MEDITAÇÃO GANHA RESPALDO MÉDICO COMO TÉCNICA PARA ALIVIAR O ESTRESSE

05/02/2012



Deitado sobre um colchonete, o desafio é concentrar-se em cada parte do corpo e não se esforçar em esvaziar a mente. O exercício é de meditação, mas o propósito é focar no presente em vez de simplesmente esquecê-lo. Para além de uma realidade mais zen e de qualquer religião, os adeptos têm um objetivo bem mais prático: diminuir o estresse e amenizar o que ele faz ao corpo.

A meditação da plena atenção é uma prática oriental milenar que vem ganhando força em consultórios médicos, clínicas de reabilitação, hospitais e casas de meditação. Conquistou até os mais céticos dos estressados. O responsável pela tomada da prática meditativa pela ciência e pela medicina integrativa foi o neurocientista norte-americano Jon Kabat-Zinn, quando, na década de 1970, elaborou o que ficou conhecido como Programa de Redução de Estresse da Plena Atenção (MBSR, na siga em inglês) — oito semanas de aulas de meditação que prometem reduzir o estresse, aumentar a qualidade de vida e, se aliado a tratamentos médicos, amenizar sintomas físicos, como a dor. Há quem consiga até diminuir a dose dos medicamentos ou, no caso da diabetes, em que o estado emocional influencia nos níveis de insulina, manter a doença, relativamente, sob controle.

O que muda é a forma de reagir a um estímulo estressante e o essencial é que cada um descubra os seus pontos fracos no processo — explica a psicóloga Ângela Lins.

Como a técnica consiste basicamente em voltar-se para si mesmo, a tendência é aumentar o autoconhecimento, ajudando cada um a identificar as raízes do mau humor e da fragilidade emocional.
A proposta parece viajante, mas a ciência já dá suporte suficiente ao programa de Kabat-Zinn. Tanto que, lá fora, ele é usado em mais de 250 clínicas médicas e aceito por grande parte dos planos de saúde.

 É uma forma de economia. Menos estressadas, as pessoas adoecem menos — analisa Régis Guimarães, professor de meditação e colega de Ângela na Vipassana.
No Brasil, meditar contra o estresse ainda é raro.

— Ainda existe um certo preconceito, e as pessoas tendem a confundir com medicina alternativa ou com algo de cunho religioso. Mesmo os médicos mais abertos têm receio de serem mal interpretados por seus pacientes — acredita Régis.

Em São Paulo, o Hospital Albert Einstein, mantém um grupo de profissionais que aplica o MBSR nos pacientes em tratamento de câncer — uma prova de que a medicina começa a acreditar que o estado emocional dos pacientes faz, sim, diferença no tratamento.

— Os resultados são notáveis. Eles já estão diagnosticados e recebendo o melhor que a medicina pode oferecer a eles. O programa ajuda a entender o que eles podem fazer por si mesmos naquele momento. Não adianta tentar descobrir o porquê da doença nem olhar para frente e se preocupar com o prognóstico. Eles precisam estar atentos ao hoje — explica o cirurgião Paulo de Tarso Lima, especialista em medicina integrativa e líder da equipe do Albert Einstein.

Aos poucos, a ciência confirma o que Oriente sempre soube. Um estudo comparativo conduzido desde 1993 pela equipe de Kabat-Zinn com 2,5 mil pacientes distribuídos em 150 programas MBSR observou que 97% deles relataram conseguir lidar melhor com o estresse; 84% afirmaram estar com a saúde melhor; 95% se mostraram mais atentos e preocupados com a própria saúde e 99% ficaram satisfeitos com os resultados do programa. 

Muitos pararam de fumar e de beber, mudaram a alimentação e passaram a assistir menos tevê. Outras pesquisas similares mostraram reduções nas doses de analgésicos e nos níveis de dor, como uma publicada no Journal of Behavioral Medicine, que mostrou que 44% dos pacientes que sofriam com dor crônica diminuíram o uso de medicamentos para dor e 28% os abandonaram completamente.

A mais recente pesquisa em cima do programa de Kabat-Zinn, aplicada por uma equipe de pesquisadores do centro de psiquiatria do Hospital Geral de Massachussets, nos Estados Unidos, foi publicada no início do ano passado no periódico Psychiatry Research: Neuroimaging. A equipe de estudiosos avaliou 16 voluntários e um grupo de controle formado por outras 16 pessoas. 

A conclusão? Meditar um pouquinho por dia durante as oito semanas propostas pelo programa da Plena Atenção não só traz bem-estar, como parece aumentar a espessura do córtex cerebral e do hipocampo, área do cérebro ligada ao aprendizado, à memória e à introspecção.

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