RISCO IGNORADO

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17 de dezembro de 2016 

DESPREOCUPAÇÃO COM O HIV REDUZ USO DE PRESERVATIVO, E DOENÇAS COMO SÍFILIS E HPV VOLTAM A PREOCUPAR...

As bactérias e os vírus que se aproveitam dos encontros sexuais entre humanos para crescer e multiplicar viveram momentos difíceis nas últimas décadas, mas agora estão no contra-ataque. 

Elas haviam sofrido um golpe duro a partir da década de 1980, quando o terror provocado pela ascensão da aids desencadeou mudanças profundas no comportamento, estimulando uma escolha mais criteriosa de parceiros e o uso de preservativos. 

O foco do sexo seguro era o HIV, mas a camisinha acabou barrando também as infecções por várias outras doenças, como sífilis, gonorreia, clamídia e herpes genital.


A péssima notícia é que essas enfermidades retornaram com tudo...

As contaminações por HIV voltaram a crescer no país, e a sífilis se multiplicou de tal forma que já é considerada uma epidemia (leia mais ao lado). O avanço de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é difícil de medir, porque a notificação dos casos não é compulsória, mas autoridades e especialistas apontam que, se a sífilis e o HIV estão em crescimento, as outras doenças tendem a seguir o mesmo caminho. A culpa é atribuída a um certo menosprezo pelos riscos.

– A gente precisa falar mais sobre isso, porque as pessoas não estão se dando conta – alerta Aline Sortica, coordenadora da seção de DST/aids da Secretaria Estadual da Saúde.

Da mesma forma que foi o medo do HIV que conteve as demais infecções no passado, agora é uma certa despreocupação com o vírus causador da aids que parece ter aberto a porteira para a proliferação de outras doenças. 

Com o desenvolvimento de tratamentos eficazes, o HIV já não aterroriza tanto. Como consequência, houve um recuo no uso de preservativos.

– Os mais jovens não viram a cara do HIV no início da epidemia, não viram as pessoas morrendo de aids. Têm a falsa impressão de que é uma doença menos agressiva. Tivemos um retrocesso. E quando as pessoas deixam de se proteger contra o HIV, a falta de proteção é para todas as doenças. 

Isso tem a ver com o fato de as campanhas de prevenção não estarem chegando a elas e também porque perderam o medo. Vemos no dia a dia que os adolescentes e os adultos jovens estão resistindo muito a usar o preservativo. As profissionais do sexo reclamam que os clientes não estão querendo usar.

Por causa disso,as pessoas estão se expondo. 

Isso não é só população carente. Está chegando no consultório privado também – revela Regis Kreitchmann, professor de ginecologia e obstetrícia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Muitas doenças não dão sinais

Pelas estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem em um ano 937 mil casos de infecção por sífilis, 1,5 milhão por gonorreia, 1,97 milhão por clamídia, 640 mil por herpes genital e 685 mil pelo vírus HPV. 

Como o momento é de multiplicação dessas doenças, é provável que os números sejam ainda mais expressivos. 

Nesse cenário, os profissionais insistem na necessidade do sexo seguro em todas as relações – sejam elas vaginais, anais ou orais.

Também recomendam às pessoas que tiveram qualquer relação desprotegida a realização de exames – nas unidades públicas de saúde, estão disponíveis gratuitamente testes rápidos para HIV, sífilis e hepatite. 

Em caso de diagnóstico positivo para qualquer infecção é fundamental, além de seguir o tratamento, informar antigos parceiros, para que também eles realizem testagens. 

Não apenas por causa dos males que a doença pode causar, mas também porque lesões que elas provocam aumentam o risco de infecção por outros vírus e bactérias, que podem ser ainda mais nocivos.

– É importante que as pessoas estejam muito atentas. Há algumas ISTs que não dão sinais, mas continuam infectando outras pessoas. E quando se detectar qualquer alteração genital, é necessário fazer uma avaliação médica o mais rápido possível – diz o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho, coordenador do Centro de Imunizações do Hospital Moinhos de Vento.

Gewehr Filho ressalta que a única forma de ter 100% de segurança na prevenção é pelo uso de preservativo. Mas reconhece que há resistências. 
Ele observa que não se trata de uma orientação, mas no caso de o casal insistir no sexo sem preservativo, uma forma de minimizar a possibilidade de infecções é fazer exames ao mesmo tempo, para comprovar que não há presença de qualquer doença.

CONDILOMA ACUMINADO (PAPILOMAVÍRUS HUMANO - HPV)

O QUE É

O condiloma acuminado, causado pelo HPV, é também conhecido por verruga anogenital, crista de galo, figueira ou cavalo de crista. Existem mais de 200 tipos de HPV, e alguns deles podem causar câncer, principalmente no colo do útero e no ânus.

CONTÁGIO

A principal forma de transmissão do HPV é por via sexual, que inclui contato oral-genital e genital-genital.

SINAIS E SINTOMAS

Verrugas não dolorosas, isoladas ou agrupadas, que aparecem nos órgãos genitais, além de irritação ou coceira no local. As lesões podem aparecer no pênis, no ânus, na vagina, na vulva, no colo do útero, na boca e na garganta.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Na presença de qualquer sinal ou sintoma, recomenda-se procurar um profissional de saúde para o diagnóstico correto e indicação do tratamento adequado. A realização periódica do exame preventivo de câncer de colo uterino é uma medida de prevenção. O Ministério da Saúde adotou a vacina quadrivalente, que protege contra HPV de baixo risco (tipos 6 e 11, que causam verrugas anogenitais) e de alto risco (tipos 16 e 18, que causam câncer de colo uterino).

HERPES GENITAL

O QUE É

Causado por um vírus, é caracterizado por dor e lesões na região genital.

CONTÁGIO

O herpes genital é transmitido por meio de relação sexual (oral, anal ou vaginal) sem camisinha com uma pessoa infectada. Em mulheres, durante o parto, o vírus pode ser transmitido para a criança se a gestante apresentar lesões.

SINAIS E SINTOMAS

Após o contágio, os sinais e sintomas podem aparecer em média após seis dias e geralmente são pequenas bolhas agrupadas que se rompem e tornam-se feridas dolorosas no pênis, ânus, vulva, vagina ou colo do útero. Essas feridas podem durar, em média, de duas a três semanas e desaparecem. Outros sintomas são formigamento, ardor, vermelhidão e coceira no local, além de febre, dores musculares, dor ao urinar e mal-estar. Os sinais e sintomas podem reaparecer, dependendo de fatores como estresse, cansaço, esforço exagerado, febre, menstruação, exposição prolongada ao sol, traumatismo ou uso de antibióticos.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Na presença de qualquer sinal ou sintoma de herpes genital, recomenda-se procurar um profissional de saúde para o diagnóstico e indicação do tratamento. A infecção tem tratamento e os seus sinais e sintomas podem ser reduzidos, mesmo que não haja cura.

CANCRO MOLE

O QUE É

É causado pela bactéria Haemophilus ducreyi, sendo mais frequente nas regiões tropicais.

CONTÁGIO

Transmite-se pela relação sexual com uma pessoa infectada sem o uso da camisinha.

SINAIS E SINTOMAS

Feridas múltiplas e dolorosas de tamanho pequeno com presença de pus, que aparecem com frequência nos órgãos genitais. Podem aparecer nódulos (caroços ou ínguas) na virilha.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Ao se observar qualquer sinal e sintoma de cancro mole, a recomendação é procurar um serviço de saúde. O tratamento deverá ser prescrito pelo profissional de saúde.

SÍFILIS JÁ VIROU EPIDEMIA NO PAÍS

Em 2005, 1.595 gestantes brasileiras foram diagnosticadas com sífilis durante o pré-natal. Para cada 2 mil bebês que nasceram, uma mãe estava infectada.
Desde então, os números cresceram de forma acelerada. No ano passado, depois de uma década, a quantidade de grávidas com a bactéria chegou a 33.365, um recorde. Havia uma mãe com sífilis para cada 100 bebês nascidos vivos.
Trata-se de uma grave epidemia, com contornos especialmente dramáticos no Rio Grande do Sul. No Estado, a taxa de gestantes identificadas foi quase o dobro da média nacional: duas grávidas para cada 100 bebês, índice superado apenas pelo do Mato Grosso do Sul.
A elevada incidência da doença entre grávidas é reveladora porque é obrigatório realizar o exame de detecção em diferentes momentos da gestação, como parte do pré-natal. Como a sífilis é uma doença insidiosa, que pode passar despercebida e demorar anos até apresentar consequências, grande parte dos infectados não desconfia ter a bactéria, não procura um médico e não é diagnosticada.
Por isso, a incidência da doença entre as grávidas é um bom termômetro do tamanho do problema na sociedade.
– É possível projetar o que acontece entre as gestantes para o resto da população em idade reprodutiva. Em Porto Alegre, a prevalência de sífilis nessa população é de 3%. É muito alto – alerta o professor Regis Kreitchmann.
Identificar a presença da enfermidade durante a gestação é uma prioridade porque ela pode ser transmitida à criança – a chamada sífilis congênita, de consequências muito graves. Aline Sortica, da Secretaria Estadual da Saúde, afirma que 40% dos abortos são decorrentes da doença – a principal causa conhecida.
– Isso significa que muitas das crianças acabam nem nascendo. Quando nascem, podem ter problemas neurológicos, hepáticos e malformações. Também podem nascer sem sintomas e desenvolvê-los nos primeiros anos de vida. Esses bebês têm de ficar internados em UTI neonatal para tratamento e precisam ser acompanhados nos dois primeiros anos de vida.
No ano passado, as estatísticas do Ministério da Saúde indicaram que 19.228 bebês de até um ano foram diagnosticados com sífilis congênita – o dobro do registrado em 2011 e quase quatro vezes mais o número de 2004. O Rio Grande do Sul teve a segunda maior taxa, atrás de Minas Gerais. Muitos dos casos acabam em óbito. Foram 221 mortes de crianças de até um ano em 2015 (13 delas em território gaúcho). Em uma década, a taxa de vítimas fatais triplicou.
– É assustador, porque quando se fala em gestante infectada e em criança com sífilis congênita, isso é só a pontinha do iceberg. Debaixo disso tem muita gente, homens e mulheres, que não foi diagnosticada – afirma Aline.

Falta cuidado na prevenção e no tratamento
Todo esse mal poderia ser contornado com medidas muito simples. O uso de preservativos, para começar, afasta o risco de infecção. E no caso de ela ocorrer, bastaria medicar-se com penicilina para eliminar o vírus e não mais transmiti-lo. Mas as características da sífilis fazem com que ela não seja diagnosticada em uma proporção significativa de casos.
No momento da infecção, é comum surgirem lesões nos genitais. Mas elas são indolores e desaparecem em pouco tempo. No caso das mulheres, podem nem ser notadas. Em uma segunda fase, distante no tempo, manchas na pele podem eclodir. Segundo Aline Sortica, é usual que as pessoas acreditem tratar-se de alguma alergia e não darem maior atenção ao assunto. Depois disso, a sífilis pode passar vários anos sem provocar quaisquer manifestações. Quando finalmente sua presença é notada, já se encontra em estágio avançado, tendo comprometido órgãos, gerado dano neurológico ou provocado a perda da visão. Uma das consequências pode ser a morte.
Combinando esse perfil assintomático com o risco para os bebês, surge uma situação que tira o sono dos médicos. Mesmo quando conseguem detectar a presença do vírus no pré-natal e tratar a mãe com sucesso, o parceiro sexual continua infectado – e volta a passar a sífilis para a mulher grávida.

