nos nervos que controlam esse órgão.




Aplicação: o uso da substância nesses casos foi aprovada pela ANVISA há apenas um ano. Por via endoscópica, o médico injeta o botox na parede da bexiga, o que diminui suas contrações. O procedimento é feito com anestesia local, leva em média 30 minutos e o paciente tem alta no mesmo dia.




Em 15% dos casos, no entanto, foi observado dificuldade para urinar depois da aplicação. 
O resultado é considerado satisfatório por até nove meses, quando uma nova aplicação pode ser refeita.




Hiperidrose




O que é: excesso de transpiração que ocorre, em geral, nas palmas das mãos, planta dos pés e axilas. Não tem uma causa específica e, por isso, não tem uma cura. 
Segundo a Sociedade Internacional de Hiperidrose, mais de 176 milhões de pessoas no mundo são afetadas por esse distúrbio.




Quem sofre de hiperidrose transpira quatro a cinco vezes mais do que o normal para manter a temperatura do corpo. 
Os pacientes que apresentam o problema nas mãos, por exemplo, têm dificuldades para cumprimentar pessoas, escrever e segurar objetos.




Aplicação: após demarcar a região com maior produção de suor (onde se concentrará a aplicação da toxina) o médico aplica a substância na pele, a uma profundidade de 1,5cm ou 2cm, dependendo do local. 
O produto atua nas glândulas sudoríparas, reduzindo a produção de suor.




Se o procedimento for realizado na axila, um creme anestésico resolve. Nos pés e mãos, em geral, utiliza-se anestesia local. 
A diferença já é notada pelos pacientes nas 48 horas seguintes ao procedimento e os resultados podem durar de sete a nove meses. Não há problema em repetir a aplicação.




Estrabismo




O que é: condição em que o músculo de um olho é mais forte do que o de outro, causando desalinhamento entre os globos oculares.

Aplicação:


 nos casos em que o tratamento é indicado (só um oftalmologista pode avaliar isso), o procedimento é realizado com anestesia local. 
Um aparelho chamado eletromiógrafo injeta a toxina no músculo mais forte e o globo ocular que está desalinhado volta à posição normal. 
Assim com os demais tratamentos realizados com a toxina, é preciso refazê-lo. 
Os resultados duram, em média, quatro a seis meses, dependendo da pessoa.




Distonia




O que é: contrações involuntárias da musculatura, que podem afetar diferentes regiões do corpo.
Ainda não se sabe ao certo a causa do problema, mas acredita-se que esse distúrbio seja uma disfunção do cérebro ou alguma lesão no sistema nervoso central.




Aplicação: a toxina botulínica é aplicada na parede do músculo com problema, evitando as contrações involuntárias. 
O volume a ser utilizado varia de acordo com o tamanho do músculo afetado. 
A resposta ao tratamento vai depender do metabolismo de cada paciente, mas em geral os resultados duram de três a seis meses.




O uso do botox, no entanto, não é uma cura para o problema, é somente uma forma de controlá-lo – com o tempo o tratamento pode levar ao atrofiamento do músculo.




Blefaroespamos




O que são: movimentos involuntários da pálpebra, semelhantes a um tique nervoso. A pessoa pisca involuntariamente e constantemente. 
O problema pode impossibilitar uma vida social plena: muitos pacientes piscam tanto que chegam a ter problemas para enxergar, sendo impedidos de dirigir.




Aplicação: a doença não tem cura, o procedimento com o botox é somente uma maneira de controlá-la. Agulhas finas, semelhantes à de aplicação de insulina, injetam a toxina botulínica em determinados pontos da pálpebra. 
Os músculos responsáveis por esses movimentos são paralisados e o movimento normalizado. Os resultados podem ser percebidos até cinco dias depois. 
O procedimento tem de ser repetido entre quatro a seis meses da aplicação.




Espasticidade



O que é: rigidez excessiva da musculatura dos braços e principalmente das pernas – o que afeta a mobilidade. 
É uma sequela comum em pacientes com acidente vascular cerebral (AVC), paralisia cerebral, lesões medulares, esclerose múltipla e outras doenças ligadas ao sistema nervoso central.




Aplicação: a doença não tem cura, mas pode ser amenizada com o uso do botox. 



A toxina é aplicada no músculo e no tecido subcutâneo, relaxando a musculatura contraída.




Espasmo hemifacial




O que é: contrações involuntárias dos músculos da face, em geral, unilaterais e localizados. 
A doença é ocasionada pela compressão de uma artéria sobre o nervo facial, próxima ao tronco cerebral, ou também por lesões cerebrais como tumor ou aneurisma.




Aplicação: assim como no caso da espasticidade, agulhas injetam a toxina botulínica no músculo afetado e também no tecido subcutâneo, relaxando-o. 
O tratamento deve ser refeito a cada três ou quatro meses.




Fontes consultadas: Antonio Lúcio Teixeira, neurologista, professor da Universidade Federal de Minas Gerais; Denise Stein, dermatologista membro da Membro da Sociedade Internacional de Dermatologia; Fernando Almeida, urologista, coordenador do setor de Disfunção Miccional e Urologia Feminina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Hélcio Bessa, oftalmologista membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular.

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