A ARTE DA CIRURGIA PLÁSTICA DE PITANGUY

Mago do bisturi  16/11/2012

Aos 86 anos, o cirurgião plástico esteve em Porto Alegre para falar na Fiergs.
A melhor operação é você gostar de si mesmo", diz o especialista.

Presente na Capital para o 49º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, o cirurgião e professor Ivo Pitanguy falou com Zero Hora sobre a busca pela estética perfeita, os limites na relação médico-paciente e a tendência de intervenções em pessoas de mais idade. Ao avaliar o crescente cuidado com a aparência, diz achar normal as pessoas manterem a atenção ao corpo em uma país tropical. Mas, quando perguntado sobre a sua relação com a própria silhueta, o especialista de 86 anos diz que nunca fez plásticas e que a melhor cirurgia que existe é manter uma relação amigável com o próprio ego: 

— Quando você se tolera, não precisa fazer nada. 



Zero Hora — As pessoas estão desesperadas pela estética perfeita. Como o senhor vê essa situação?

Ivo Pitanguy — Banalizar é muito ruim, pois a cirurgia plástica é uma especialidade cirúrgica como qualquer outra. Para isso, o paciente tem que estar preparado. O diagnóstico tem que ser correto. Muitas vezes existe uma visão distorcida por parte do paciente sobre seu corpo. Antes, nós tínhamos que explicar o que era a cirurgia plástica. Hoje, nós temos que explicar o que não é, pois tem muita informação e, às vezes, as pessoas chegam intoxicadas com inverdades. Cabe a nós orientá-las e não conduzir a cirurgia nesses casos, ou até encaminhá-las a alguma forma de autoconhecimento, que pode ser uma psicoterapia, se necessário. 

ZH — Há limite para o médico intervir na vontade do paciente?

Pitanguy - Muitas vezes, não existe indicação, e cabe ao cirurgião orientar quando não há necessidade. Mas não se pode definir um limite. Tem que haver um bom senso e o cirurgião deve lembrar que antes de cirurgião, ele é medico. Se alguém o procurou, ele tem que fazer algo que possa trazer benefício. Se ele sentir que não está trazendo, não deve operar. 

ZH — As pessoas estão vivendo mais tempo. Isso aumentou a procura por cirurgia plástica?
Pitanguy - As pessoas estão vivendo mais e a força da gravidade continua a mesma (risos). Vamos ter muito mais pessoas de 70 anos se sentindo bem com sua aparência. Na época de Napoleão, aos 30 e poucos anos a pessoa já tinha a aparência de um general de guerra. Hoje, há muitas enfermidades genéticas e endêmicas sendo controladas. 

ZH — Há idade máxima para uma intervenção?

Pitanguy — Tudo está dentro do bom senso do médico. Isso é relativo. Eu acho que o envelhecimento é muito saudável. O não envelhecer não é obrigatório. Por isso acho que a melhor cirurgia é você gostar de você mesmo. 

ZH — O que é necessário para ser um bom cirurgião?

Pitanguy — Em meu livro Cartão a um jovem cirurgião, escrevi que o cirurgião plástico nunca deve esquecer que, antes de qualquer coisa, ele deve ser um bom médico, para julgar, avaliar e trazer o bem estar. Ele tem que conhecer muito bem a cirurgia geral, e antes de tudo, sentir que diante de si há uma pessoa que confia nele, que ele deve procurar atenuar o sofrimento com a medicina.



 

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