NOVOS RESULTADOS REFORÇAM POTENCIAL DE CÉLULAS-TRONCO NA RECUPERAÇÃO DE TECIDO PULMONAR

Qui, 17 de Novembro de 2011 

O único teste em humanos com células-tronco para tratar enfisema pulmonar foi realizado pela Unesp, em 2009, com quatro pacientes. As primeiras avaliações já apontavam uma boa resposta para o tratamento. Um novo estudo enfatiza esse potencial ao mostrar uma boa reação dos enfermos 22 meses após a aplicação a terapia. A análise deve ser finalizada ainda este ano, e os resultados finais publicados no início de 2012. 

O médico João Tadeu Ribeiro Paes é o líder da pesquisa, que é o único procedimento para tratar enfisema pulmonar usando células-tronco registrado no Clinical Trials do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (Nationatiol Institute of Health – NIH). O órgão cataloga todos os métodos terapêuticos que tenham sido aprovados para testes em humanos. Ribeiro Paes é professor da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), Câmpus de Assis, e pesquisador do Laboratório de Genética e Terapia Celular (GenTe Cel) da unidade.

Em janeiro deste ano, o estado de saúde desses pacientes noventa dias após o procedimento foi relatado pela equipe no periódico científico International Journal of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. O texto indica a recuperação da capacidade respiratória. Colaboram para o estudo estagiários do GenTe Cel e alunos do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da USP.

Com esses dados positivos, os pesquisadores esperam iniciar uma nova etapa de testes com um grupo maior - 20 pacientes. O pedido já passou por análises preliminares do Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e aguarda o parecer final do órgão.

Atualmente, não há cura para o enfisema pulmonar, nem mesmo um tratamento que estimule a recuperação dos tecidos danificados. A doença é um processo degenerativo contínuo que dilata e inutiliza os alvéolos, estruturas semelhantes a “poros” que revestem a superfície do pulmão e fazem a troca gasosa. Embora esse seja um processo natural do envelhecimento, o tabagismo, a inalação de substâncias tóxicas e a poluição atmosférica aceleram significativamente o desgaste. A pessoa diagnosticada com a enfermidade passa a tomar remédios para atenuar a falta de ar.

Respirar melhor

A pesquisa da FCL começou em 2004, com testes laboratoriais e, depois, em camundongos. Em 2009, o Conep aprovou a realização dos primeiros experimentos em pacientes. Nessa etapa, destinada a verificar a segurança do procedimento, foram tratados quatro voluntários, todos ex-fumantes com a enfermidade em estágio avançado. “O objetivo inicial do estudo era mostrar a segurança da terapia, se ela traria risco ou agravaria o quadro clínico”, relata o médico.

A segurança foi atestada, e com surpresa os pesquisadores notaram que não apenas a queda da função respiratória foi interrompida, como houve recuperação. Os resultados foram ainda mais positivos no primeiro mês após o tratamento, o que pode sugerir, segundo o professor, que a terapia deva ser contínua ou de repetição.

Evolução

Um dos voluntários do estudo teve pneumonia, foi internado e contraiu uma infecção hospitalar que o levou a morte em 2010. Os demais continuam fazendo exames que verificam os sinais vitais. “Levando em conta que sofrem de uma doença crônica, seria natural um agravamento progressivo da falta de ar, mas é interessante observar que a doença parece ter se estabilizado e todos os pacientes diminuíram o uso de oxigênio por cateter nasal”, avalia o professor.

A equipe levanta a hipótese de que o tratamento possa ter eficácia maior em pacientes mais jovens e em estágio menos avançados da doença. Por isso, a próxima etapa de pesquisa em análise pelo Conep deve recrutar voluntários com enfisema pulmonar em estágio inicial, ex-fumantes há pelo menos seis meses e com menos de cinquenta anos de idade.

Pioneirismo

Em maio, uma pesquisa do Centro de Medicina Regenerativa do Hospital de Brigham, afiliado à Universidade Harvard, ganhou repercussão ao detectar em ratos células-tronco existentes no próprio pulmão. No estudo americano, que ainda não tem previsão de experiências em humanos, as cobaias receberam doses dessas células multiplicadas em laboratório. Os resultados indicaram a regeneração de tecidos.

Para Ribeiro Paes, embora a comunidade científica mundial aposte nas células-tronco como opção terapêutica para o enfisema, ainda há poucos estudos em curso. “A nossa pesquisa é a primeira a ser aplicada em humanos. Por isso, sempre dizemos às pessoas que nos procuram em busca de tratamentos milagrosos que há um longo caminho até que um estudo como esse chegue aos hospitais”, afirma o professor, que enfatiza: “os resultados são animadores, mas ainda temos muito mais dúvidas do que certezas.”

Da veia aos pulmões

As células-tronco foram extraídas da medula óssea dos pacientes por meio de uma punção na crista ilíaca, um osso localizado na região da bacia. Os cerca de 200 ml de líquido da medula retirados passaram por uma centrifugação com uma substância chamada Ficoll. Ela permite a formação de um gradiente, ou seja, a solução apresenta diferentes fases.

Isso possibilitou isolar a parte em que estão as células-tronco. Essa solução é, então, diluída em cerca de 20 ml de soro fisiológico, numa concentração de cerca de 10 milhões de células por mililitro.

A solução é injetada na veia periférica, chega ao coração, que a bombeia para o resto do corpo, passando primeiro pelo pulmão. Por ser o segundo a receber o produto, e pelas características do tecido pulmonar, o órgão retém quase todo o conteúdo injetado. 

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