OBESIDADE,REVOLUÇÃO NO ESTÔMAGO E NA MENTE

09 de julho de 2011
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Nunca se falou tanto em cirurgia bariátrica, uma das formas mais eficazes de combate à obesidade, que exige, antes de tudo, uma séria transformação psicológica.

Apesar de os relatos de pacientes que passaram com sucesso pela cirurgia da obesidade se aproximarem de contos de fada, o método está longe de ser uma mágica. Há muita luta, dor e sofrimento envolvidos no processo de emagrecimento proporcionado por uma intervenção de grande porte. O número de candidatos é grande. No Brasil, a cada oito minutos, uma pessoa se submete à ferramenta de modificação corporal. Desses, um em cada 300 morrem. Os motivos vão desde a má cicatrização a complicações clínicas ou cirúrgicas.

Com a provável redução do uso de medicamentos para emagrecer – devido à recente proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em banir os medicamentos à base de sibutramina, os mais populares no mercado do emagrecimento –, a tendência é que a única saída para quem tem obesidade e não consegue resolver o problema de outras formas seja a cirurgia bariátrica. Hoje indicada para pacientes com IMC (índice de massa corporal) acima de 30 e doenças associadas, como diabetes e hipertensão, o procedimento está em estudo nos EUA, na Itália e Espanha, que querem reduzir o limite mínimo de IMC para a indicação da operação.

O cirurgião Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, está coordenando uma pesquisa no Hospital Oswaldo Cruz sobre a eficácia da operação em pessoas com IMC entre 30 e 35 com o financiamento do Ministério da Saúde.

Foram recrutados 105 voluntários, que serão operados dentro de semanas. Para Cohen, o procedimento é mais seguro do que os medicamentos. A previsão é que, somente em 2011, sejam feitas mais de 70 mil reduções de estômago no país.

É uma ótima opção para tratar de uma doença séria. Não é uma alternativa unicamente estética. O índice de mortalidade não é desprezível – avalia o chefe do Núcleo de Cirurgia Metabólica e Bariátrica do Hospital Moinhos de Vento, Artur Pacheco Seabra.

Há, é claro, a vertente de médicos que não concordam com a indicação do procedimento em casos que não sejam extremos. Segundo Eduardo Mutarelli, neurologista do Hospital Síro-Libanês, estudos recentes mostram que 16% das pessoas que passam pela redução sofrem alguma alteração neurológica, como perda de memória e confusão mental, entre outras complicações físicas e psíquicas.

A forma mais eficaz de se evitar percalços é seguir as especificações da Organização Mundial da Saúde (OMS) – que indica acompanhamento nutricional, clínico e psicólogo. Especialista em obesidade, a psicóloga bariátrica Débora Gleiser afirma que além dos riscos relacionados ao bisturi, ainda há a possibilidade emocional de pôr tudo a perder.

É uma mudança brusca de vida, onde a comida não pode mais ser usada como calmante – argumenta Débora, do Grupo de Estudos das Cirurgias da Obesidade e Metabólica (Gecom).

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica no Rio Grande do Sul, Gabriel Vargas, destaca que, apesar dos riscos, a mortalidade de doenças relacionadas à obesidade é 40% maior em não operados do que naqueles que se submeteram à técnica.

Isto mostra que, apesar dos riscos, a cirurgia é muito mais segura do que tentar tratar uma doença tão complexa como a obesidade de outras formas – afirma o cirurgião.

Alívio e arrependimento.

Qualidade de vida. De olho nessa perspectiva, o empresário Mauro Kappel, 41 anos, procurou ajuda para ser operado, no ano de 2007. Apesar de todo o sofrimento pós-cirúrgico, sentiu-se aliviado. Enfim, conseguiu dormir sem um aparelho para apnéia do sono. A animação de Mauro inspirou sua mulher, Veronica Macedo de Oliveira Kappel, 39 anos. Apesar de temer a técnica, ela pesou os benefícios, encarou a “faca” e mandou 56 quilos embora.

Ficar magro é muito bom. Mas na hora que a gente acorda da cirurgia, bate um arrependimento, pois você continua gordo – diz ela.

Alegres por terem conseguido manter os resultados, o casal comemora. Nem todos conseguem. Cerca de 5% dos casos abandonam os cuidados e voltam a engordar. O chefe da equipe de cirurgia bariátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Luiz Carlos De Carli, lista cinco elementos essenciais para evitar o reganho de peso:

São os 5 Cs: convicção de que quer e vai conseguir, consciência do que o ato representa, confiança na equipe, comprometimento de não pular nenhuma etapa e comparecer a todas as consultas e controle sobre si próprio a se manter magro.

A loucura de quem engorda para ser operado.


Não há cirurgia que emagreça a cabeça. Parte-se dessa premissa para desencorajar quem se aventura a encarar uma cirurgia só para ter alguns dias de magreza. Há quem faça loucuras. Uma das artimanhas mais condenáveis e também mais comuns, são aqueles obesos que não se encaixam nas condições cirúrgicas engordarem para aumentar o IMC. Com Catarina Barreto, 34 anos, foi assim. Nunca se conformou com os quilos extras distribuídos nos seus 1,74 metro de altura. Cogitou a cirurgia. Foram meses engordando para se encaixar no índice corporal previsto pela OMS. Na hora da pesagem na endocrinologista, chegava a se encolher para que sua altura parece menor e conseguisse o laudo. Nos últimos exames pré-cirúrgicos, porém, voltou atrás.

Pensei: do que adiantaria eu ser operada se sei que não deixaria de comer. Eu seria como tantos que eu conheço, que engordam tudo outra vez – diz, aliviada de não seguir adiante com o plano.

A partir do episódio, a postura de Catarina mudou. Entendeu que eram as próprias compulsões que a deformaram e que somente com esforço poderia reverter a situação. Voltou a se maquiar e a visitar salões de beleza. Matriculou-se em uma academia de ginástica. Uma hora de exercícios por dia fez com que enxugasse sete quilos em dois meses.

Minha maior felicidade foi poder comprar um jeans. Sonhava em me ver vestida com um e não precisar mais mandar fazer as roupas.

O pensamento de Catarina a salvou de uma furada. De acordo com Artur Seabra, pessoas compulsivas têm chances reduzidas de sucesso.

A compulsão alimentar deve ser contornada antes da cirurgia. Caso contrário, a pessoa volta a descontar tudo na comida e tem mais chances de desenvolver outros transtornos mais graves.

3 comentários:

Juliana disse...

Este blog ainda é ativo?

André Ponce da Silva disse...

Sim Juliana. continua ativo...

Anônimo disse...

Gostaria de saber em relação à Esclerose. Se há alguma interferência entre a cirurgia e a esclerose.