TROQUE O CIGARRO POR SAÚDE.

16 de julho de 2011

Para largar o vício, é preciso entendê-lo – e saber que é possível parar de fumar sem engordar.


Não há dúvidas que largar o cigarro traz benefícios para a vida de qualquer fumante. Mas essa mudança de postura – que exige muita força de vontade e persistência –, também pressupõe a modificação de hábitos e de estilo de vida. O momento é delicado, sobretudo por tratar de uma dependência que vai além da física: ela também é psicológica. Não é raro, também, que quem trava essa batalha por uma vida mais saudável deva se esforçar ainda mais para não ver o ponteiro da balança acusar vários quilos extras.

Estatísticas apontam que fumantes costumam morrer mais cedo – e também mais magros. Uma recente pesquisa, publicada na revista Science e desenvolvida por universidades americanas, destaca a relação entre fumo e peso, uma incógnita para a maior parte dos médicos até então. A nicotina realmente diminui o apetite, e isso acontece por meio da ativação de um conjunto específico de circuitos nervosos centrais, conhecidos como receptores de melanocortina do hipotálamo. Fumar não implica ficar magro, mas muitas pessoas dizem que não param de fumar por medo de ganhar peso. O desafio é ajudar as pessoas a manterem a silhueta após largar o cigarro e, eventualmente, ajudar os não fumantes que lutam contra a obesidade – afirma Marina Picciotto, da Escola de Medicina da Universidade de Yale, uma das realizadoras do estudo, coordenado por cientistas dos Estados Unidos e do Canadá e publicado na renomada revista.Um dos graves entraves para romper o ciclo do vício é que, para a maioria das pessoas, isso significa engordar. Quem para de fumar por conta própria, sem acompanhamento médico, engorda de 10 a 15 quilos, em média – afirma a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).


Para as mulheres, a ideia de ver o ponteiro da balança subir aterroriza ainda mais.

Fumei durante 50 anos. Quando pensava em parar de fumar dois obstáculos me impediam: o vício e o medo de engordar. Uma vez, tentei parar de fumar e engordei mais de cinco quilos e acabei voltando ao vício. Em 2010, minha condição era tão problemática que não tinha saída: era o cigarro ou eu. Só com exercícios e mudança de hábitos consegui me livrar do cigarro e manter o peso – afirma Djacy Serra, 69 anos.Os médicos são unânimes em afirmar que, para otimizar os resultados na abordagem do tabagismo, sobretudo nas mulheres, devem ser acrescentadas orientações dietéticas específicas e valorizar a necessidade de incorporar a atividade física durante a abordagem. A administração de medicamentos para tratar a abstinência, como o antidepressivo bupropiona, podem minimizar o ganho de peso, diminuindo o apetite. Os princípios básicos que apoiam o tratamento antitabagismo são muito similares aos do tratamento do emagrecimento. O exercício físico, essencial para o controle do peso, contribui positivamente para o indivíduo parar de fumar. Além disso, quem é ativo fisicamente tem menos chances de recaídas que indivíduos sedentários – afirma a nutróloga Mariela de Oliveira Silveira.Jaqueline Scholz Issa, chefe do ambulatório de tabagismo do Incor, afirma que é verdade que a nicotina aumenta a queima de gordura. Mas a perda calórica provocada pela substância não justifica o fato de que as mulheres engordem tanto ao parar de fumar. Se fosse assim, os homens que abandonam o tabagismo também ganhariam muitos quilos. Não é o que acontece: dados do instituto revelam que os homens, ao deixar o cigarro, não sofrem alterações de peso tão significativas. As ex-fumantes engordam porque, na verdade, tendem a substituir a falta do cigarro por comida, e a substituição é mais frequente porque as crises de abstinência costumam ser mais intensas que a do sexo oposto. A suspeita é que isso ocorre por causa das violentas alterações hormonais que regem o organismo delas.É natural, também, que ao deixar o hábito, ex-fumantes retomem o paladar mais aguçado. Logo, ficam mais propensos a saborearem uma quantidade maior de alimentos.


Uma questão que vai muito além da vaidade

Pegue uma caderneta e um lápis e faça a conta de quanto você gasta, por mês, com produtos para beleza, como cremes, xampus, salões de beleza e ginástica. Sometudo e pare para pensar que todos estes investimentos perdem quase toda a sua eficácia por conta do cigarro. Um cálculo simples e revelador.O tabagismo também faz crescer números bem menos agradáveis dos que o da balança: ele está associado a um aumento de 50% a 70% no risco de doenças cardiovasculares. Porém, a notícia boa é que, após poucos meses sem acender um cigarro, a probabilidade de desenvolver uma série de doenças diminui consideravelmente.Uma pesquisa recente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que não apenas os cânceres de pulmão, pescoço e cabeça estão correlacionados com o tabagismo. Vários outros, como o de bexiga, por exemplo, surgem no caminho que as substâncias tóxicas do cigarro percorrem no corpo humano. Na lista, também estão os tumores de mama, de intestino e até de colo de útero.


Conheça o novo método de tratamento.

> Chamado de Programa de Assistência ao Fumante (PAF) e desenvolvido pelo Incor, o modelo envolve três etapas: um diagnóstico mais preciso do grau de dependência, uma combinação de medicamentos e o uso de uma escala em que o médico vai tratando o desconforto causado pela abstinência do cigarro.> A taxa de eficácia do programa, em um ano, é de 55% (contra 34% de eficácia antes do seu advento, há cinco anos). Os índices de desistência e de recaída caíram de 40% para 26%. Os dados coletados no estudo, com 400 pacientes, serviram para a criação de um software, que poderá ser acessado via internet por médicos de todo o país.> O programa permitirá que seja avaliado com maior precisão o grau de dependência do tabaco, levando em conta não só o número de cigarros fumados, mas também as emoções (prazer, ansiedade, tristeza) associadas a ele.> O tratamento vai sendo ajustado de acordo como grau de desconforto, e é totalmente individualizado.


Como largar de vez o vício?

Contar com a orientação de um médico é essencial para quem não consegue largar o vício de jeito nenhum. Cardiologistas, nutricionistas, psicólogos e demais profissionais podem ser grandes aliados nesse momento.Porém, a grande virada só ocorrerá quando você estiver aberto a essa mudança. Só consegui parar de vez após três tentativas frustradas. Fumava três carteiras por dia. Há quem consiga sozinho, mas eu só consegui quando procurei ajuda. Se eu não tivesse essa atitude há 10 anos, já estaria morto – afirma o empresário Walter do Prado Franco Sobrinho, morador de Aracaju.Walter veio atrás de um tratamento gaúcho, aplicado no Kurotel, em Gramado. É normal que 60% das pessoas abandonem o vício no médio prazo, ou seja, seis meses após o início do tratamento. O cigarro tem três dependências a serem avaliadas: a física, a emocional e a comportamental. Física são as 4.720 substâncias tóxicas que o organismo precisa eliminar. Emocional porque o hábito preenche um vazio emocional, e comportamental porque fumar se torna um hábito, condicionando o comportamento do fumante ao uso do cigarro – afirma o psicólogo Michael Zanchet.O tratamento moderno para este tipo de dependência analisa o paciente de forma completa, definindo objetivos claros e estabelecendo as melhores estratégias para alcançá-los, diminuindo, ainda, as recaídas.Quando alguém deixa de fumar o organismo precisa eliminar 4.720 substâncias tóxicas.



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