– Ela acaba tendo um bebê com sífilis porque se reinfectou. 

Isso é bastante comum. Sem cortar a cadeia de transmissão, sem tratar os parceiros sexuais daquela pessoa, ela acaba se infectando novamente – lamenta Aline.
Uma dificuldade, diz Kreitchmann, é que muitas vezes o parceiro infectado resiste a procurar tratamento:
– O médico tem o direito e a obrigação de prescrever o tratamento para o parceiro. Mas ele não quer fazer ou faz incompleto.


PARECE INOFENSIVO, MAS NÃO É

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, quatro meses atrás, uma pesquisa feita com mais de 100 mil estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. Cerca de 30 mil relataram ter tido relações sexuais em 2015. Destes, 33,8% contaram que a última transa havia sido sem preservativo. Em 2012, em edição anterior da pesquisa, o índice do sexo desprotegido era de 28,7%.
Esses números sugerem que o risco das infecções sexualmente transmissíveis está sendo negligenciado cada vez mais, o que só pode ser atribuído à ignorância. Mesmo que existam tratamentos e que na maioria dos casos eles ofereçam a cura, as doenças transmitidas no sexo sem proteção são perigosas.
A mais preocupante, naturalmente, é a aids. Os tratamentos atuais transformaram-na praticamente em uma doença crônica, mas isso não significa que ela se tornou inofensiva.
– O tratamento ainda pode trazer efeitos colaterais. Caso ele seja abandonado ou a doença não seja descoberta, o problema evolui e atrapalha o funcionamento do sistema imunológico, favorecendo o aparecimento de infecções oportunistas. E existe também a questão das neoplasias, que têm incidência maior no paciente com HIV do que na população em geral – cita o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho.
Também as hepatites dos tipos B e C são ISTs de grande potencial destrutivo, lembra o especialista. Elas podem evoluir para cirrose e, depois, originar um câncer de fígado. O vírus HPV, por seu turno, é o principal causador do câncer de colo do útero. 

No sexo anal, pode levar a tumores no ânus e no reto. O sexo oral também oferece risco: o vírus está relacionado ao câncer de garganta. As neoplasias penianas são pouco comuns, mas também ocorrem.
No caso da gonorreia, a falta de tratamento pode provocar infertilidade no homem e na mulher, além de oferecer risco de contágio nos bebês.
Outra razão de perigo é que qualquer infecção, por menos nociva que seja ou que pareça, multiplica o risco de contrair doenças mais graves.
– Quando a gente tem uma IST, tem risco aumentado de pegar outras. Por exemplo: talvez a infecção mais comum de todas seja o herpes genital. Na maior parte do tempo, o vírus fica dormindo, em estado de latência. Eventualmente, acorda e faz lesão de pele. Rompe a integridade da pele, a barreira de proteção mecânica. E fica mais fácil a pessoa se contaminar na troca de fluidos do ato sexual – diz Gewehr Filho.
Um agravante é que, recentemente, cepas de bactérias causadoras de ISTs vêm se tornando mais resistentes. O caso mais flagrante é o da gonorreia. Na Europa e nos Estados Unidos, foram encontradas bactérias da doença que resistem a grande parte dos antibióticos existentes. Há um risco de que as opções de tratamento se tornem mais restritas.
– Uma tendência em nível mundial é termos cada vez mais casos com dificuldade de tratamento, pela seleção natural das bactérias existentes – alerta o infectologista.

SÍFILIS
O QUE É

Causada pela bactéria Treponema pallidum, pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária).

CONTÁGIO

Pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada ou da mãe infectada para a criança durante a gestação ou o parto.

SINAIS E SINTOMAS

Sífilis primária: ferida no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele), que aparece de 10 a 90 dias após o contágio. Não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.
Sífilis secundária: os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses após o aparecimento da ferida inicial. São manchas no corpo, principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés.
Sífilis latente: fase assintomática
Sífilis terciária: pode surgir de dois anos a 40 anos depois do início da infecção. Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

DIAGNÓSTICO

O teste rápido de sífilis está disponível nos serviços de saúde do SUS. O resultado sai em 30 minutos.

TRATAMENTO

O tratamento de escolha é a penicilina benzatina, mas recomenda-se procurar um profissional de saúde para diagnóstico e tratamento adequado.
Sífilis congênita

É transmitida da mãe para criança na gestação. São complicações dessa forma da doença: aborto espontâneo, parto prematuro, má-formação do feto, surdez, cegueira, deficiência mental e morte ao nascer.
UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE
A orientação é sempre fazer sexo com preservativo, mas o sistema público de saúde oferece aos brasileiros uma segunda oportunidade, nos casos de relações desprotegidas. Trata-se da profilaxia pós-exposição (PEP), que consiste em uma medicação capaz de impedir a infecção pelo HIV.
Quem se expôs a risco pode procurar uma unidade de saúde para fazer a PEP, mas ela só terá efeito se for iniciada nas primeiras 72 horas após o sexo. A medicação precisa ser tomada por 28 dias.
– É importante que a pessoa busque esse serviço quando tiver alguma exposição sexual. Mas isso não pode ser rotina, é para situações eventuais – afirma Aline Sortica, da Secretaria Estadual da Saúde.
Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou dados mostrando que as infecções pelo vírus HIV estavam em queda no mundo – mas tinham voltado a subir no Brasil. O aumento foi de 11% entre 2005 e 2013.

GONORREIA E INFECÇÃO POR CLAMÍDIA

O QUE SÃO

Causadas por bactérias (Neisseria gonorrhoeae causa gonorreia e Clamidia trachomatis, provoca clamídia), costumam estar associada, causando a infecção que atinge os órgãos genitais, a garganta e os olhos. Quando não tratadas, podem causar infertilidade, dor durante as relações sexuais e gravidez nas trompas.

CONTÁGIO

A transmissão é sexual.

SINAIS E SINTOMAS

Dor ao urinar ou no baixo ventre, corrimento amarelado ou claro, fora da época da menstruação, dor ou sangramento durante a relação sexual. A maioria das mulheres infectadas não apresenta sinais e sintomas. Os homens podem apresentar ardor e esquentamento ao urinar, além de dor nos testículos.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Na presença de qualquer sintoma, recomenda-se procurar um serviço de saúde para o diagnóstico e o tratamento.

SINAL DE CÂNCER DE MAMA É NOTADO PELA PRÓPRIA MULHER EM 66% DAS VEZES

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06/10/2016 

Mamografia é essencial para detecção precoce

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgada nesta quinta-feira (6) aponta que, em 66,2% dos casos de câncer de mama, é a própria mulher quem detecta os primeiros sinais da doença.

O estudo foi feito pelo Núcleo de Pesquisa Epidemiológica da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca, que entrevistou 405 mulheres que procuraram atendimento devido a câncer de mama pela primeira vez entre junho de 2013 e outubro de 2014 no Rio de Janeiro.

Os principais sinais notados por essas mulheres foram a presença de um caroço (citado por 89,6% das mulheres) dor na mama (20,9%), alterações na pele da mama (7,1%), alterações no mamilo (2,6%), saída de secreção do mamilo (5,6%) e alteração no formato da mama (3,7%).

Em 30,1% dos casos, a doença foi identificada por uma mamografia ou outro exame de imagem e, em 3,7% dos casos, um profissional de saúde detectou a suspeita.

O Inca e o Ministério da Saúde lançaram, nesta quinta-feira, uma campanha do Outubro Rosa, movimento de prevenção ao câncer de mama celebrado este mês, chamada "Câncer de mama: vamos falar sobre isso?". A ideia é divulgar a informação de que todas as mulheres de 50 a 69 anos façam a mamografia a cada dois anos.

Câncer mais comum entre mulheres

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil. Segundo estimativa do Inca, o Brasil deve ter 57.960 novos casos de câncer de mama em 2016. O câncer de mama também pode atingir homens, mas apenas 1% dos casos da doença correspondem a eles.
Em 2013, último ano com dados disponíveis, 14.388 pessoas morreram de câncer de mama no Brasil, sendo 14.206 mulheres e 181 homens.

Diagnóstico

A realização anual da mamografia para mulheres a partir de 40 anos é importante para que o câncer seja diagnosticado precocemente.

O autoexame é muito importante para que a mulher conheça bem o seu corpo e perceba com facilidade qualquer alteração nas mamas e assim procure rapidamente um médico. Vale lembrar que o autoexame não substitui exames como mamografia, ultrassom, ressonância magnética e biopsia, que podem definir o tipo de câncer e a localização dele.

Tratamento

O câncer de mama tem pelo menos quatro tipos mais comuns e alguns outros mais raros. Por isso, o tratamento não deve ser padrão. Cada tipo de tumor tem um tratamento específico, prescrito pelo médico oncologista. Entre os tratamentos estão a quimioterapia e radioterapia, a terapia alvo e a imunoterapia.



ANVISA ALERTA PARA RISCO DE SUPERBACTÉRIAS

#UnidosSomosMaisFortes

01/10/2016 11:00

comunicado de risco será encaminhado para todos os hospitais com leitos de unidade de terapia intensiva

Brasília - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai divulgar na próxima semana um alerta sobre a confirmação da presença no Brasil de bactérias portadoras do gene mcr-1, capaz de torná-las imunes à Colistina, uma classe de antibióticos considerada como a última arma para combater bactérias multirresistentes.
O comunicado de risco será encaminhado para todos os hospitais com leitos de unidade de terapia intensiva.
No documento, a Anvisa reforça a necessidade de equipes de saúde ficarem atentas para o risco, lista quais medidas são necessárias para diagnóstico e quais providências devem ser adotadas no caso de confirmação da presença de bactérias portadoras desse gene.
Foram confirmados no Brasil até o momento três pacientes contaminados pela bactéria Escherichia coli, portadora da mutação - dois casos em São Paulo e um no Rio Grande do Norte. Há ainda outros três casos em análise, no Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.
"Estamos preocupados. Uma das últimas armas que temos para combater infecções multirresistentes pode tornar-se também inútil", afirmou a gerente da área de Vigilância e Monitoramento da Anvisa, Magda Machado de Miranda.
"Ficaríamos sem opção terapêutica", completou. Magda aponta ainda outro risco envolvendo o gene mcr-1. "Seu poder de transmissão é muito alto. Há possibilidade de ele se transferir de uma espécie bacteriana para outra."
O coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, Marcos Boulos, afirmou que, entre os casos confirmados no Estado, um foi detectado no Hospital das Clínicas, em março.
"O achado é muito importante. É preciso agora reforçar o alerta para que profissionais e instituições redobrem os cuidados para identificação de controle de casos suspeitos", completou.
Pelo mundo
O gene mcr-1 foi descoberto na China. Países da Europa, África e Ásia já confirmaram a presença de bactérias com essa mutação. "O gene não significa, por si só, que a bactéria será multirresistente", explicou o gerente de tecnologia e serviços de saúde, Diogo Soares.
Ele compara o gene mcr-1 a uma armadura, que pode ser usada para proteger a bactéria do ataque de antibióticos. "A ferramenta está disponível. Basta agora que a bactéria faça uso da nova proteção."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

UMA VIDA DE CUIDADOS...RS LIDERA RANKING DE DIAGNÓSTICO DE FIBROSE CÍSTICA

#UnidosSomosMaisFortes

24/09/2016

Ativa, a pequena Helena, cinco anos, conta com a ajuda da mãe, Luciana, para enfrentar o tratamento

No Brasil, a expectativa de vida de pessoas com a fibrose cística é de 38 anos
Os pais de Martin Degrazia Fernandes Lima, 23 anos, descobriram que ele tinha uma doença genética rara pouco tempo depois de ele ter nascido. E foi graças à insistência da avó. A mãe e o pai de primeira viagem estranharam o emagrecimento rápido e o choro constante do menino, e foi ela que fez com que buscassem atendimento médico especializado. Como a mãe de Martin é de Porto Alegre, foi para a Capital que a família viajou. Lá, após uma série de exames, foi confirmado o diagnóstico: Martin tinha fibrose cística. É a mesma doença do casal que inspirou o livro A Culpa é das Estrelas, de John Green.


Conforme a Associação Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose (Agam), a doença é genética e atinge principalmente caucasianos e faz com que o corpo produza um muco mais espesso que o normal no pulmão.

 A eliminação se torna difícil, e, com o acúmulo, há proliferação de bactérias, o que causa problemas, como diabetes, infertilidade, doenças do fígado e fragilidade óssea, além de baixar a imunidade. Além disso, pâncreas e intestino não cumprem suas funções, o que exige medicação constante. Caso contrário, a digestão dos alimentos não é feita.

– Se eu não tomar os remédios e fizer o tratamento, eu não duro muito – explica Martin.

No Brasil, a expectativa de vida de pessoas com a fibrose cística é de 38 anos. A morte, geralmente, ocorre por insuficiência respiratória. Por isso, a família de Martin sofreu com o diagnóstico, mas não titubeou e partiu logo para o tratamento, que precisa ser ininterrupto e por toda a vida. Fisioterapia, fonoaudiologia e suplementação alimentar são previstos.

Apesar dos pesares, Martin diz que leva uma vida quase normal. Seus pais continuam dando suporte de sempre e nunca fizeram com que se sentisse inapto a nada, mesmo com os cuidados necessários.

Luiza, 19 anos, não tem o gene da doença que foi descoberta quando Martin, 23, era bebê. O engenheiro agrônomo tem uma vida quase normal, mas desenvolveu cirrose e, hoje, aguarda um transplante de fígado

– Restrição, eu nunca tive. Ou eu não me considero restrito a nada. Minha família nunca foi paranoica, e eu agradeço por isso. Não escondo meu problema. Acontece de algumas pessoas precisarem de antidepressivos. Eu nunca precisei – diz, olhando para a irmã Luiza, 19 anos, que não tem a doença nem é portadora do gene.

Encarando a doença

A professora Luciana Pötter é mãe da Helena, cinco anos, que tem fibrose cística. A família descobriu que a pequena tinha a doença quando ela tinha cinco dias de vida. A menina permaneceu internada por 62 dias em um hospital e passou por cinco cirurgias antes do primeiro ano de vida. Ela também não frequentou a escola durante os primeiros anos, por orientação médica, devido ao risco de contato com colegas por conta da imunidade baixa. A família se reorganizou para poder atendê-la. Hoje, tirando o cuidado que precisa e atenção ao tratamento, Helena é uma criança normal e muito ativa.

Já Martin está prestes a entrar na lista de transplante de fígado. Ele desenvolveu cirrose hepática por causa da fibrose. Devido a isso, precisa ficar próximo de Porto Alegre. Ele se formou este ano em Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, como sua família tem uma propriedade rural em Itaqui, pretendia trabalhar lá. O plano precisou ser adiado, já que a cidade fica distante 720 km da Capital. O tempo vai ser crucial quando surgir um doador.

Depois, Martin vai precisar usar uma medicação para que o organismo não rejeite o órgão, um remédio que diminui a imunidade do paciente, situação que é agravada por conta de ele ser uma pessoa com fibrose, disse a pneumologista Elenara Procianoy da Fonseca, que o acompanha desde que nasceu. Há casos de pessoas com a doença que morreram dois anos depois do procedimento. O risco vale a pena, de acordo com Martin, porque a sua qualidade de vida vai melhorar. Martin nunca desanimou e já deu início, neste ano, a uma pós-graduação.

– Eu quero trabalhar. Meu maior desejo é poder contribuir. Eu quero ter uma vida – afirma.

Diagnóstico difícil, tratamento também

A presidente da Associação Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose (Agam), Cleci Furian Muller, que tem uma neta com fibrose cística, conta que a cada 25 nascidos, um é portador do gene da doença. Quando dois portadores têm um filho, há 25% de chance de ele nascer com o mal. A estatística aponta uma taxa de nascimento de uma pessoa com fibrose a cada 1,6 mil. Na associação, há 400 pessoas cadastradas. No mundo, a estimativa é que haja 70 mil pessoas com a doença.

– O número pode não parecer alto, mas faz com que seja a doença rara mais comum no Brasil e coloca o Estado em primeiro lugar no ranking – explica.

E o número pode ser maior devido à dificuldade do diagnóstico. De acordo com o biólogo Cristiano Silveira, pai de um menino com a doença e representante do Instituto Unidos pela Vida, muitas vezes, os sintomas são confundidos com outras doenças. Há falta de informação e, inclusive, despreparo dos médicos.

– Imagine que há casos de famílias que descobrem a doença quando os filhos têm 8 anos. Viveram com todas essas dificuldades todo esse tempo – diz.

Até o primeiro semestre deste ano, só três hospitais no Rio Grande do Sul estavam aptos a fazer o diagnóstico completo, o que acrescenta dificuldade de confirmar a doença. Recentemente, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) começou a fazer o diagnóstico a partir da segunda etapa (veja abaixo).

Outra dificuldade é o custo. Para tratar o pâncreas, um dos medicamentos usados, o Creon, deve ser consumido cápsulas toda vez que o paciente se alimenta. Três cartelas com 10 comprimidos custam R$ 200. Em média, esse é o valor gasto pelos doentes a cada dois dias, a menos que entrem com ação junto ao governo do Estado para conseguir o remédio de graça. Outra questão é que a doença não escolhe classe social, e nem todos os doentes podem pagar fisioterapeutas e médicos particulares.

A esperança que surgiu para o tratamento foi o medicamento ORcAmb, ainda não disponível no Brasil. Ele deve deixar o muco formado menos espesso, o que facilita a eliminação e resolve boa parte dos problemas de pacientes. A Agam prepara uma ação coletiva para que o Estado faça o fornecimento. No próximo dia 28, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve apreciar o processo que permitirá a entrada do remédio em território nacional.

DERMATITE ATÓPICA...CAUSAS...TRATAMENTOS E PREVENÇÃO

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17/09/2016 

Doença é caracterizada pela formação de lesões avermelhadas, coceira e descamação do tecido cutâneo

Conhecida por ser uma doença inflamatória da pele, a dermatite atópica é caracterizada pela formação de lesões avermelhadas, coceira e descamação do tecido cutâneo. 

Ela acomete crianças a partir dos três meses, tem o ápice entre quatro e cinco anos, e pode provocar crises até a adolescência, quando é esperada a sua remissão espontânea. Em raros casos, a doença se manifesta na fase adulta, podendo estar acompanhada de episódios de asma ou rinite.

O que é atopia? 

É tendência hereditária a apresentar reações de hipersensibilidade imediata a antígenos ambientais comuns. As mais frequentes destas reações são a rinite alérgica, a asma brônquica e a dermatite atópica.

COMO IDENTIFICAR

A manifestação mais comum é a formação de placas vermelhas, descamativas e com coceira intensa, especialmente nas dobras do corpo como dos cotovelos, joelhos, punhos e axilas. Também há uma grande sensibilização da pele, que fica irritada e ressecada. Se a criança apresentar algum desses sintomas, a orientação é procurar um pediatra ou dermatologista.

A dermatite atópica pode ocorrer qualquer cor de pele

Causas

Embora sua origem não esteja bem esclarecida, sabe-se que a patologia está relacionada a fatores genéticos e externos – como exposição a produtos industrializados e alérgenos como ácaros e perfumes. 

Filhos de pais com histórico de dermatite atópica grave podem ter crises com mais frequência. Durante o inverno, o quadro também tende a se agravar em função do ressecamento da pele. Alimentos como nozes e derivados do leite e do ovo podem servir de gatilho para as crises.

COMO PREVENIR

Consumir probióticos, que são lactobacilos vivos, durante a gestação e a amamentação pode ajudar na prevenção, pois auxiliam no restabelecimento da flora intestinal, responsável pela imunidade. 

Depois disso, as únicas medidas preventivas servem para evitar as crises. São elas: utilizar hidratante todos os dias após o banho para repor a hidratação perdida, tomar banho rapidamente e com água morna – nunca quente – e manter-se longe de cortinas, tapetes e carpetes, que acumulam muitos ácaros. 

Também é preciso optar por sabonetes sem perfume, hipoalergênicos e que não agridam a pele sensível. Por fim, é bom evitar roupas de materiais sintéticos, uso de amaciantes e produtos com muitas fragrâncias.

COMO TRATAR

Usar hidratantes e emolientes é o primeiro passo do tratamento. 

Durante as crises, além dessa medida, o médico pode prescrever um corticoide tópico. 

Quando o paciente tiver muita coceira, pode-se receitar um antialérgico via oral. Para casos mais graves, outras substâncias podem ser recomendadas.

Fontes: Aline Magalhães, gerente médica da Galderma e Leandra Metsavaht, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia


CÁRIES...CAUSAS...TRATAMENTO E PREVENÇÃO...

#UnidosSomosMaisFortes

10/09/2016

Doença geralmente está relacionada a uma dieta rica em carboidratos e açúcares, associada à falta de cuidados com a higiene da boca


Caracterizada pelo ataque de bactérias ao esmalte do dente — o tecido mais resistente e com mais minerais do corpo —, a cárie é uma doença provocada por um desequilíbrio na flora bucal. Geralmente está relacionada a uma dieta rica em carboidratos e açúcares, associada à falta de cuidados com a higiene da boca. Em casos extremos, pode acarretar na perda dos dentes.

COMO IDENTIFICAR



Pequenas manchas brancas são o primeiro sinal, indicando que o esmalte dentário está sendo atacado. Consulte um dentista caso perceba algo diferente. A cárie pode evoluir e se aprofundar entre as camadas do dente: primeiro ataca a dentina e, posteriormente, a polpa. Nesse estágio, o paciente pode sentir dor e sensibilidade ao frio ou a doces. Quando muito evoluída, mesmo sem estímulo algum, ela provoca dores.



Como fazer uma higiene bucal adequada

COMO PREVENIR

Manter uma boa higiene bucal e uma dieta com consumo moderado de açúcares e carboidratos é a melhor forma de evitar as cáries. É necessário escovar os dentes após todas as refeições usando escova adequada, creme e fio dental. Utilizar flúor também é uma medida que fortalece o esmalte, mas deve ser orientada por um profissional. Consultas com um cirurgião-dentista também devem ser rotineiras.

Formação da cárie

COMO TRATAR

Quando a cárie já está instalada, é necessário fazer a remoção do tecido afetado. Se houver cavidades, o profissional precisa fazer restaurações. Casos graves podem exigir a remoção completa do dente


Quando a cárie já está instalada, é necessário fazer a remoção do tecido afetado. Se houver cavidades, o profissional precisa fazer restaurações. Casos graves podem exigir a remoção completa do dente.

Como lidar com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

#UnidosSomosMaisFortes

09/09/2016

Quem sofre com a doença fica preso em rituais para aliviar a ansiedade diante de algo que parece estar errado


"Comecei a perceber algumas manias por volta dos 30 anos, mas achava que era uma coisa normal. No meu caso, é muito forte a questão da conferência: conto várias vezes para ver se a porta de casa está fechada e já quebrei a manivela do vidro do carro de tanto forçar. 

No início, parecia só um sistema de conferência, mas me cansava. Hoje, com 46 anos, vejo com clareza que tenho transtorno obsessivo-compulsivo. Percebi quando procurei a terapia para melhorar o convívio com as pessoas. O TOC é algo forte, do qual não se tem domínio. Criei fórmulas para reduzir os sintomas e diminuir a ansiedade.

Pensando agora, acho que é uma coisa que me acompanhou a vida toda. Quando era guri, tinha o guarda-roupas todo alinhado, e diziam que era porque sou virginiano. Ao escrever, se borrava, jogava o papel fora e fazia desde o início. Não consigo fixar nada na parede — de tanto apertar o parafuso, cansei de estourá-lo. Parece besteira, mas no dia a dia é bem desgastante. O TOC te consome.

Usei medicamento por dois anos, hoje mantenho só a terapia. Estou bem melhor. Quando saio de casa, ainda preciso conferir se está tudo fechado, mas faço isso só uma vez.


E tento utilizar isso para o lado positivo. Sou administrador de empresas e faço consultoria empresarial. Em transações de negócios, por ser muito detalhista e observador, enxergo as falhas rapidamente. É cansativo, mas não tenho retrabalho por conferir de forma supercriteriosa desde o início.

Na vida pessoal, tu acabas te isolando um pouco, e às vezes as pessoas não conseguem entender que tu não tens domínio. Por outro lado, gostam de comprar telefone e carro meus, porque sou muito cuidadoso. Gostaria de conseguir colocar um celular junto com as chaves e não me preocupar em arranha-lo. mas não dá."

O relato que abre esta reportagem é do administrador de empresas Jorge Ângelo Rodrigues, que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A doença, caracterizada por sintomas como necessidade de enxergar objetos organizados de forma simétrica, medo de contaminação e revisão excessiva de tarefas já realizadas, tem causas e efeitos bastante variados.

É o que explica o professor Ygor Arzeno Ferrão, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). O especialista afirma que a ocorrência está ligada à interação entre base neurobiológica bem estabelecida, questões genéticas e fatores ambientais.

— Não basta ter uma tendência genética. 

Há necessidade de fatores ambientais, como algum trauma ou estresse agudo ou crônico. Assim, se uma pessoa tem uma carga genética muito forte (e, por consequência, certa fragilidade neurobiológica), basta um pequeno evento para desencadear a doença. Por outro lado, se não há herança genética, é preciso um fator ambiental bem maior — relata Ferrão, que coordena o Ambulatório de Transtornos de Ansiedade e TOC do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas.

Professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aristides Volpato Cordioli relata que a probabilidade de uma pessoa com TOC ter um familiar com o transtorno é de quatro a cinco vezes maior do que uma que não sofre da doença. Se um dos gêmeos tem TOC, o risco de o outro também ter é de quase 50%, ressalta o psiquiatra.

— É bastante evidente que, no TOC, a pessoa aprende a lidar de maneira errada com seus medos. Ela descobre que fazer um ritual e evitar tocar em coisas de que tem medo lhe deixa mais tranquila, e passa a repetir — diz Cordioli, autor e organizador de livros sobre o tema.

Os sintomas não se apresentam, necessariamente, com a predominância de um tipo. De acordo com a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Roseli Gedanke Shavitt, pessoas com o transtorno podem ter mais de um ao mesmo tempo:

— Estudamos bastante a questão do tipo de sintoma, de qual é mais grave numa determinada pessoa e em um determinado momento. O que a gente vê é que, tanto pode ter um grupo de sintomas mais importantes, como pode ter empate entre, por exemplo, contaminação e simetria ou medo de provocar um dano para alguém e escrupulosidade. Há várias combinações possíveis.

Não posso ver nada desalinhado. Tenho TOC?

Organizar o guarda-roupa por cor, tamanho e virar todos os cabides para o mesmo lado. Alinhar simetricamente todos os quadros (inclusive em uma parede que não é da sua casa). Contar os passos enquanto caminha. Somar os números das placas de todos os automóveis que vê na rua. Quem faz coisas assim tem TOC?

— São sintomas. Mas um sintoma isolado é muito frequente na população em geral. Isso pode não ter significado clínico. Se isso não faz a pessoa perder mais tempo do que ela precisa no dia dela, se ela não sofre por causa disso, se ela não vive em função disso, é só um hábito ou necessidade para se sentir bem. É problemático quando ela se atrasa no trabalho ou falta para ficar organizando o guarda-roupa, por exemplo, ou quando quer parar e não consegue, pois sente um desconforto muito grande quando tenta parar — explica Roseli Gedanke Shavitt, da USP.

Para se diagnosticar o TOC, não basta a confirmação de obsessões e compulsões (veja a diferença abaixo). É preciso observar alguns aspectos como o tempo que os rituais tomam da pessoa e se há sofrimento ou desconforto.

O diagnóstico é feito por meio da avaliação de um especialista, normalmente um psiquiatra ou um psicólogo. Muitas vezes, os sintomas são negligenciados por quem tem a doença, fazendo com que o tratamento se inicie com quase 20 anos de atraso, salienta Ygor Arzeno Ferrão, professor da UFCSPA:

— Isso significa que já houve muitas perdas no meio do caminho: quadros depressivos associados, perdas de oportunidade acadêmicas e profissionais, perda de relacionamentos etc. Elas, provavelmente, dificultarão a vida do paciente e de seus familiares, tornando a resposta aos tratamentos bem mais difícil.

