O VISIONÁRIO DO GENOMA

01 de outubro de 2011



Church prevê que doenças serão identificadas no nascimento.

Primeiro cientista a sequenciar um código genético humano, o professor de Harvard George Church crê que as evoluções científicas nesta área ainda podem levar os indivíduos a viver “120, 150 anos”. Cerca de três décadas atrás, Church estava entre a meia dúzia de pesquisadores que sonhavam em sequenciar um genoma humano inteiro – cada A, C, G e T que nos torna únicos.

Seu laboratório foi o primeiro a criar uma máquina para desmembrar esse código, e desde então ele tem se dedicado a melhorá-la. Uma vez decodificado o primeiro genoma, o professor tem pressionado pela ideia de que é preciso ir adiante e sequenciar o genoma de todas as pessoas. Críticos apontaram a astronômica cifra que o custo de sequenciar o primeiro DNA alcançou: US$ 3 bilhões. Como resposta, Church construiu outra máquina.

O valor agora é de US$ 5 mil por genoma, e o professor crê que muito em breve esse valor cairá para uma fração, ou décimo ou vigésimo disto – mais ou menos o valor de um exame de sangue. Sequenciar o DNA humano de forma rotineira abrirá uma série de possibilidades, afirmou George Church à rede BBC. Uma vez que “ler” um genoma se torne um processo corriqueiro, o professor de Harvard quer partir para “editá-lo”, “escrever” sobre ele.
Doenças poderão ser identificadas no nascimento.

Ele vislumbra o dia em que um aparelho implantado no corpo seja capaz de identificar as primeiras mutações que possam levar a um potencial tumor, ou os genes de uma bactéria invasora. Nesse caso, será possível tratá-los com uma simples pílula de antibiótico destinado a combater o invasor. Doenças genéticas serão identificadas no nascimento, ou possivelmente até na gestação, e vírus microscópicos, pré-programados poderão ser enviados para o interior das células para corrigir o problema.

Para fins científicos, Church tem defendido a polêmica ideia de disponibilizar sequências de genomas publicamente, para que cientistas tenham oportunidade de estudá-las. Church já postou na rede a sua própria sequência de DNA, além de outras 10. O objetivo é chegar a 100 mil.

– Sempre houve uma atitude (em relação à genética) de que você nasce com seu ‘destino’ genético e se acostuma com ele. Agora a atitude é: a genética é, na verdade, um conjunto de transformações ambientais que você pode empreender no seu destino – acredita Church.

Entretanto, nem todos compartilham o entusiasmo de Church e sua visão de futuro para os usos e efeitos da biologia sintética.

– É preciso ter a imaginação de George e a sua visão se quiser fazer progresso. Mas é tolice pensar que ele fará tudo o que crê – opina o diretor do departamento de Lei, Bioética e Direitos Humanos da Universidade de Boston, George Annas.

– Há uma chance estatística de ser atropelado por um caminhão que dificultará chegar aos 150 anos – diz Chad Nussbaum, co-diretor do Programa de Sequenciamento de Genomas e Análises do Instituto Broad de Harvard e do MIT, um instituto do qual Church é associado, afirmando que “é maravilhosamente inocente pensar que tudo que precisamos é aprender tudo sobre a genética, e viveremos 150 anos”.

Apesar das ressalvas, Nussbaum afirma que admira a visão do professor Church, assim como sua genialidade.

– É muito importante pensar grande e tentar fazer coisas malucas – acredita, dizendo que “se você não tentar alcançar o impossível, nunca fará as coisas que são quase impossíveis”. 

Nenhum comentário: