COM O TRIPLO DA CAPACIDADE DE ATENDIMENTO, EMERGÊNCIA DO HOSPITAL DE CLINICAS ESTÁ SUPER LOTADA

Caos na saúde 15/10/2012

Pacientes se acumulam em macas e cadeiras na emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre .
Na ala adulta, 160 pessoas estavam internadas em um espaço para 49 leitos.

O espaço entre as macas é mínimo, até mesmo inexistente. Essa situação se repetiu na volta do feriadão na emergência do Hospital de Cínicas em Porto Alegre (HCPA), onde o número de pacientes atinge mais que o triplo da capacidade de atendimento.

O problema não é novo, mas se agravou nesta segunda-feira durante todo dia. Sem nenhuma doença típica que tenha tomado conta dos gaúchos, a única explicação plausível para o médico Gerson Martins Pereira, que trabalha na unidade, é o costume das pessoas adiarem a busca por atendimento e por uma solução, acumulando enfermos em plena segunda-feira pós-feriado.

Nesta segunda-feira, por volta das 19h, o caos estava por toda parte, desde a entrada na emergência, onde os pacientes ficam em cadeiras, até a parte mais crítica, onde está montada uma espécie de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na ala adulta, 160 pessoas estavam internadas em um espaço de 49 leitos. Na emergência pediátrica, os nove leitos eram ocupados por 13 crianças. Fora isso, havia cerca de 50 pessoas que ainda aguardavam atendimento médico.

— Os casos não graves chegam a esperar 12 horas, ou até mais. Todos pacientes são avaliados e atendidos conforme o risco, que é quantificado pela triagem, por isso alguns precisam esperar muito — explica Pereira.

Com oito médicos para atender todo esse contingente de pessoas com as mais variadas doenças, acaba que os pacientes sofrem não só com a dor e a espera para o primeiro atendimento, mas também com a demora no tratamento. A supervisora de enfermagem do Hospital de Clínicas, Claudia Beatriz Nery, admite que muitas pessoas não recebem o conforto adequado em decorrência da superlotação.

Moacir Diogo, 40 anos, é o reflexo da desordem causada pela grande quantidade de pessoas em busca de uma solução para o sofrimento. Depois de ficar três dias internados em um hospital de Canoas, na Região Metropolitana, ele procurou o HCPA crente de que iria ter um atendimento melhor.

Aposentado aos 33 anos, Diogo acumula um histórico de cinco infartos e tem o diagnóstico atual de água no pulmão. Desde sábado em uma cadeira de rodas, ele teve o "conforto" retirado e foi colocado em uma cadeira de plástico, com um cobertor.

— Peguei minhas coisas e disse que queria ir embora, mas não me deixaram ir. Faço aniversário em 23 de dezembro, se sair daqui de dentro até lá estou feliz — diz.

A vinda de pacientes de municípios do Interior e da Região Metropolitana agrava a situação.
— A população chega em um estágio de esgotamento, pois já foi em outros lugares e não conseguiu o atendimento — comenta o médico Gerson Martins Pereira.

Escassez de leitos agrava lotação

Além do tradicional problema de que muitas pessoas que buscam as emergências não se encaixam em casos adequados de atendimento, há também a escassez de leitos para que os pacientes graves sejam transferidos das emergências.

— Todo hospital está lotado. Na medida em que liberam os leitos, as pessoas vão subindo para os quartos — afirma a supervisora de enfermagem.

As condições das emergências, normalmente superlotadas, estão em debate no Fórum Nacional de Urgência e Emergência, realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) este ano em Porto Alegre. Entre esta segunda e terça-feira, a sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) é palco para discussões sobre a causa e a possível solução do problema.

Para o presidente do Cremers, Rogério Wolf de Aguiar, o sistema de saúde público encontra-se em estado crítico.

— O que aparece é a superlotação das emergências, mas elas são reflexo de um congestionamento de pacientes que não tiveram atendimento suficiente em pronto-atendimentos e não conseguem sair porque faltam leitos de internação — avalia.


Em vídeo, confira a situação da emergência na noite desta segunda-feira:


Preste atenção:

O QUE A EMERGÊNCIA ATENDE

- Dor no peito/infarto, derrame cerebral, dor abdominal com febre, hemorragia digestiva, falta de ar aguda, neoplasias (pacientes com câncer atendidos no HCPA que sofrem intercorrências), perda de consciência, alteração de sinais vitais (pressão excessivamente alta ou baixa, batimentos cardíacos alterados).

O QUE A EMERGÊNCIA NÃO ATENDE

- Oftalmologia (problemas nos olhos), otorrinolaringologia (dor de ouvido, dor de garganta), psiquiatria (transtornos mentais, sofrimento psíquico, depressão, risco de suicídio, surtos), traumato-ortopedia (tiros e facadas, fraturas e entorses, acidentes de trânsito...), intoxicações (alcoolismo, drogadição, ingestão excessiva de medicamentos, consumo produtos de limpeza), picadas de animais peçonhentos, acidentes em geral, constipação, dor de dente, dores musculares, dores crônicas (aquela que a pessoa tem há mais de seis meses), gripes e resfriados sem complicações.

- Na Emergência também não são aplicadas vacinas, não são fornecidos atestados ou receitas, não são marcadas consultas com especialistas a partir de encaminhamentos de postos de saúde, não é atendido o paciente que faltou a uma consulta no ambulatório do HCPA e quer suprir esta falta.

FONTE:http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/10/com-o-triplo-da-capacidade-de-atendimento-emergencia-do-hospital-de-clinicas-esta-superlotada-3919022.html

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