A gravidade da doença, conforme o professor aposentado da UFRGS Aristides Volpato Cordioli, pode atingir níveis extremos:

— Entre os pacientes com TOC, 10% tem uma incapacidade grave. Neste ponto, se compara com outras doenças mentais como esquizofrenia. As pessoas passam o dia todo fazendo rituais, não conseguem interromper, não conseguem trabalhar, ter vida, desenvolver autonomia, e acabam sobrecarregando a família.

Há dois tipos de tratamento, e os especialistas recomendam que sejam combinados: a terapia cognitivo-comportamental e a utilização de medicamentos conhecidos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). Mas evita-se falar em cura.

— A gente não fala em cura porque a regra no tratamento é ser mais comum a pessoa manter alguns sintomas residuais do que zerar. A diferença é que esses sintomas residuais nem interferem na vida da pessoa, não trazem sofrimento, mas estão ali — pondera Roseli.

Medo de ferir ou ser ferido
Pessoas com obsessão de que possam se ferir com algum objeto (como garfo ou faca), que têm medo de segurar ou estar perto de coisas pontiagudas. Também pode ser obsessão de que alguém a fira por não estar sendo cuidadoso o suficiente.

Entenda a diferença

Obsessão: pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que invadem a consciência e causam ansiedade, medo ou desconforto.

Compulsão: comportamentos repetitivos ou atos mentais para diminuir ou eliminar a ansiedade ou o desconforto decorrente das obsessões. Relacionam-se com regras que devem ser seguidas rigidamente.

TOC também é coisa de criança

Os sintomas do TOC podem começar ainda na infância. Em geral, manifestam-se primeiro nos meninos e, no que avança a idade, o índice de meninas com a doença aumenta até se equipararem na vida adulta. A ciência ainda não sabe dizer por que há essa diferenciação por gênero, mas isso também é uma verdade para outros transtornos psiquiátricos.

— Os sintomas são muito semelhantes tanto em adultos quanto em crianças e adolescentes. O que muda é que, na infância, alguns sinais são mais frequentes e mais fáceis de aparecer do que outros — analisa Maria Conceição do Rosário, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A psiquiatra, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (Upia) da instituição, explica que, quanto mais novas as crianças, mais comum é a presença de compulsões sem obsessões. Um exemplo é a alta frequência com que alguns meninos e meninas lavam as mãos, checam se alguma coisa está do jeito que imaginam que tem de estar ou caminham desviando da linha da lajota.

— Existem algumas fases em que ter sintomas obsessivos- compulsivos é absolutamente normal. Dos dois aos cinco anos, é muito frequente que as crianças tenham rituais, como querer que os pais contem histórias sempre do mesmo jeito ou que os alimentos não toquem uns nos outros dentro do prato. Algumas pessoas têm esses rituais e depois não desenvolvem TOC — relata Maria Conceição.

Aristides Volpato Cordioli, professor aposentado da UFRGS, ressalta que, quando o TOC se apresenta muito cedo, o fator genético fica mais evidente. Segundo ele, o mais comum é que se inicie durante a adolescência:

— Dificilmente começa depois dos 25 anos ou em pessoas mais velhas. Muitas vezes, compulsões e obsessões podem ser sintomas de doenças neurológicas. Quando começa depois dos 40 ou 50 anos, essa pessoa pode estar tendo tumor cerebral ou outras doenças neurológicas nas quais possa fazer parte uma compulsão.

Quando os pais querem ajudar, mas atrapalham

Quanto mais nova for a criança, mais difícil é fazer o diagnóstico, pois os sintomas são muito parecidos com comportamentos normais para a idade. Para se chegar a uma conclusão, não é considerado apenas se há rituais ou pensamentos obsessivos: é importante, como nos adultos, verificar a frequência com que eles acontecem, a intensidade e o quanto eles causam incômodos, desconforto ou ansiedade.

— Os sintomas precisam ser investigados e, caso sejam confirmados, encaminhar para tratamento o mais rápido possível. Quanto menor o tempo de duração da doença, mais eficaz é o tratamento — afirma Maria Conceição, acrescentando que o tratamento não será, necessariamente, com medicamento:

— Quando os quadros são muito leves, só fazendo psicoeducação e orientando a família para lidar melhor com os sintomas, a criança já melhora, principalmente as muito novas.

A especialista alerta para um comportamento chamado de acomodação familiar. Por exemplo: quando a criança demora muito no banho, a mãe entra junto para que ela leve menos tempo, ou o pai escreve a lição para deixar a letra como o filho imaginou.

— Os pais querem ajudar, mas isso aumenta a possibilidade de as compulsões continuarem. A terapia comportamental é baseada em ter a vontade ou impulso de fazer o ritual e tentar se controlar o máximo. Se os pais vão lá e fazem, a criança não passa pelo momento de tentar resistir — diz a professora.

Sinais de alerta

— Os rituais são considerados normais em crianças pequenas. Então, há outros aspectos que tem de ser analisados: eles causam incômodo ou sofrimento? Ajudam ou atrapalham? Isso pode ser visto, por exemplo, em um dia em que a criança vá dormir na casa de um colega: se ficar muito ansiosa por não realizar o ritual, é um sinal de alerta.

— A criança deixa de fazer alguma coisa por causa de seus rituais? Se algum acontecimento como viagem ou festa de aniversário interfere no dia a dia, a criança fica muito ansiosa ou não sente falta? Esses são sinais que podem dizer se ela precisa de ajuda ou se está tudo bem.

— Muitas vezes, as crianças escondem dos pais os sintomas. Se elas começam a ter rachaduras ou irritação na pele por causa da frequência de lavagem das mãos e se o tempo no banheiro é maior do que o comum, tem-se um indicativo.

— Outro sinal é a queda no rendimento escolar, provocado por idas frequentes no banheiro e demora ao fazer as lições decorrente do tempo de checagem dos exercícios. A redução no número de amigos, devido à vergonha ou medo de que descubram os sintomas, também merece atenção.